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Eu Negro

segunda-feira, 13 de junho de 2022

DEMÔNIOS ELIMINANDO ANJOS

 

A confirmação do assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista da Funai Bruno Pereira nos leva a refletir sobre o estado marginal que está tomando conta do Brasil. Tornou-se comum a eliminação sistemática de lideranças que atuam no campo dos direitos humanos. Há uma longa lista que compreende Wladimir Herzog, Stuart Angel, Chico Mendes, Padre Josimo, Irmã Dorothy Stang, Marielle Franco e agora as duas vítimas do Vale do Javary.

Nossa história é recheada de fatos históricos que deságuam em assassinatos de líderes populares ou militantes em favor da democracia. Nunca eliminam atores conservadores ou militantes extremistas de direita. Não vou arguir aqui o porquê, pois a resposta está contida na própria pergunta. Os martirizados sempre lutaram contra o arbítrio, contra a opressão, contra um estado antidemocrático.

A eliminação dessas pessoas veio pelas mãos de assassinos profissionais, mas todas elas, com certeza, possuem as digitais do governo brasileiro. É um mosaico composto por cenários diferentes mas com o mesmo Dna político. Há uma enorme indignação popular em relação a essas mortes, enquanto que ao mesmo tempo há uma leniência sem igual por parte do poder público para solucioná-las. Causa um enorme espanto a não solução para o assassinato de Marielle Franco, assim como o injustificado silêncio sobre a execução do miliciano íntimo da Família Bolsonaro e o conteúdo dia 13 chips de celulares que estavam em seu poder na hora de sua morte.

Chico Mendes morreu com fome. Chegou em casa exausto e com a comida posta à mesa, saiu para lavar as mãos do lado de fora da casa. Foi eliminado sem dó nem piedade. A missionária Dorothy Stang teve o mesmo infeliz destino, foi assassinada a tiros em uma estrada de barro, onde a imagem de seu corpo já vem vida até hoje comove os amazônidas. Padre Josimo Tavares, coordenador da Pastoral da Terra no Bico do Papagaio também perdeu a vida assassinado a mando de latifundiários no Pará, crime que obrigou o padre Ricardo Resende abandonar sua área de atuação em defesa dos trabalhadores que vivem em estado análogo à escravidão. Marcado para morrer, viveu ameaçado por 18 anos, sendo obrigado a migrar para o Rio de Janeiro, onde passou a lecionar na UFRJ e fazer suas denúncias contra o império de terror que vige naquela região do Pará.

Inúmeras lideranças vitimas do conflito latifundiário da militância pela reforma agrária, e do sindicalismo rural firam executadas sistematicamente, sendo que a grande maioria dos casos ficou sem solução. Os poucos crimes que foram solucionados, prenderam quem acionou o gatilho, mas nunca os mandantes.

No caso do Vale do Javary, os que apertaram o gatilho certamente serão presos e cumprirão sentença. Porém, os mandantes jamais serão punidos. Não serão penalizados porque o Vale do Javary é terra sem lei, onde a criminalidade e o banditismo imperam às expensas do estado brasileiro. Todos os anos acontecem esses assassinatos e o governo não encontra solução para pacificar e ordenar institucionalmente aquela região.

A Amazônia é uma das cerejas do bolo dos órgãos institucionais do governo brasileiro. Ali as forças armadas mantém tropas altamente qualificadas como o Centro de Instrução de Guerrilha na Selva, o temível CIGS, a esquadra da Amazônia Azul da Marinha com seus guerreiros do Comando Anfíbio, COMANF, o PARASAR e o Projeto Sivam da Aeronáutica, além de forças civis com alto poder de intervenção como a Polícia Federal, Polícia Militar e os grupamentos de Bombeiros Militares. Todos esses grupos são especialistas em Amazônia.

Além das tropas militares e grupos de repressão civis, ainda podemos encontrar órgãos de estado hiper especializados na região como a FUNAI, IBAMA e ICMBIO. Causa espanto que o enorme poder do banditismo no Vale do Javary e na Amazônia como um todo não seja combatido ferozmente por essas tropas nacionais. Levando em consideração que o Conselho Nacional da Amazônia Legal é presidido pelo Vice Presidente da República, General de quatro estrelas, Hamilton Mourão, podemos concluir que a ação do estado brasileiro na Amazônia ou é incompetência ou então leniência.

A partir do fatídico evento da morte do indigenista Bruno Pereira, que era funcionário público da União e do jornalista britânico Dom Phillips, novas modelagens sobre o controle do território amazônico serão debatidas e talvez até implementadas. Porém, vamos torcer para que essas possíveis medidas não sejam para inglês ver.

 

 

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