Édipo Gritante
O que fazer quando ele vê na própria mulher
uma projeção de sua mãe?
Um casal recém
nupciado tem por obrigação de atentar para o excesso de influência de ambas famílias
no casamento ainda em fase de consolidação. Não podemos escolher as famílias
das quais somos oriundos, porém, devemos cuidar para que as interferências
excessivas construam um desagradável cavalo de tróia em nossas vidas enquanto
casal.
A
inexperiência e insegurança no início da construção do lar, nos leva a ser
submetidos às ditaduras de sogras, irmãs mais velhas, cunhados, primas, primos,
vizinhos e toda uma gama de “consultores matrimoniais”, que não desgrudam do
casal de uma maneira geral.
O
sentimento de pertencimento a uma família é muito importante para nós seres
humanos. Em um mundo cada vez mais excludente e egoísta, onde a solidariedade
passou a ser uma virtude e não um comportamento natural dos seres humanos, é na
família onde encontramos o aconchego e a proteção necessária para seguirmos em
frente na dura lida do cotidiano. Porém, Esse sentimento gregário e virtuoso, só
tem sentido e se torna gratificante quando os espaços de cada um são
respeitados, principalmente quando estamos mais fragilizados ou nos sentindo
inseguros em relação à vida, como é o caso do casamento em seus anos iniciais.
A
realidade é uma música que nos obriga a dançar, saibamos ou não. Ela nos mostra
que o lugar mais difícil para alcançarmos não é o topo do Monte Everest ou o
lugar mais profundo dos oceanos. A vida insiste em nos apontar e nós insistimos
em não lhe dar ouvidos, que o lugar mais difícil de nos colocarmos é o lugar do
outro.
Na intrigante
dialética entre o ‘certo e o errado’, a mulher geralmente é o elo mais
fragilizado da corrente. Sobre seus ombros recai a responsabilidade da garantia
de sucesso do casamento, da vida a dois, da garantia de um lar bem sucedido.
Por mais que a mulher se esforce no desempenho da ‘missão’, o patriarcado
jamais lhe dará trégua no em todo o seu decorrer.
Os homens
geralmente são criados pelas mulheres, por suas mães. Os pais estão sempre
envolvidos em ‘coisas de homem’, como boteco, futebol e fuçando as entranhas de
seus carros e motos. As mulheres com seu amor incomensurável, criam seus
meninos como verdadeiros príncipes e é assim que costumam chamá-los. Sempre
serão os mais lindos, mais fortes e mais inteligentes. Deverão encontrar um
mundo ameno e acolhedor e mais, uma mulher que satisfaça todos os seus desejos.
É assim que o meninão é entregue para o casamento, um ‘presente’ criado e cuidado
com todo o carinho desse mundo, que terá a missão de gerar netinhos e netinhas
para a preservação atávica do bom nome da família.
A mulher
sempre será vista com desconfiança. Ao ‘surrupiar’ o varão do lar aconchegante
e protetor que sempre teve. Algumas matriarcas consideram a decisão do casal de
morar em outra residência que não a dela como ‘apropriação indébita’ do seu
amado filho pela nora egoísta e dominadora.
Então a
mulher será responsável pela carga pesada de manter o casamento no rumo certo,
de acordo com as diretrizes da família de seu marido. Qualquer estremecimento
na relação com o marido será suficiente para que haja uma intensa mobilização
contra a usurpadora. As decisões do casal devem ser muito bem pensadas para que
a vida de casal não se trone um fardo difícil de carregar. Sabemos que não é
fácil a união de dois espíritos e corpos em uma construção onde as chances de
êxito são desconhecidas e sem garantia. Porém, o tempo de convívio anterior ao
matrimônio, apontou para uma razoável possibilidade de sucesso, que dependerá
do equilíbrio de um sistema delicadíssimo onde pesos e contrapesos emocionais
estarão interagindo sempre na direção das expectativas do casal. A realidade
nos mostra que os indicadores de sucesso nessa empreitada não é muito animador.
Poucos casais se mantêm juntos por mais de 15 anos de convívio.
O homem
sempre casa sabendo que terá para onde retornar caso o infortúnio da separação
recaia sobre ele. A casa materna sempre será seu porto seguro, que fortalecido
pelo Complexo de Édipo, não investirá pesadamente na manutenção do casamento,
deixando a parceira sempre insegura em relação ao futuro da união.
Em muitos
homens o édipo é tão arraigado que ele solicita que sua mulher e companheira
faça as demandas cotidianas exatamente como sua mãe fazia. A comida, o modo de
tratar a roupa, o trato com os amigos e coisas afins.
Na
tragédia de Sófocles, Laio Rei de Tebas consulta o Oráculo que lhe diz que
seria assassinado por seu próprio filho e que este se casaria com Jocasta, sua
esposa. Laio pega seu filho e o leva até uma densa floresta, onde prega seus
pés com pregos para que não conseguisse fugir. O menino porém foi encontrado
por um pastor de ovelhas que o salva e lhe dá o nome de Edipodos, ou
pés-furados. Édipo acaba adotado pelo rei de Corinto e ao consultar o Oráculo
recebe a mesma mensagem que seu pai. Pensando que assassinaria o rei de Corinto
Édipo foge e acaba se envolvendo em uma briga com vários negociantes e mata o
líder do grupo que vem a ser Laio, seu verdadeiro pai. Chegando a Tebas Édipo
decifra o enigma da esfinge e rebe como prêmio o trono da cidade e sua rainha
Jocasta em casamento. Anos depois descobrem a verdade e Jocasta se suicida
enquanto Édipo fura os próprios olhos como auto-castigo por não ter reconhecido
a própria mãe.
Assim continua
sendo nas relações contemporâneas. A mãe disposta ao sacrifício da própria vida
pelo filho enquanto ele fura seus olhos diante da responsabilidade de manter
seu casamento e proteger sua companheira. Geralmente para evitar a morte lenta por
desgosto da mãe, nosso Édipo moderno prefere dar fim ao casamento e retornar
para sua Tebas tropical.
Para
aumentar o caos de um casamento Jung nos brinda com o Complexo de Electra queé
a disputa do amor do pai pela filha contra a mãe. O mito baseia-se em Electra, filha
de Agamenon que tramou a morte de sua mãe Clitemnestra para vingar a morte do
pai pelo qual era apaixonada.
Voltando
ao casamento, nosso príncipe pode ser contaminado por este enorme labirinto
existencial que poderá devorá-lo rapidamente, levando-o de volta para sua
Jocasta.
Os sinais
de que ele necessita de outra mãe, que sua esposa deve assumir esse papel é
gritante e nosso Édipo não apaziguará a relação tensionada enquanto esses
acordos não forem levados a termo. A mulher às vezes necessitando de colo de
mãe terá que se tronar uma para aliviar as inseguranças do marido que agora já
se tronou seu filho também.
Olhos
furados para não encarar a situação e pés pregados para que não caminhe na
direção da emancipação emocional do lar materno e da atmosfera protetora e
acolhedora da mãe.
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