O pensamento colonial permeia a casa grande, que para o próprio
conforto psicológico procura manter o clima de senzala entre os que lhes prestam
serviços. O fosso social aumenta cada vez mais. Os mais pobres tornam-se cada vez
mais pobres e os mais ricos cada vez mais ricos.
Há uma enorme polêmica na Internet acerca da declaração de Nelson
Piquet, grande campeão da Fórmula 1 nos tempos heróicos, que chamou o multicampeão
inglês Lewis Hamilton de “neguinho”.
Fazendo uma leve comparação entre os dois campeões nas pistas,
Piquet come poeira de Lewis Hamilton, que possui o triplo de campeonatos do brasileiro.
Nelson Piquet traz em si péssimas referências no que tange ao seu labor profissional.
Suas fustigadas insidiosas sobre a sexualidade de Ayrton Senna ficaram famosas.
Nota-se que Piquet apesar de ter sido um grande campeão, nunca
digeriu o sucesso de Senna que lhe superou em muito, assim como o de Hamilton que
já superou até o mega campeão Michael Schumacher, que muitos alegavam ser imbatível.
Piquet traz em si o pior dos lados da elite burguesa. Filho da
família Sotto Mayor, dona do extinto Banco Nacional, passou a vida nas baladas de
bacanas, quando não estava nas pistas. Sua participação no esporte assemelha-se
ao personagem Dick Vigarista do desenho animado Corrida Maluca.
Piquet deveria usar a mesma ironia para se manifestar sobre o
banimento de seu filho mais velho da Fórmula 1 por atividade antidesportiva, um
eufemismo para caracterizar os pilotos que fraudulentos da categoria. Nelsinho Piquet,
como é conhecido, simulou um acidente no grande prêmio de Singapura em 2008, quando
foi pego em flagrante pela direção da prova, evento que lhe custou a carreira na
principal categoria do automobilismo, evento conhecido como Singapuragate.
Nelson Piquet sempre desfilou sua ironia misógina pelos padocks da Fórmula
1 e no noticiário mundial. Divertia-se ao apontar a feiúra da simpática esposa do piloto Nigel Mansell. Aqui no Brasil se agarrou com Fernando Collor e agora
dirige para Jair Bolsonaro em eventos públicos, inclusive foi o motorista do Rolls-Royce
na posse presidencial do primeiro. Sua decadência e ocaso, assim como a de Emerson
Fitipaldi, estão o levando a cometer sandices como o ato racista de chamar Lewis
Hamilton de “aquele neguinho”.
Os bolsonaristas de plantão passarão pano imediatamente, alegando
que é um tipo de tratamento usual aqui no Brasil e que pode até ser caracterizado
como uma expressão coloquial. Não é assim, esse tipo de tratamento traz embutido
em si o desprezo que a elite brasileira tem pela população negra. No caso de Hamilton,
o tiro sai pela culatra, pois consagrado Cavaleiro da Ordem do Império Britânico
pelo reinado de Elizabeth II, além de se um dos desportistas mais bem sucedido da
história, com 103 vitórias na Fórmula 1 em sete campeonatos conquistados contra
23 vitórias de Piquet em 3 campeonatos conquistados, um banho de pilotagem para
envergonhar qualquer um.
A vida pessoal do piloto inglês é um exemplo. Hamilton além de vegano, investe parte do que ganha como piloto em obras sociais e projetos de sustentabilidade. É uma referência mundial na luta contra a desigualdade e pela diversidade, é um cara do bem em todos os sentidos. Acostumamos a ver seu irmão que é especial nos padocks mundo afora, juntamente com sua família. Lewis é exatamente o oposto do que foi Piquet quando em atividade na F1. Arrogante, machista e individualista, o brasileiro possuía uma legião de detratores na categoria.
Mesmo com esses gigantescos diferenciais e Hamilton ser multimilionário,
o que Piquet não é e nunca será, o brasileiro se acha no direito de tratar o inglês
como “aquele neguinho”. Condenado publicamente pela Fórmula 1 e pela Mercedes, o que restou de holofotes para Piquet foi se transformar em motorista do Bolsonaro.
Infelizmente o Brasil mais uma vez é notícia internacional da pior maneira possível. Como se já não bastassem os sucessivos e vergonhosos escândalos como o assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira, a morte através de gás de um homem em Sergipe na caçamba de um carro da polícia, enfim, o ex piloto mostrou que existem dois brasis, o Brasil do luxo, tocado pelo povão que rala no dia a dia e o Brasil do lixo, vivido por uma elite cafona, mal educada e ignorante.
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