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quinta-feira, 22 de abril de 2021

VIDAS NEGRAS IMPORTAM

 

OS RISCOS GERADOS PELA CRISE DA COVID19 NA PUPULAÇÃO NEGRA


A crise do Coronavírus desnudou definitivamente a enorme desigualdade social e econômica entre brancos e negros em todo o mundo. Um dos principais problemas que atinge diretamente a precisão dos limites da pandemia é a informação. São as graves as inconsistências nos indicadores que são divulgados. Apesar da precária precisão dos registros administrativos e da sistematização e disponibilização dos dados apresentados pelos governos, a alta morbidade de população negra ocasionada pela pandemia mostra que o cenário pandêmico apresenta de forma precisa a enorme desigualdade entre essas duas populações.

Os tópicos que justificam esses indicadores são apresentados em diversos estudos, que comprovam a maior letalidade para a população negra, que submetida a maior vulnerabilidade social que a população branca, assiste no cotidiano um cenário assustador e devastador de sofrimento e morte.

Existem outros vetores sociais que acentuam a letalidade da população negra, sendo que um dos principais é habitar as zonas periféricas e marginalizadas das metrópoles, onde a entrega de equipamentos de saúde como hospitais bem aparelhados praticamente inexiste. A população negra geralmente é atendida em postos de base comunitária, sem a infraestrutura hospitalar adequada no que tange a equipamentos e com a falta de profissionais de saúde como médicos, técnicos e enfermagem, que são necessários para um bom atendimento.

Outro fator que contribui de sobremaneira para a elevação da letalidade são as condições sanitárias e habitacionais onde a população negra se concentra. Habitações pouco arejadas, com muitas pessoas vivendo em espaços exíguos promovem a propagação da doença com mais facilidade.

A ausência de saneamento básico nessas comunidades aumenta exponencialmente o risco de contágio. Água potável e esgotamento sanitário canalizado são fatores preponderantes para evitar o aumento da contaminação, pois, está provado que o Coronavírus também está presente nos dejetos sanitários.

Os indicadores demonstram que a diferença entre classes sociais é determinante para definir que vai viver ou morrer. Outro ponto de inflexão fundamental é o acesso à medicina privada, que para se estabelecer, promoveu o sucateamento da saúde pública.

As condições prioritárias para que haja maior proteção para a população foi amplamente divulgada pela Organização Mundial da Saúde – OMS, e entre as prescrições está a alimentação saudável, a prática diária de exercícios e o consumo de cultura e lazer.

A população negra possui prevalência em doenças como a hipertensão e diabetes, que necessitam ser rigorosamente controladas para que o risco de contágio e morte seja reduzido. Como oferecer esses parâmetros fundamentais se o povo negro vive em constante estresse devido à tensão permanente da violência das periferias, da ameaça da fome pela impossibilidade de trabalho e das toscas condições habitacionais. Impossível viver sem estresse, onde portanto, a porta para a morte permanecerá constante mente aberta. 

Os negros e negras, em sua grande maioria, trabalham no mercado informal, em serviços domésticos, onde a oferta de planos de saúde praticamente inexistem. Portanto, por estar submetido a desigualdade social promovida pelo neoliberalismo, o povo negro se submete mais uma vez ao desterro histórico, à injusta condenação pelo fato de ter nascido em um contingente étnico que é descartado pelos estados nacionais da diáspora.

Porém, apesar de tudo, esses riscos podem ser minimizados. O grande risco, o risco maior é o próprio estado, que aponta a lança da ‘necropolítica’ para a população negra, ao negar a letalidade da pandemia e promover ameaças diuturnas para que as escolas reabram e voltem às aulas com suas atividades presenciais cotidianas.

A obrigatoriedade do retorno às atividades escolares presenciais criará uma enorme legião de crianças assintomáticas disseminando o contágio nos transportes coletivos e nos idosos em suas residências. A OMS emitiu documento afirmando que os seres humanos assintomáticos podem propagar o vírus, assim como as pessoas que desenvolvem os sintomas da doença.

No embate entre a economia capitalista e a possibilidade da morte o mercado financeiro venceu e estamos assistindo a um circo de horrores com o fim do isolamento social em plena pandemia e ali estão as pessoas negras em sua grande maioria. A necessidade de alimentar a família leva o trabalhador negro formal e informal viajar em transportes coletivos lotados e ao contato com outras pessoas que não se sabe se contaminadas ou não.

A burguesia está trabalhando em home office, segura na proteção do lar, enquanto que o povo negro vive em constante assombro de perder sua vida de um momento para o outro.

Michael Foucault em seu livro ‘Vigiar e Punir’ discorre sobre o poder não como uma propriedade mas como um conjunto manobras, táticas e funcionamentos de estratégias o ambiente do que determinou chamar de Biopolítica, que Achile Mbembe pesquisou para que pudesse estabelecer conjugando com os estudos de Giorgio Agamben e Anna Harendt no que batizou de Necropolítica, ou seja,  a capacidade de letalidade que o estado desenvolve contra as populações negras.

 

 

 

 

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