A música sertaneja (nem tinha esse nome, era música caipira) é um estilo que surgiu com outra poética. O universo de inspiração dos cantadores era totalmente diferente do que se canta hoje pelos midas da . Antes se cantava de coração, as duplas tinham seus estilos, cada qual com seu singelo mundo de fantasia, que é a verdadeira característica do sertanejo raiz
Quem gosta ou acompanha o verdadeiro sertanejo raiz sabe que o universo de inspiração dos compositores do gênero sempre foi infinito. Quando visitamos Tião Carreiro e Pardinho, Tonico e Tinoco, Pena Branca e Xavantinho, Palmeira e Biá, José Rico e Milionário, Sérgio Reis, entre tantos outros, podemos usufruir de repertório riquíssimo e emocionante. São verdadeiras óperas à céu aberto onde o sertanejo raiz descortina do seu próprio jeito a vida no grande sertão e nas veredas da vida. A caçada de espera e o medo do esturro da onça pintada, a pescaria nós rios e o medo da cobra grande, o amor do peão e da sinhazinha, o vaqueiro domador de cavalos, as festanças das comitivas que cruzavam os sertões trazendo para "sumpalo" gado selvagem cuiabano, a colheita da lavoura de café, a casinha branca no meio do nada com a morena Rosinha aguardando a chegada do peão que estava na lida, o pai vaqueiro que forma a filha doutora, o filho que gasta a fortuna do pai, o boi mandingueiro, o cachorro de caça fiel e valente, os rodeios famosos e as façanhas dos peões, o boi malvado que não respeita ninguém com prêmio para quem montá-lo, pelejas de viola, amores, amores, amores, enfim, um universo poético tão imenso e fantástico que tornou-se patrimônio cultural brasileiro.
O cantor Gustavo Lima não é fruto desse patrimônio. É fruto da cafonice, da arrogância, da pobre capacidade poética de rimar paixão, coração e solidão. Do público arrogante e preconceituoso, dos ingressos caríssimos para impor barreiras econômicas aos mais humildes. A cafonália consegue reunir milhares de espectadores em seus shows. Atraem multidões porque o Brasil emburreceu, se tornou uma latrina cultural, um país onde parte da população persegue Chico Buarque e Caetano Veloso. São os representantes da ideologia do efêmero acusando pessoas sensatas de desvios comportamentais e opção política atrasada. Detesto essas pessoas, fujo delas, não quero conversar com elas, não namoro mulheres desse grupo, não divido mesa com eles. Tenho nojo e medo dessa gente burra e cafona.
Essa malta ignóbil atacou duramente a Lei Rouanet acusando os artistas de perfil diferente de serem comunistas, corruptos, de mamar nas tetas do estado. Na roça se fiz que o castigo vem à cavalo. Ao atacar a tatuagem no tororó da Anita o sertanejo universitário ou breganejo tomou na tarraqueta e viu seu mundo virar de ponta cabeça. De probos vestais passaram a ser repudiados pela opinião pública. Aliás, como justificar pagamentos de shows na casa de milhão de reais com verba da Saúde e da Educação.
A máscara caiu. Haverá de se ver até que ponto essas contratações sem licitação não são campanha política para o Governo Bolsonaro. Nos shows dessas duplas sertanejas que estão envolvidas no escândalo, locutores animadores bradam contra o comunismo e pela preservação da família brasileira. O correto seria auditar todos esses shows e principalmente constatar o valor que foi pago. Certamente parte do cachê está indo para as mãos dos políticos envolvidos na treta como doação de campanha que certamente encherá mais ainda seus bolsos.
Enquanto a roubalheira come à solta, as crianças precisam andar quilômetros pelas estradas de barro para irem ao grupo escolar. A merenda das escolas que caem aos pedaços são de péssima qualidade e os professores são pessimamente remunerados.
A Saúde é um calvário para a população. Faltam médicos, remédios, procedimentos simples, atenção vá gestante e programas voltados para a saúde e bem estar da terceira idade.
Negar ao povo pobre as condições mínimas necessárias para uma sobrevivência digna em detrimento a enriquecimento de artistas e políticos corruptos é crime de lesa humanidade. Ainda há o agravante de utilizar esses shows contratados com dinheiro público, para fazer campanha política para a reeleição do atual Presidente da República, que baixaria! Que falta de vergonha! Pobre Cultura! Pobre Saúde! Pobre Educação!
Tudo tem seu valor. Porém, na política, a palavra mágica possui quatro letras e não é amor, é voto.
A polêmica que envolve os 'cantores'
breganejos espelha uma dimensão assustadora do golpe de 2016. Após tirarem a Dilma e prenderem Lula com a terceirização do juiz Moro, o golpe segue a passos firmes rumo à hiperhegemonia prevista por Olavo de Carvalho.
Avançando ora de maneira sutil como as trocas de comando da Polícia Federal e outros órgãos afins, ora escancarado, como é o caso do orçamento secreto e das 'emendas cheque em branco'.
O estado brasileiro está absolutamente aparelhado pelo governo Bolsonaro. Podemos incluir também as polícias e parte das Forças Armadas.
O golpe porém, torna-se mais eficiente quando aparelha o comando das igrejas neopetencostais, cravando um prego bastante profundo nas camadas mais populares do povo brasileiro.
Não existe espaço vazio na política. Esses setores pobres da população estavam flutuando na sociedade, relegados ao limbo político pelos governos anteriores. Eles não queriam só comida, eles queriam mais, queriam ter voz, queriam ser cidadãos de verdade e não somente portadores de um cartão que garantia alguns mantimentos no fim do mês.
O golpe visualizou a lacuna e jogou pesado com a contra informação ou fake news. Do kit gay à mamadeira de piroca, da Ferrari de ouro do Lulinha à JBS da Dilma, o golpe fez um estrago nas hostes esquerdistas.
Não pense que pararam, não, eles nunca param. Agora precisavam entrar na juventude do interior, naquele público que também estava boiando nos mapas eleitorais. É aí que entram os cantores breganejos.
O golpe engendrou uma equação ganha/ganha sem igual. Os prefeitos dos rincões recebem grandes nomes da música sertaneja,esses cantores cobram acima do milhão de reais, fazem campanha para o governo Bolsonaro, no alertando para o perigo da instalação do comunismo e todos ficam felizes, pois ao contrário da Lei Rouanet, esses gastos nesses municípios não entram no farol dos órgãos de controle. Por isso a cantilena contra a Lei Rouanet. Eles ao fazerem isso, desviavam a atenção da sociedade para que as falcatruas deles passasem incólumes. Uma maneira inteligente porém criminosa de fazer campanha política, utilizando dinheiro da Saúde e da Educação em lugarejos quase que miseráveis.
O golpe continua seu curso. Querem entregar a Petrobrás e a Eletrobras, para depois venderem a Caixa Econômica e a cereja do bolo que é o Banco do Brasil.
Esse grupo que está no poder é muito perigoso. Certamente já fizeram seus planos de abandonar o país caso percam as eleições ou então sabotar aeronaves dos candidatos que estiverem melhor colocados nas pesquisas eleitorais, tudo é possível.
Os sertanejos são a pequena parte da ponta do iceberg de lama que se avizinha.
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