Ícaro resolveu usar as asas construídas por seu pai para deixar Creta e conhecer o mundo. Seu pai o orientou a nunca chegar perto da água e tampouco perto do sol, pois as asas derreteriam e ele se precipitaria em queda livre dos céus até o chão
Ícaro resolveu partir utilizando suas asas e ficou verdadeiramente encantado com a beleza do mundo. Ao dirigir-se cada vez mais alto, encantou-se com o sol e sem perceber, teve as asas derretidas pelo calor do sol. O jovem perdeu a vida ao cair no mar, vítima de sua própria ambição de querer atingir alturas que não estavam ao seu alcance.
Sou tentado a acreditar que a história sempre se repete. Na política então nem se fala. Se fizermos uma breve panorâmica sobre a história política do país, podemos assistir a cenários bastante epistemológicos, na medida em que na política, se tira de onde não vem e se põe onde não cabe.
O exemplo mais vísceral que podemos analisar é a carreira política do ex-juiz Sérgio Moro. Fé obscuro juiz da primeira instância de uma vara federal do Paraná, ao achincalhameto moral a que está sendo submetido atualmente. Moro começou a atrair holofotes para si quando do famigerado e inexplicável Caso Banestado, onde bilhões de reais foram remetidos ao exterior pelo conhecido doleiro Youssef, que depois surgiu com toda a pompa na Operação Lavajato. Essa operação Banestado nunca foi devidamente explicada para a sociedade. Os prejuízos foram enormes e nemhuma pessoa proeminente foi condenada e o cadê entrou para as calendas da história.
O juiz Moro surge novamente na Operação Lavajato, que visava investigar desvios na Petrobras durante os governos Lula e Dilma do PT. A operação teve uma repercussão hollywoodiana. Diariamente os jornais televisivos traziam novas informações cercados do maior alarde possível. As operações da Polícia Federal eram comunicadas aos meios de comunicação que acompanhavam os comboios policiais e transmitiam as prisões, muitas ilegais, ao vivo, destruindo currículos e reputações.
O verdadeiro intuito da Lavajato era a derrocada do PT e suas lideranças. A mídia corporativa, aliada ao judiciário, lideranças empresariais e Congresso Nacional, criaram as condições necessárias para que a presidente Dilma sofresse impeachment e o ex presidente Lula fosse preso e impedido de participar da eleição que venceria no primeiro turno, caso a disputasse.
O juiz Moro tornou-se uma celebridade nacional ao enviar o ex-presidente para o cárcere. imputou 9 anos de cárcere para Lula, pena que foi ampliada para 12 anos pelo Tribunal Federal do Paraná, todos amigos pessoais, sendo que um deles compadre de Sérgio Moro.
Os deuses da glória não sorriram ao ex-juiz como ele esperava. As gravações providenciais e acidentais de um hacker solitário revelou toda a tramóia para retirar Lula da disputa em detrimento da vitória de Jair Bolsonaro. O acordo para garantir que Lula fosse preso e impedido de participar vida eleição exigiu um verdadeiro esforço de engenharia política.
Prisões espetaculosas realizadas pela Polícia Federal, a tentativa de prisão coercitiva de Lula acompanhada pelo helicóptero Globocop da Rede Globo, o escândalo para comprovar a posse de um par de pedalinhos mixurucas no sítio do Jacó Bittar e a tentativa de imputar a posse de um apartamento furreca no Guarujá, para um palestrante que recebia 250 mil reais por duas horas de palestra, tanto no Brasil como no exterior. A turma de Sérgio Moro devassou a vida de Lula e de seus familiares de todas as maneiras possíveis. Até o tablet do falecido Arthur, netinho de Lula, foi confiscado pela Polícia Federal. Nunca houve uma devassa tão intensa no Brasil republicano.
Toda a farsa caiu por terra e o já ex-juiz, agora ministro da justiça do governo Bolsonaro, conforme o acordo, aguardava sua vez de assumir uma das duas vagas que Bolsonaro teria que indicar só Supremo Tribunal Federal – STF. Com o tempo o roto foi estranhando o rasgado e a briga de egos e sem poder para tocar o ministério, Sérgio Moro deixou a esplanada dos ministérios pela porta dos fundos, ferido politicamente magoado moralmente.
Sem possibilidades em Brasília, Moro inicia uma nova vida na banca de advocacia privada. Celebrou um contrato com uma empresa estadunidense de advogados, onde passou a tratar dos interesses das empresas que ele havia destruído enquanto poderoso chefão da Lavajato.
Sua credibilidade foi só chão, tanto por assumir o ministério do presidente que ajudou a eleger ao colocar Lula na prisão como assumir um escritório de advocacia que recuperava judicialmente as empresas que ele próprio havia quebrado. Seu fundo de poço aconteceu quando a corte suprema anulou os processos e todas as sentenças que ele proferiu contra Lula, decretando a sua parcialidade enquanto juiz. Foi o fim do herói condecorado pela Globo que era aplaudido de pé quando adentrava em qualquer restaurante do país.
Hoje o ex-juiz transformou-se em um ectoplasma político. Os políticos que antes o cortejavam, hoje fogem dele como o diabo foge da cruz. De candidato a presidente passou a candidato ao Senado e agora luta por uma vaga a Deputado Federal pelo Paraná, pois seu registro eleitoral pelo estado de São Paulo foi cancelado pelo TER paulista por flagrante fraude eleitoral.
No fundo do poço, Moro deve lembrar com desgosto a declaração profética que Lula lhe fez durante um dos muitos interrogatórios a que foi submetido. Lula vaticinou: “ Dr. Moro, hoje estão fazendo comigo, amanhã farão com o senhor”.
Como na mitologia grega, na lenda de Ícaro, Sérgio Moro vestiu asas de cera e encantado com o poder rumou célere para o alto, esquecendo-se que suas frágeis asas de cera derreteriam ao se aproximar demais do olimpo político brasileiro. Hoje amarga a desilusão de ter servido de boi de piranha para os poderosos da política brasileira. Enfim sentiu a queda às águas gélidas do mar da indiferença política, a pior das indiferenças no mundo dos ambiciosos.
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