TEMPO DE OUTONO
Teu cheiro invade minha alma
como o frescor de outono
Cores intensas, densas e
tensas é o graal da estação
Frágil, pobre e insano coração
brasileiro...
Tropical, lona rota, silencioso
picadeiro
O amor passa na vida como
um circo surreal
O palhaço chora as dores
da plateia no final
Foucault, Freud e Lacan
sangram o respeitável público
Entregando à tua praia
seixos vindos do passado
Silenciosos e carentes em
presente obscuro
Com os seixos construímos
paredões em nossa alma
Formamos enormes diques
que represam nossos desejos
Me afago com bourbon em estranhas
noites frias
Beijo bocas diferentes e
indiferentes bar em bar
Me embriago e sigo triste
em minha dor e solidão
Ouço ao longe o vazio da
existência na canção
Sou embriagado e tomado pelas
luzes da cidade
Que iluminam o neon da
algoz e dura realidade
Cidade cor de neon é
prazer tempo de outono
Sob um manto de obsessões
quando tudo era carmim
E o brilho que se perdeu no
olhar não se percebe
Que o deus que me habita é
meio grávido de ti
É tanta hipocrisia que rola
no picadeiro
Que o palhaço dobra a
lona e envergonhado devolve o dinheiro
Pensando que cairia muito
bem um bom licor
É fastio de amor é estio
de torpor
No meio do vale da vida encontrei
a arca perdida
Nas encostas de um monte onde
está o deus amor
Meu sonho de vida, meu farol,
meu guia na noite escura
Desviando dos rochedos,
da terrível criatura
Fico a navegar desviando
dos meus medos
As delícias, hedonismos, doces
ilhas de pecado
Se jogar de peito aberto sem
ter coração fechado
Patuás e cicatrizes nos
protegem de emoções
Natureza, cio dos deuses,
gloriosa criação
Essa lua fica estranha quando
a gente ama calado
O meu corpo arde em chamas
quando me chamas pro teu lado
Te obedeço mas você busca
outras terras, mundos distantes
Sou as cinzas de um
vulcão que morreu jorrando amor
Destruindo as cidades no
caminho que corria
Numa trilha nua e crua chamada
melancolia
Me entrego à lua branca
ao prazer da tua lembrança
Ilusão por ter perdido o
amor de eternidade
Esperando a vela branca
que não vem no horizonte
Trazendo as gaivotas e o amor
de uma saudade
E assim se foi presente é
passado sem futuro
É o êxodo do afeto novamente
erguendo muros
Prometi um carnaval, de
paixão, sol e folia
Mas a perda de calor incinerou
a fantasia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário