O Brasil de hoje superou a tirania da ditadura militar e possui instituições democráticas sólidas e em pleno funcionamento. Não passa pela cabeça da maioria dos brasileiros que uma nova ditadura militar possa se instalar novamente no país. A rotina democrática segue em curso, apesar de um impeachment aqui ele outro ali. Mesmo com um Congresso Nacional que beira a indigência intelectual, a nação segue caminhando e amargando as raízes da árvore da democracia que possui frutos absurdamente doces no final.
As manifestações políticas, tanto conservadoras como progressistas sempre mantiveram-se resguardadas uma da outra. A direita nacional sempre avessa a manifestações públicas, deixava as avenidas e ruas do país para os movimentos sociais de tendência socialista. Nunca houve atrito ou qualquer tipo de refrega que fossem dignos de nota. Assim vem acontecendo a dialética política brasileira.
A eleição que alçou Jair Bolsonaro à Presidência da República mudou de maneira dramática a relação política direita x esquerda. Bolsonaro representa no Brasil o novo fascismo internacional, capitaneado atualmente por Donald Trump, ex presidente dos EUA. Essa nova frente política é manifestadamente conservadora, eugênica, excludente, racista e homofóbica. É um fenômeno estranho, pois, apesar de ser elitista e hiper liberal, é apoiado pelas camadas mais pobres da sociedade, pela base da pirâmide social. Nessa interrogação surge então a figura do movimento neopentecostal. A aliança das lideranças religiosas neopentecostais com a extrema direita brasileira constituiu uma bomba política poderosa que resultou no bolsonarismo.
O movimento bolsonarista ao chegar ao poder inicia processo de armar a população que lhe serve de base de apoio. Nos três primeiros anos de governo Bolsonaro foram comercializadas cerca de 150 mil armas licenciadas, de maneira legal. Aos poucos Bolsonaro vai formando uma pequeno exército que poderá no futuro lhe ser muito útil em uma provável guerra civil. Não podemos esquecer que o pequeno exército em formação contará com grande parte dos militares das três forças armadas, das policias civis e militares, agentes penitenciários, bombeiros, guardas civis metropolitanos, Polícia Federal, e outros órgãos afins, sendo que o exército contará com servidores da ativa e aposentados. Não será pequeno não.
Os movimentos do bolsonarismo estão cada vez mais explícitos. Há um chamamento de Bolsonaro para uma futura guerra santa do bem contra o mal. As Marchas Para Jesus, motociatas e eventos diversos são utilizados como correia de transmissão do pensamento fascista. Não há uma doutrina específica que oriente o movimento. Não existem intelectuais produzindo documentos e literatura sobre o bolsonarismo. É diferente do integralismo de Plínio Salgado, que publicava textos e livros defendendo as bases doutrinárias do movimento.
Há um grande temor da explosão de violência com o acirramento e radicalização das posições políticas entre o bolsonarismo e os movimentos progressistas brasileiros. De pequenas querelas passamos a ver ameaças mais ousadas como ameaças a ministros da Corte Suprema e a juízes que emitem sentenças contrárias ao interesse do bolsobarismo.
Um dos últimos eventos que causou espanto nacional foi o assassinato do guarda municipal em Foz do Iguaçu por um militante bolsonarista alucinado. O guarda municipal comemorava seu aniversário em um clube privado quando se surpreendeu com a invasão do recinto pelo assassino, um guarda de presídio e ativista do bolsonarismo. O homem invadiu o ambiente com uma arma em punho e executou friamente o guarda na frente de sua esposa e amigos. Não parava de repetir: “Aqui é Bolsonaro”! Vou matar todos vocês petistas fdp! A repercussão do homicídio fez acender uma luz amarela nas instituições, pois, a tendência é haver um escalada irrefreável desse tipo de eventos.
