Os fornos crematórios de Auschwitz, Sobibor, entre tantos outros do aparato bélico militar de Hitler, trabalhavam diuturnamente em suas sinfonias de morte, não poupando ninguém, nem mesmo as inocentes criancinhas judias. Não há como não se emocionar e se indignar com a situação a que foram submetidos nossos irmãos judeus naquele terrível conflito. A indignação e a perpetuação da lembrança de tempos tão sombrios nos comove desde sempre.
Porém há uma guerra invisível em curso no Brasil. Apesar das peremptórias negativas por parte do estado brasileiro, há um conflito real que ceifa mais de 50 mil vidas de nossos nacionais todos os anos.
Mata-se anualmente no Brasil, basicamente o mesmo número de militares estadunidenses que morreram durante os dez anos de guerra no Vietnã.
Com a política de flexibilização da venda de armas a tendência é a elevação exponencial desta barbárie.
A criminalidade aumenta a passos largos empurrada pela gigantesca e silenciosa crise econômica, social e moral que assola o Brasil.
Estamos chegando ao fundo do poço, sim, com o parlamento compurscado por negociatas e corrupção, o Executivo comprando o congresso com o orçamento secreto, militar levando cocaína no avião da Presidência da República, aquisições com dinheiro público de Viagra, próteses penianas e gel lubrificante para penetração sexual. Na verdade nem precisavam das tais estripulias eréteis, pois, de uma certa forma fazem isso com o povo há muito tempo.
Agora estão levando à sério a inventividade tupiniquim e resolveram estrear o forno crematório portátil sobre rodas.
A cena dos policiais incinerando dentro da viatura oficial um cidadão com problemas de saúde mental, mostra que estamos em tempo de peste, onde os loucos guiam os cegos, como disse William Shakespeare, famoso bardo inglês.
O período quando os loucos guiam os cegos, surge de tempos em tempos. A história é pródiga em apontar diversos ciclos desse tempo. Podemos citar Hitler levantando a Alemanha, Mussolini na Itália, Stalin na União Soviética, Pol Pot no Camboja e tantos outros exemplos de triste memória.
No Brasil emergiu há pouco o sentimento nazifascista que estava encolhido, hibernando, aguardando a oportunidade para se apresentar nesses novos tempos. E o tempo chegou, trazendo consigo a besta do apocalipse, o anticristo. Vige nas hostes dos cegos o culto às armas de fogo preconizada pelos loucos. O nacionalismo exacerbado, a canonização dos símbolos pátrios, a ojeriza aos direitos humanos, ao social, à organização dos trabalhadores, das mulheres, dos negros, dos LGBTs e principalmente dos povos indígenas.
A Amazônia tornou-se um capítulo a parte, onde o louco guia os cegos para a implantação de projetos devastadores para a região. Não há respeito por nada, somente pela tabula rasa que rege a caminhada dos loucos.
Pedro Aleixo era civil e Vice Presidente do General Costa e Silva durante a ditadura militar e foi o único membro do Conselho de Segurança Nacional que votou contra o AI5 na famigerada reunião que o sacramentou. Perguntado por Costa e Silva o porquê do voto isolado, Aleixo respondeu que o problema maior não era o presidente e sim o guarda da esquina. Pois é, aqueles policiais de Sergipe são os guardas da esquina do Messias que tem as mãos manchadas com o sangue de Jesus, Genivaldo de Jesus, um negro pobre, trabalhador, casado e pai de dois filhos, sem antecedentes criminais, portador de esquizofrenia, que cometeu um único erro que lhe custou a vida, não entender que o guarda da esquina agora tem permissão para matar inocentes.
Incinerar um negro em plena luz do dia sob as câmeras de filmagem, se tornou um ato normal, ou seja, há uma naturalização da barbárie, principalmente quando a violência se volta para a população negra. Há uma ponte apocalíptica entre Aracaju e a comunidade da Vila Cruzeiro no Complexo da Penha. Essa ponte metafórica permite que se realize uma incursão policial em uma comunidade de favela, onde são eliminadas 26 pessoas com a intensa participação da Polícia Rodoviária Federal, que em tese não deveria estar ali.
Para uma boa parcela da população isso também é normal. Mas não é normal. Pior, é assustador saber que o aparato de repressão do estado está saindo das suas prerrogativas institucionais. É assustador porque todas vezes que esta situação aconteceu, a institucionalidade não voltou ao normal. Para os mais alarmistas fica parecendo a preparação operacional para o golpe militar que a cada dia solta mais fumaça.
Não se pode questionar a ação que beira a genocídio, pois os que questionam são acusados de "defender bandidos". A lei e a democracia precisam ser preservadas. Não importa o custo. A democracia às vezes possui raízes amargas, mas seus frutos são sempre doces.
O primado dos direitos humanos nos ensina que a vida, dos dons é o mais importante e sagrado que possuímos. Não importa se estamos dentro, à margem ou fora da lei. Todos são inocentes até que a sentença transite em julgado. A constatação da importância desse recurso judicial foi a inocência declarada pela suprema corte brasileira ao anular as condenações do ex presidente Lula, que amargou quase 600 dias de cárcere, lá colocado por um sistema judicial comprometido com a inobservância da lei e aliado a interesses políticos escusos.
A cena é triste e cruel. O cidadão negro, portador de sofrimento mental, perde a vida incinerado em um veículo oficial do governo brasileiro. Sufocado sem poder respirar, assim como morreram as pessoas em Manaus, no auge da crise da COVID, onde morreram sufocadas, sem oxigênio, devido a leniência do estado, da verve fascista, da política negativista, da incapacidade institucional e política de gerir o estado com amor e solidariedade.
Os loucos seguem guiando os cegos. O Messias continua matando Jesus .
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