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Eu Negro

domingo, 25 de abril de 2021

O ORGASMO É BRANCO?

 

O ORGASMO DO AMOR TEM COR E MORALIDADE

Recentemente fiz uma pesquisa iconográfica sobre o orgasmo. O objetivo era conseguir uma imagem que ilustrasse uma poesia sobre o tema. A grande surpresa foi que ao iniciar a busca em bancos de imagens à procura de pessoas negras no momento do orgasmo, fui surpreendido com a absoluta invisibilidade que os meios de comunicação dedicam ao povo negro na questão da afetividade.

"Orgasmo"


Dirigi a consulta para a expressão ‘orgasmo negro’ e o resultado foi este:

‘Orgasmo Negro’


As imagens que surgiram no motor de busca, referentes a orgasmo negro, além de humilhantes, são assombrosas, profundamente ofensivas e degradantes, com imagens de sexo explícito, até com ejaculação visível, entre mulheres negras e homens brancos e mulheres brancas com homens negros. Enquanto no ‘orgasmo branco’ as mulheres são retratadas até pudicamente ao atingir o clímax do ato sexual, com as mãos coprimindo os lençóis e bocas em esgar, no ‘orgasmo negro’ as mulheres negras estão com as pernas escancaradas com suas vulvas à mostra e em alguns casos, sendo penetradas por pênis gigantes. Tudo ao vivo e em cores

Obvio que podemos notar uma enorme diferença na forma de como os veículos de comunicação tratam a afetividade entre as duas etnias. A provocada invisibilidade do povo negro no que concerne à realização sexual, promovida pelos meios de mídia brancos, elimina o amor e o afeto, transformando-a de simples plenitude sexual em aberrações imaginárias e perversões hedonistas, extensivas às práticas do bondage.

O povo negro sempre lidou com a sexualidade sob a égide do terror. O estupro sistemático e consentido pelas lei do império português transformou o estupro em prática consentida pelo judiciário e tolerada pelas esposas dos senhores de escravos. A obrigatoriedade de procriar ao menos um filho a cada dois anos, sem família ou grupo de apoio, transformou a mulher negra escrava em mera reprodutora, sempre pronta a atender os desejos bestiais de seus senhores.

Os primeiros registros que se tem notícia sobre a sodomia escrava remonta ao ano de 1593 na Capitania de Pernambuco, onde o Visitador Oficial do Santo Ofício colheu durante 22 meses depoimentos sobre o modo de vida e a moralidade na colônia portuguesa na América.

Os desvios morais encaminhados pela Santa Inquisição baseava-se no Catecismo Católico exarado pelo Concílio de Trento, Nos Confessionais Medievais, Nas Epístolas Paulinas No Levítico e nas Tábuas da Lei. Esse corolário de normas de comportamento era a baliza para a moralidade judaico-cristã da época.

O Visitador do Santo Ofício Heitor Furtado de Mendonça recolheu depoimentos com provas de 17 casos de sodomia na Capitania de Pernambuco. Sua estada no Nordeste porém, se estendeu à Bahia onde compreendeu que a vida nos trópicos seguia suas próprias leis e a moralidade era bastante relativa.

Os quase 400 anos de estupro e sevícias sobre as mulheres negras ainda ecoam em nossa sociedade. As representações são desrespeitosas e apontam para a perpetuação desses atos infames. Nossos adolescentes consultam esses motores de busca na Internet e quando se interessam pela temática orgasmo é com esse quadro racista que se deparam.

Precisamos construir uma sociedade igualitária em todos os sentidos. Parece que a adoção do sistema de cotas raciais nas instituições públicas de ensino resolveu o problema do racismo no Brasil e isso não é verdade. As mulheres negras e homens negros exigem e devem ser respeitados, não podendo ser submetidos a situações degradantes como essas que constatei em minha busca.


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