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Eu Negro

sábado, 18 de junho de 2022

ATIRARAM NO CORAÇÃO DE DEUS


Qual o objetivo, se é que há algum objetivo, para colocar uma espécie como a humana no planeta. A fragilidade e insignificância da presença humana no universo deveria ser suficiente para que a humanidade se amasse e se protegesse. Qual o quê! Se traçarmos um panorama das ações predatórias no planeta, o resultado será desanimador.
Penso que uma espécie em processo de desenvolvimento civilizatório deveria estar em um patamar superior, elevado, cada vez mais humano. Porém a impressão que se tem é que há uma involução espiritual nas decisões comportamentais da espécie humana.
Se recebêssemos uma hipotética visita de uma civilização mais avançada, onde a mesquinhez, o desamor, a acumulação e o ódio tivessem sido banidos de sua realidade cotidiana, esses visitantes ficariam abismados com a estupidez humana.
Como explicar o porquê de tamanha infelicidade, pobreza, desigualdade, guerras e mortes? Por quê destruímos um planeta tão lindo que nos foi legado, sabe-se lá se há um porquê? São respostas que deveriam fazer parte de nossa história, mas não fazem. Qual o critério de existir sem humanidade, sem solidariedade, sem compaixão?
A brutalidade do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips nos leva a refletir o que é quem somos na poderosa teia da infinitude universal. O ato bárbaro é a prova irrefutável que ocupamos os níveis mais basilares de consciência na cadeia universal da existência. Aqueles dois corpos mutilados, esquartejados e vilipendiado, enterrados em um buraco no confins da Amazônia, no Brasil Profundo, envergonha e muito, os que pensam em evoluir enquanto seres humanos.
Quero aqui deixar a política de lado e falar de nossa existência como parte da vida do planeta. Somos nanoorganismos no universo, indetectáveis até, diante da imensidão cósmica. Nossa espécie é altamente destrutiva, corrói o solo, envenena rios e mares, destrói as florestas, polui o ar. O corpo vivo Gaya está contaminado pela espécie humana. Estamos destruindo o local de viver das nossas gerações futuras. O pior é que na verdade não há essa preocupação por parte de muitos. Os destruidores parecem poucos, mas não são. Falamos dos que destroem a floresta, mas não dos que deixam lixo nas areias das praias. Tudo bem que tem o gari para limpar a praia no início da noite, mas não deveria haver essa necessidade. Reclamamos do garimpeiro, mas não utilizamos energia solar. Nós indignamos com o madeireiro ilegal, mas não usamos energia eólica. Reclamamos dos dejetos jogados nos rios mas não reciclamos o óleo de cozinhar usado e nem reaproveitamos a água da chuva. Clamamos contra o lixo urbano mas não fazemos compostagem nem coleta seletiva.
Os tiros dados nos dois heróicos defensores do meio-ambiente, foram os mesmos disparos que tiraram a vida de Chico Mendes, Padre Josimo, Irmã Dorothy Stang e tantos outros mártires da saga amazônica. Os assassinos puxaram o gatilho, mas quem fomentou o ódio para assassinar foi o estado brasileiro. Foi a leniência estatal e pior, foi a cumplicidade governamental que relativiza essas mortes como algo inexorável. O presidente do Conselho da Amazônia é o atual Vice-presidente da República. A Amazônia está coalhada de militares, órgãos de estado como Polícia Federal, Polícia Militar, Ibama, ICMBIO, FUNAI, entre tantos outros, além dos projetos de monitoração aérea como o SIVAM.
A prova que estamos falhando como espécie é que mesmo com todo esse aparato institucional os assassinos não temem tirar a vida de duas pessoas tão importantes para a vida dos povos daquela região. Com certeza estamos falhando como humanidade. Esses tiros acertaram no coração de Deus.

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