OS RISCOS GERADOS PELA CRISE DA COVID19 NA PUPULAÇÃO NEGRA
A crise do Coronavírus desnudou
definitivamente a enorme desigualdade social e econômica entre brancos e negros
em todo o mundo. Um dos principais problemas que atinge diretamente a precisão
dos limites da pandemia é a informação. São as graves as inconsistências nos
indicadores que são divulgados. Apesar da precária precisão dos registros
administrativos e da sistematização e disponibilização dos dados apresentados
pelos governos, a alta morbidade de população negra ocasionada pela pandemia
mostra que o cenário pandêmico apresenta de forma precisa a enorme desigualdade
entre essas duas populações.
Os tópicos que justificam esses
indicadores são apresentados em diversos estudos, que comprovam a maior
letalidade para a população negra, que submetida a maior vulnerabilidade social
que a população branca, assiste no cotidiano um cenário assustador e devastador
de sofrimento e morte.
Existem outros vetores sociais que
acentuam a letalidade da população negra, sendo que um dos principais é habitar
as zonas periféricas e marginalizadas das metrópoles, onde a entrega de
equipamentos de saúde como hospitais bem aparelhados praticamente inexiste. A
população negra geralmente é atendida em postos de base comunitária, sem a
infraestrutura hospitalar adequada no que tange a equipamentos e com a falta de
profissionais de saúde como médicos, técnicos e enfermagem, que são necessários
para um bom atendimento.
Outro fator que contribui de
sobremaneira para a elevação da letalidade são as condições sanitárias e
habitacionais onde a população negra se concentra. Habitações pouco arejadas,
com muitas pessoas vivendo em espaços exíguos promovem a propagação da doença
com mais facilidade.
A ausência de saneamento básico
nessas comunidades aumenta exponencialmente o risco de contágio. Água potável e
esgotamento sanitário canalizado são fatores preponderantes para evitar o
aumento da contaminação, pois, está provado que o Coronavírus também está
presente nos dejetos sanitários.
Os indicadores demonstram que a
diferença entre classes sociais é determinante para definir que vai viver ou
morrer. Outro ponto de inflexão fundamental é o acesso à medicina privada, que
para se estabelecer, promoveu o sucateamento da saúde pública.
As condições prioritárias para que
haja maior proteção para a população foi amplamente divulgada pela Organização
Mundial da Saúde – OMS, e entre as prescrições está a alimentação saudável, a
prática diária de exercícios e o consumo de cultura e lazer.
A população negra possui prevalência em doenças como a hipertensão e diabetes, que necessitam ser rigorosamente controladas para que o risco de contágio e morte seja reduzido. Como oferecer esses parâmetros fundamentais se o povo negro vive em constante estresse devido à tensão permanente da violência das periferias, da ameaça da fome pela impossibilidade de trabalho e das toscas condições habitacionais. Impossível viver sem estresse, onde portanto, a porta para a morte permanecerá constante mente aberta.
Os negros e negras, em sua grande
maioria, trabalham no mercado informal, em serviços domésticos, onde a oferta
de planos de saúde praticamente inexistem. Portanto, por estar submetido a
desigualdade social promovida pelo neoliberalismo, o povo negro se submete mais
uma vez ao desterro histórico, à injusta condenação pelo fato de ter nascido em
um contingente étnico que é descartado pelos estados nacionais da diáspora.
Porém, apesar de tudo, esses riscos
podem ser minimizados. O grande risco, o risco maior é o próprio estado, que
aponta a lança da ‘necropolítica’ para a população negra, ao negar a letalidade
da pandemia e promover ameaças diuturnas para que as escolas reabram e voltem
às aulas com suas atividades presenciais cotidianas.
A obrigatoriedade do retorno às
atividades escolares presenciais criará uma enorme legião de crianças assintomáticas
disseminando o contágio nos transportes coletivos e nos idosos em suas
residências. A OMS emitiu documento afirmando que os seres humanos
assintomáticos podem propagar o vírus, assim como as pessoas que desenvolvem os
sintomas da doença.
No embate entre a economia
capitalista e a possibilidade da morte o mercado financeiro venceu e estamos
assistindo a um circo de horrores com o fim do isolamento social em plena
pandemia e ali estão as pessoas negras em sua grande maioria. A necessidade de
alimentar a família leva o trabalhador negro formal e informal viajar em
transportes coletivos lotados e ao contato com outras pessoas que não se sabe
se contaminadas ou não.
A burguesia está trabalhando em home
office, segura na proteção do lar, enquanto que o povo negro vive em constante
assombro de perder sua vida de um momento para o outro.
Michael Foucault em seu livro ‘Vigiar
e Punir’ discorre sobre o poder não como uma propriedade mas como um conjunto
manobras, táticas e funcionamentos de estratégias o ambiente do que determinou
chamar de Biopolítica, que Achile Mbembe pesquisou para que pudesse estabelecer
conjugando com os estudos de Giorgio Agamben e Anna Harendt no que batizou de
Necropolítica, ou seja, a capacidade de
letalidade que o estado desenvolve contra as populações negras.
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