Postagem em destaque

Eu Negro

segunda-feira, 19 de abril de 2021

BINÁRIOS

 



 

Vem aqui comigo meu igual tão diferente

Sou visitante curiosa no teu mundo

Eu tenho medo e estremeço quando a noite chega

Com a ansiedade de voar desnuda sobre teus vales profundos

Geledés alada em êxtase sequiosa do teu amor

Carregamos o estigma da dialética da cor

Seres binários que se buscam

Como Terra e Lua se atraem e se amam

 

Em minha doma, sempre acabo sendo tua

O mundo nos censura com o dedo acusador

Nos enfraquece perante o fado que será destino

De cruzar um oceano navegando em tanta dor

Tubarões aguardam o salto dos corpos no escuro

Pérfida travessia dos homens

Há tanto esquecida por Deus

Tanta terra que ficou para trás

 

O aço frio da proa corta a água entre lamentos

O destino final é o território da desesperança

Sonhos mortos ao luar na praia deserta

Percorro tua saga mapeada em tuas cicatrizes

Elas me contam que seus deuses entristeceram

Deixaram de correr pelas savanas

Amor, consumo vão!

Sofrimentos que vêm e vão!

Vejo a porta entreaberta e observo pelo vão!

Onde todos vão celebrar!

 

Prazer de morder, beber e sugar o licor das tuas fantasias

O mais puro suor negro, retinto, africano

Beijando tua boca desprovida de verdades

Cheirando o cheiro de homem sem alma

Cumprindo a sina de viver em recomeço

Sísifo existencial na metafísica do ser

Cada segundo me parece a eternidade

Aceitando a sina de amar sem receber amor

Viver o dia a dia de sorrisos infelizes

 

Bocas carentes cravam os dentes no pecado da cor

Trazem entre os dentes a dor do amor

Acorrentada em suspiros de amores falidos

A cada beijo te vejo mergulhar no fundo de minh’alma

A cada mágoa te revivo em chamas e convulsiva

Desfrutando de meu solitário prazer na ponta dos dedos

Bailarina do hedonismo digital

Tua silhueta surge brilhante a cada novo amanhecer

A névoa do tempo não consegue te esconder

Seres binários que se atraem e não se tocam

Como Terra e Lua se amando sempre assim.

Um comentário: