Nossa história é recheada de fatos históricos que deságuam em
assassinatos de líderes populares ou militantes em favor da democracia. Nunca eliminam
atores conservadores ou militantes extremistas de direita. Não vou arguir aqui o
porquê, pois a resposta está contida na própria pergunta. Os martirizados sempre
lutaram contra o arbítrio, contra a opressão, contra um estado antidemocrático.
A eliminação dessas pessoas veio pelas mãos de assassinos profissionais,
mas todas elas, com certeza, possuem as digitais do governo brasileiro. É um mosaico
composto por cenários diferentes mas com o mesmo Dna político. Há uma enorme indignação
popular em relação a essas mortes, enquanto que ao mesmo tempo há uma leniência
sem igual por parte do poder público para solucioná-las. Causa um enorme espanto
a não solução para o assassinato de Marielle Franco, assim como o injustificado
silêncio sobre a execução do miliciano íntimo da Família Bolsonaro e o conteúdo
dia 13 chips de celulares que estavam em seu poder na hora de sua morte.
Chico Mendes morreu com fome. Chegou em casa exausto e com a
comida posta à mesa, saiu para lavar as mãos do lado de fora da casa. Foi eliminado
sem dó nem piedade. A missionária Dorothy Stang teve o mesmo infeliz destino, foi
assassinada a tiros em uma estrada de barro, onde a imagem de seu corpo já vem vida
até hoje comove os amazônidas. Padre Josimo Tavares, coordenador da Pastoral da
Terra no Bico do Papagaio também perdeu a vida assassinado a mando de latifundiários
no Pará, crime que obrigou o padre Ricardo Resende abandonar sua área de atuação
em defesa dos trabalhadores que vivem em estado análogo à escravidão. Marcado para
morrer, viveu ameaçado por 18 anos, sendo obrigado a migrar para o Rio de Janeiro,
onde passou a lecionar na UFRJ e fazer suas denúncias contra o império de terror
que vige naquela região do Pará.
Inúmeras lideranças vitimas do conflito latifundiário da militância
pela reforma agrária, e do sindicalismo rural firam executadas sistematicamente,
sendo que a grande maioria dos casos ficou sem solução. Os poucos crimes que foram
solucionados, prenderam quem acionou o gatilho, mas nunca os mandantes.
No caso do Vale do Javary, os que apertaram o gatilho certamente
serão presos e cumprirão sentença. Porém, os mandantes jamais serão punidos. Não
serão penalizados porque o Vale do Javary é terra sem lei, onde a criminalidade
e o banditismo imperam às expensas do estado brasileiro. Todos os anos acontecem
esses assassinatos e o governo não encontra solução para pacificar e ordenar institucionalmente
aquela região.
A Amazônia é uma das cerejas do bolo dos órgãos institucionais
do governo brasileiro. Ali as forças armadas mantém tropas altamente qualificadas
como o Centro de Instrução de Guerrilha na Selva, o temível CIGS, a esquadra da
Amazônia Azul da Marinha com seus guerreiros do Comando Anfíbio, COMANF, o PARASAR
e o Projeto Sivam da Aeronáutica, além de forças civis com alto poder de
intervenção como a Polícia Federal, Polícia Militar e os grupamentos de Bombeiros
Militares. Todos esses grupos são especialistas em Amazônia.
Além das tropas militares e grupos de repressão civis, ainda
podemos encontrar órgãos de estado hiper especializados na região como a FUNAI,
IBAMA e ICMBIO. Causa espanto que o enorme poder do banditismo no Vale do Javary
e na Amazônia como um todo não seja combatido ferozmente por essas tropas nacionais.
Levando em consideração que o Conselho Nacional da Amazônia Legal é presidido pelo
Vice Presidente da República, General de quatro estrelas, Hamilton Mourão, podemos
concluir que a ação do estado brasileiro na Amazônia ou é incompetência ou então
leniência.
A partir do fatídico evento da morte do indigenista Bruno Pereira,
que era funcionário público da União e do jornalista britânico Dom Phillips, novas
modelagens sobre o controle do território amazônico serão debatidas e talvez até
implementadas. Porém, vamos torcer para que essas possíveis medidas não sejam para
inglês ver.
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