A sociedade brasileira precisa ficar atenta ao movimento bolsonarista na direção da guerra civil brasileira, pois, onde há fumaça há fogo. A qualquer momento pode emergir o “monstro da lagoa”, o arbítrio, trazer de volta os anos de chumbo. Sob a cabeça de Bolsonaro pesam acusações terríveis, sendo que a principal dela a de genocídio, onde o presidente pode responder pela morte de 600 mil pessoas que perderam a vida por leniência do seu governo. Posturas negacionistas e equivocadas poderiam ter evitado a maioria dessas mortes.
A manifesta atitude de desleixo em relação a política ambiental na Amazônia se tornou um crime de lesa humanidade. A afirmação de que terras indígenas devem ser exploradas levou a uma corrida de garimpeiros e madeireiros ao interior da floresta, causando danos irreversíveis ao meio ambiente no médio prazo.
O controle do Congresso Nacional através de farta distribuição de verbas através de uma aberração política denominada “Orçamento Secreto”, onde há uma evidente afronta a Constituição Federal no que tange à preservação da lisura eleitoral seis meses antes do certame. A troca de votos por dinheiro nunca foi tão aviltante como agora. Com a maioria dos votos, Bolsonaro aprova o que bem deseja no Congresso Nacional. Com isso, faz a distribuição indiscriminada de licenças para aquisição de armas de fogo pela população.
A população caiu no conto do vigário cometido por Bolsonaro que foi o botijão de gás a R$ 35,00 e o litro de gasolina a R$ 2,50. Viu o enriquecimento explícito da família do presidente e vários eventos deletérios cometidos por políticos que giram na órbita do presidente. Para evitar a responsabilização Bolsonaro irá recorrer a extremos se for necessário. Mais de uma vez declarou que seus filhos não responderão com a prisão caso sejam responsabilizados.
Há uma guerra civil em curso. Morrem assassinadas no Brasil cerca de 50 mil pessoas por ano, o mesmo número de óbitos ocorridos em 10 anos por militares do exército dos EUA no Vietnã. Eventos de menor monta começaram a acontecer. Lembrando que a Primeira Guerra Mundial teve como estopim o assassinato do Arquiduque Franz Ferdinand em Sarajevo no dia 28 de julho de 1914.
Com a perda da eleição presidencial para Lula, as hostes bolsonaristas não aceitaram o resultado das urnas, infladas pelo aceno do atual presidente que houve fraude e que as urnas deveriam passar por auditoria técnica das forças armadas.
A suspeita presidencial foi a senha que espalhou a rebelião por todo o país. O que se vê são cenas dignas de Macondo, o vilarejo surrealista do livro Cem Anos de Solidão de Garcia Márquez.
O Brasil nunca mais será o mesmo. Massas humanas renitentes acampam diante de unidades militares pedindo intervenção no país e o retorno da ditadura militar. Missas são celebradas, milhares de pessoas em surtos psicóticos cantam o hino nacional enroladas na bandeira nacional, bradando contra o comunismo, pleiteando o direito à liberdade de manifestação (mesmo contrariando a lei), alegando a defesa da pátria e da família. Estão sob chuva, mal alimentados, ansiando como sebastianistas modernos um Dom Sebastião que não virá.
Enquanto sofrem delírios diante dos quartéis, outro tanto interrompem as estradas em todo o país, ferindo o direito constitucional de ir e vir da população. O governo faz vista grossa aos delitos que se multiplicam sob o beneplácito estatal.
O presidente Bolsonaro sabe onde quer chegar, mas também sabe que o projeto é ambicioso demais, mesmo com o controle das armas do país. O projeto é iniciar uma guerra civil no Brasil, onde os que possuem as armas e o dinheiro serão os vencedores.
A flexibilização da legislação para aquisição de armas de fogo no país, foi um grande passo nessa direção. O novo governo que tomará posse encontrará um país armado e insurrepto, pronto a entrar em um sangrento conflito armado.
A sociedade brasileira de boa vontade, ou o que sobrou dela, terá que se esforçar para manter o país sob a égide da democracia e com boas condições de habitação e sociabilidade.
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