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Eu Negro

sábado, 24 de setembro de 2022

POR QUE 40% DO POVO BRASILEIRO APOIA O FASCISMO?

Quando observo o caos político e social que nosso país está mergulhado, não posso deixar de me sentir miserável. Sim, onde falhei miseravelmente? Onde deixei de atuar, onde estava enquanto meus companheiros lutavam em desvantagem nas trincheiras políticas pela manutenção da democracia?
O fascismo sempre floresce onde a democracia dorme. Manter a democracia exige cuidado, vigilância permanente, resiliência, prática, crença e fé. 
Atualmente o fascismo apresenta cerca de 40% da preferência dos votos do povo brasileiro. É muita gente junta querendo bagunçar nossa tenra e complexa democracia.
Esse pessoal sempre esteve aqui, vivendo o cotidiano do país, sem mexer com política, trabalhando, curtindo seu churrasquinho, frequentando o culto religioso, indo à praia com a família e ao futebol com os amigos.
Como explicar que essas milhões de pessoas tenham se tornado fascistas? Será que se tornaram mesmo fascistas convictos? Como entender que essa massa de milhões de brasileiros se erga repentinamente na cena política nacional defendendo a não demarcação de terras indígenas e quilombolas, a castração química, o nascimento de um feto que foi gerado através de estupro e radicalmente contra a liberdade de opção sexual, contra a organização dos trabalhadores e defendendo o fim das políticas de direitos humanos e a pena de morte e a liberação da venda indiscriminada de armas de fogo? A resposta certamente não agradará a muitos, mas está implícita a leniência da esquerda no que tange a seu primado mais basilar que é a organização popular.
 Não existe espaço vazio em política, e a esquerda, ao chegar ao poder, não cuidou de quem a colocou lá. A cochilada histórica foi fatal e acendeu um pavio que julgávamos seco a tempos, a extrema direita.
Os extremistas conservadores notaram que havia um fértil campo arado sem semeadura e atiraram ali suas sementes políticas que irromperam da terra com uma vontade monumental. 
Alguns pensadores de auto ajuda se uniram e elaboraram um projeto voltado para atrair esse povo como aliado, através de uma velha e carcomida fórmula de arregimentar grandes massas, como sempre fizeram os grandes ditadores da história, como Hitler, por exemplo, que a utilizou na construção do Terceiro Reich. 
A fórmula que não falha é usar o cochilo da democracia como pano de fundo e invocar os símbolos pátrios como o hino e a bandeira nacional como antídotos contra o comunismo. Pega uma pitada de patriotismo, mistura com Deus e a defesa da família e para consolidar e finalizar a fórmula uma bela flambada de redução do estado através de privatizações, terminar com a boa vida dos servidores públicos (antigos marajás) e o fim da formação programada de gays pelo sistema público de ensino.
Por mais incrível que possa parecer essa antiga fórmula ainda funciona e o velho pavio que imaginávamos ressequido irrompe com força total incendiando o país com as cores nacionais e desfiles protocívicos contra a pretensa "invasão comunista" e a defesa da família com Deus.
 Como conseguiram? Foi difícil? Não, foi muito fácil. A esquerda não se interessou e nem se dirigiu politicamente a esse contingente humano quando chegou ao poder. Concentrada na elaboração de programas sociais de amplo espectro, cochilou feio no cuidar politicamente dessa massa de brasileiros. Esse contingente humano que não queria apenas comida e sim comida, diversão, arte e participação política.
Você que é de esquerda o que fez para chamar componentes dessa massa para marcharem conosco? Onde fica a associação de moradores do seu bairro? Vc é sindicalizada(o)? Pois é, se cada um tivesse feito sua parte possivelmente estaríamos hoje em outro patamar.
A esquerda construiu bons programas de inclusão social, esquecendo porém de elaborar um grande projeto de politização voltado para o povo brasileiro, que sempre foi povo marcado e julgava ser feliz. Esse povo teve acesso a empregos, casa própria, universidade para a família, viagens, acesso a cultura, bem estar e outros benefícios que jamais ousou sonhar. Por que esse contingente humano tem repulsa pela esquerda? Por que lhe é aspérrima mesmo depois de conhecer o paraíso?
Mesmo sendo principal beneficiária dos programas governamentais de inclusão social, à massa não foi permitido ter acesso a formação política, ao conhecimento da luta de classes, conhecer sua classe social e as relações de trabalho entre empregado e empregador e a velha luta de classes dentro do sistema econômico que nos rege, o capitalismo. Não aprendeu nem compreendeu a dialética do darwinismo social que os mantém atados por correntes invisíveis ao consumismo, ao patronato e patriarcado.
A grande massa não recebeu informações suficientes sobre a necessidade de organização popular em torno de bandeiras democráticas que marchassem na direção de uma nação democrática e socialista.
Ao chegar ao poder, as principais lideranças acorreram ao poder central para abiscoitar cargos no governo com remuneração polpuda com suas benesses e vantagens que esses cargos oferecem. Optaram viver no fausto do ar rarefeito e deixaram de lado a laboriosa vida conturbada da planície poluída. A mesma planície que os colocou lá no comando do país, que por conta das desigualdades sociais recebeu a alcunha de Belíndia, uma mescla de Bélgica com Índia.
Essa gente sentiu-se abandonada e posta de lado por quem prometeu cuidá-la, só faltando ir às ruas pedir encarecidamente orientação e participação política na vida nacional. A esquerda não deu importância ao fenômeno de capilarização de ideias da Internet e achou que seu discurso assistencialista manteria a massa obediente em seus territórios.
Como dizia Nelson Rodrigues, foi um doce e ledo engano. A semeadura da doutrina extremista no fértil campo arado deixado pela esquerda, foi capitaneada por falsos intelectuais, que com seus brinquedos mentais maquiavélicos como Mamadeira de Pi*oca, Kit Gay, destruição de templos, orientação de gênero, aborto, armas de fogo nas mãos da população, pena de morte, fim da Suprema Corte e fantasma do comunismo, entre outras aberrações políticas, manteve acesa a chama do farol da participação política possível sem jamais oferecer formação política verdadeiramente. 
A massa recebeu uma dose cavalar de placebos políticos que a fizeram acreditar ser ótimos players da política nacional.
Para consolidar o projeto celebraram alianças com as principais lideranças evangélicas e empresariais, além da banda podre do congresso nacional, onde através de intermáveis inserções de ,"fake news" conseguiram convencer a massa que a nação estava em perigo e que somente um grande movimento patriótico poderia salvá-la das garras de Moscou e Pequim.
Então transformaram toda essa massa, antes desgarrada e orfã política da ditadura militar em um poderoso exército fascista, conservador e o que é mais assustador, armado. 
Agora a massa ocupa as ruas do país de verde e amarelo, com armas na cintura, brandindo sua fúria contra a esquerda, acreditando ser salvadores do futuro da nação.
Até quando o fascismo viscejará em nossos campos não sabemos, mas a colheita dos frutos dessas sementes que germinaram de maneira fulminante, atravessará gerações e mais gerações de brasileiros e brasileiras.


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