O ORGASMO DO AMOR TEM
COR E MORALIDADE
Recentemente
fiz uma pesquisa iconográfica sobre o orgasmo. O objetivo era conseguir uma
imagem que ilustrasse uma poesia sobre o tema. A grande surpresa foi que ao
iniciar a busca em bancos de imagens à procura de pessoas negras no momento do
orgasmo, fui surpreendido com a absoluta invisibilidade que os meios de
comunicação dedicam ao povo negro na questão da afetividade.
"Orgasmo"
‘Orgasmo Negro’
As imagens que surgiram no motor de
busca, referentes a orgasmo negro, além de humilhantes, são assombrosas,
profundamente ofensivas e degradantes, com imagens de sexo explícito, até com
ejaculação visível, entre mulheres negras e homens brancos e mulheres brancas
com homens negros. Enquanto no ‘orgasmo branco’ as mulheres são retratadas até
pudicamente ao atingir o clímax do ato sexual, com as mãos coprimindo os
lençóis e bocas em esgar, no ‘orgasmo negro’ as mulheres negras estão com as
pernas escancaradas com suas vulvas à mostra e em alguns casos, sendo
penetradas por pênis gigantes. Tudo ao vivo e em cores
Obvio que podemos notar uma enorme
diferença na forma de como os veículos de comunicação tratam a afetividade
entre as duas etnias. A provocada invisibilidade do povo negro no que concerne
à realização sexual, promovida pelos meios de mídia brancos, elimina o amor e o
afeto, transformando-a de simples plenitude sexual em aberrações imaginárias e
perversões hedonistas, extensivas às práticas do bondage.
O povo negro sempre lidou com a
sexualidade sob a égide do terror. O estupro sistemático e consentido pelas lei
do império português transformou o estupro em prática consentida pelo
judiciário e tolerada pelas esposas dos senhores de escravos. A obrigatoriedade
de procriar ao menos um filho a cada dois anos, sem família ou grupo de apoio,
transformou a mulher negra escrava em mera reprodutora, sempre pronta a atender
os desejos bestiais de seus senhores.
Os primeiros registros que se tem
notícia sobre a sodomia escrava remonta ao ano de 1593 na Capitania de
Pernambuco, onde o Visitador Oficial do Santo Ofício colheu durante 22 meses
depoimentos sobre o modo de vida e a moralidade na colônia portuguesa na
América.
Os desvios morais encaminhados pela
Santa Inquisição baseava-se no Catecismo Católico exarado pelo Concílio de
Trento, Nos Confessionais Medievais, Nas Epístolas Paulinas No Levítico e nas
Tábuas da Lei. Esse corolário de normas de comportamento era a baliza para a
moralidade judaico-cristã da época.
O Visitador do Santo Ofício Heitor
Furtado de Mendonça recolheu depoimentos com provas de 17 casos de sodomia na
Capitania de Pernambuco. Sua estada no Nordeste porém, se estendeu à Bahia onde
compreendeu que a vida nos trópicos seguia suas próprias leis e a moralidade
era bastante relativa.
Os quase 400 anos de estupro e
sevícias sobre as mulheres negras ainda ecoam em nossa sociedade. As
representações são desrespeitosas e apontam para a perpetuação desses atos
infames. Nossos adolescentes consultam esses motores de busca na Internet e
quando se interessam pela temática orgasmo é com esse quadro racista que se
deparam.
Precisamos construir uma sociedade
igualitária em todos os sentidos. Parece que a adoção do sistema de cotas
raciais nas instituições públicas de ensino resolveu o problema do racismo no
Brasil e isso não é verdade. As mulheres negras e homens negros exigem e devem
ser respeitados, não podendo ser submetidos a situações degradantes como essas
que constatei em minha busca.
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