Postagem em destaque

Eu Negro

quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

TEMPO DE OUTONO

 

Teu cheiro invade minha alma como o frescor de outono

Cores intensas, densas e tensas é o graal da estação

Frágil, pobre e insano coração brasileiro...

Tropical, lona rota, silencioso picadeiro

O amor passa na vida como um circo surreal

O palhaço chora as dores da plateia no final

Foucault, Freud e Lacan sangram o respeitável público

Entregando à tua praia seixos vindos do passado

Silenciosos e carentes em presente obscuro

Com os seixos construímos paredões em nossa alma

Formamos enormes diques que represam nossos desejos

Me afago com bourbon em estranhas noites frias

Beijo bocas diferentes e indiferentes bar em bar

Me embriago e sigo triste em minha dor e solidão

Ouço ao longe o vazio da existência na canção

Sou embriagado e tomado pelas luzes da cidade

Que iluminam o neon da algoz e dura realidade

Cidade cor de neon é prazer tempo de outono

Sob um manto de obsessões quando tudo era carmim

 

E o brilho que se perdeu no olhar não se percebe

Que o deus que me habita é meio grávido de ti

É tanta hipocrisia que rola no picadeiro

Que o palhaço dobra a lona e envergonhado devolve o dinheiro

Pensando que cairia muito bem um bom licor

É fastio de amor é estio de torpor

No meio do vale da vida encontrei a arca perdida

Nas encostas de um monte onde está o deus amor

 

Meu sonho de vida, meu farol, meu guia na noite escura

Desviando dos rochedos, da terrível criatura

Fico a navegar desviando dos meus medos

As delícias, hedonismos, doces ilhas de pecado

Se jogar de peito aberto sem ter coração fechado

Patuás e cicatrizes nos protegem de emoções

Natureza, cio dos deuses, gloriosa criação

Essa lua fica estranha quando a gente ama calado

O meu corpo arde em chamas quando me chamas pro teu lado

Te obedeço mas você busca outras terras, mundos distantes

Sou as cinzas de um vulcão que morreu jorrando amor

Destruindo as cidades no caminho que corria

Numa trilha nua e crua chamada melancolia

 

Me entrego à lua branca ao prazer da tua lembrança

Ilusão por ter perdido o amor de eternidade

Esperando a vela branca que não vem no horizonte

Trazendo as gaivotas e o amor de uma saudade

E assim se foi presente é passado sem futuro

É o êxodo do afeto novamente erguendo muros

Prometi um carnaval, de paixão, sol e folia

Mas a perda de calor incinerou a fantasia.

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário