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Eu Negro

domingo, 10 de julho de 2022

TERRA À VISTA

Atualmente há um enorme fluxo migratório do Brasil para Portugal. O grande paradoxo é que a burguesia brasileira, tipicamente capitalista, deixa o Brasil rumo a um país governado pelo socialismo, que passaram décadas cocombatendo.
Viralizou na Internet um texto do Economista e milionário Paulo Dalla Nora Macedo, de 47 anos, onde discorre sobre sua atitude de abandonar o Brasil e fixar residência em Portugal. Sem entrar no mérito da escolha por um outro tipo de vida, penso o quanto é bom poder ter a opção de abandonar o barco sem sentimento de culpa. Pelo contrário, sai atirandobo barco que está afundando e que ajudou a construir. O empresário e ex dono de banco é apresentado no texto como empreendedor social, como se dá noite para o dia tivesse absorvido o espírito social e empreendedor do Afroreggae. Não existe empresário bonzinho, todo empresário é um especulador em potencial e nunca foi encontrado um desses bonzinho. O empresário tem um sentido espetacular para a própria sobrevivência. O cenário político e econômico no Brasil é péssimo, perigando afundar de vez com a possibilidade da reeleição de Bolsonaro, sendo assim, nada mais estratégico que tirar o time de campo.
O nó górgio de toda está situação é o que se pode fazer com os que ficam. Com os que não podem ao menos sonhar em viver no mundo desenvolvido. A miséria está sendo ampliada através das políticas de Paulo Guedes, o meio ambiente continua sendo destruído de maneira inexorável, os trabalhadores sendo demitidos e os que não são perdem cada vez mais os direitos trabalhistas conquistados após lutas imensas, o feminicídio avança a passos céleres para de tornar endêmico, negros, religiosos de matriz africana e homossexuais sendo massacrados pelo fascismo, a população sendo executada nas ruas por atiradores psicopatas oriundos do bolsonarismo, as escolas sendo invadidas por grupos neopentecostais contra uma intangível “ideologia de gênero”, os movimentos sociais e de direitos humanos sendo acusados de comunistas sendo que ninguém sabe o que é o comunismo, Amazônia, Reforma Agrária, cotas nas universidades, Lei Rouanet e outras bandeiras absurdas que os insanos quixotes bolsonaristas abraçam com fé.
São 50 mil negros assassinados todos os anos no Brasil. No Japão somente uma pessoa foi assassinada em 2021. Que país é esse? Respondo que esse Brasil foi erigido por pessoas como esse senhor e por pessoas como ele e seus pais e seus avós e bisavós e tataravós. Essas famílias sempre se locupletaram no Brasil, sempre trocaram favores entre si, sempre controlaram o sistema financeiro, os cartórios, o judiciário e o parlamento.
Essa elite cafona nunca aceitou a possibilidade de se construir uma nação com menos privilégios e mais igualdade. Sempre comeram à farta nas mesas do poder, deixando as migalhas do chão para os pobre e miseráveis desse país.
Não existem pudicas no lupanar. Ao ler esse depoimento fico feliz em saber que o narrador votará em Lula pela primeira vez nos seus 50 anos de vida. Nos anteriores votou contra e contribuiu financeiramente para que fosse mantida a estrutura política excludente e conservadora.
A assunção de Bolsonaro é o processo natural da evolução conservadora que sempre governou este país. É como Hitler fez com a República de Weimar. Infelizmente os pobre e miseráveis não têm opção de entrar no avião com suas obras de arte. Ficarão aqui, desempregados, sendo chamados de preguiçosos e dependentes de bolsa isso e bolsa aquilo. Ouvindo dos ignorantes que “tem q ensinar a pescar e não dar o peixe”. São evangélicos ferrenhos mas esquecem que Jesus Cristo multiplicou e distribuiu os peixes.
Fico feliz com a declaração tardia de voto do empresário que deixou o Brasil que ajudou a construir. Significa que mesmo aqui na minha pobreza, na minha vida simples, nunca estive do lado errado. Sempre estive nos movimentos sociais desde a escola secundarista. Sempre estudei em escola pública, sempre utilizei o SUS, portanto sou filho das políticas públicas do país. Os pobres não podem escolher não viver aqui. Em governos como os de Lula é um oásis no deserto da exclusão. Em governos como os de Sarney, Collor, FHC e Itamar a solução é lutar com esperança e em governo como o de Bolsonaro a opção é se manter são e vivo.
Lisboa é uma bela cidade para viver. Mas para uma família branca, rica, educada e bem relacionada como a do narrador. Lá os negros são discriminados em todas as partes e logo depois os brancos da classe média do Brasil.
O narrador se mudou de mala e cuia para Portugal, Zélia Cardoso de Melo para New York e Ciro Gomes para Paris em um momento decisivo da política nacional. Enfim, os pobres do Brasil sempre estarão por sua própria conta.

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