Moendo e remoendo anos de amargura e sofrimento
Dia após dia no sobe desce do pilão
Subindo com a esperança de liberdade
Descendo com a desesperança dos degredados
Batendo
Socando
Triturando
Esmagando
Moeu toda sua existência no cativeiro do colonizador
Que destruiu seus sonhos de liberdade
De viver livremente
Sonhar sem correntes
Ter uma família livre para amar e cuidar
Os filhos que pariu foram através estupro
Do escravo reprodutor e do sinhozinho
Todos foram vendidos
E estão sofrendo pelo mundão
Nenhum ficou para ser acalentado
Estão sendo triturados
O pilão também triturou a vida da mulher negra
Transformando vida em sofrimento
A negra masca fumo e escarra o sentimento do mundo
Traz nas mãos o sangue da escravidão
Sangue pisado nas mãos ancestrais
Sangue negro pisado na história
Existência negada
Esfarinhada
No pilão restaram alguns reflexos
De lindos sonhos negros de liberdade nas savanas africanas
Sonhos que foram esmagados na realidade da dor
Conjugados no verbo amar-gar
Sonhos despedaçados
Estilhaçados
Tudo virou pó
Uma vida virou pó
O pilão esmagou a vida
O pilão massacrou a liberdade
O pilão arrebentou com o futuro daquela mulher negra
É a mão do colonizador sempre esmagando a liberdade
Pulverizando os sonhos de felicidade
O colonizador esmaga a beleza da vida no pilão da dominação
Haverá de ser julgado no pilão da história
Transformado em pó pela mão calejada da alma da mulher negra
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