"A crise consiste precisamente no fato de que o velho está morrendo e o novo ainda não pode nascer.Nesse interregno, uma grande variedade de sintomas mórbidos aparece” (Antonio Gramsci)
O ativista definiu a expressão racismo ambiental ao pesquisar
de perto a o quanto a população negra dos EUA estava sendo exposta a resíduos
tóxicos. O conceito adquiriu força nos Estados Unidos dentro do contexto das
manifestações raciais contra injustiças ambientais em territórios negros.
Chavis Jr. disse
que o racismo ambiental é a discriminação racial na elaboração de políticas
ambientais, na aplicação de regulamentos e leis, e no direcionamento deliberado
de comunidades negras para espaços contíguos às instalações de lixo tóxico, com
risco de vida para as comunidades afrodescendentes e a exclusão de negros da
liderança dos movimentos ecológicos.
Ao excluir e
afastar os negros da elaboração de políticas e movimentos ambientais, o sistema
capitalista faz a opção por privilegiar outros grupos étnicos de raiz
caucasiana. Ao aplicar o sistema de seleção dirigida, entende que a etnia negra
não compreende um grupo humano que deva ser protegido, como sempre definiu o
colonialismo, o capitalismo e a globalização. O sistema precisa que esses
contingentes humanos ocupem esses territórios precarizados, pois ali está a mão
de obra necessária para trabalhar nas plantas industriais poluentes que operam
nos espaços adjacentes às suas residências.
As comunidades impactadas pelo racismo ambiental são
compostas majoritariamente por população negra, que historicamente sempre foi
preterida nos projetos nacionais de educação. O processo de desemprego em massa
trazido pelos ventos da globalização com suas políticas neoliberais e
flexibilizadoras, causou um verdadeiro tsunami na organização sindical
brasileira a partir dos anos 80. Com o avanço de tecnologias industriais como a
automação, por exemplo, as oportunidades de trabalho formal nos parques fabris
está rareando cada vez mais e por conseguinte as exigências dos trabalhadores por
melhores condições de trabalho também diminuíram, destarte o esforço de suas
representações como centrais sindicais e seus sindicatos de base. O movimento
sindical desde então vive em constante crise existencial, mergulhado em um
profundo declínio temporal, tendo perdido parte da interlocução com as bases
devido à dificuldade de comunicação entre os antigos socialistas da era
analógica e os novos trabalhadores nativos da novíssima geração digital.
Sobrevivendo entre as mais diversas dialéticas contemporâneas e enfraquecido
cada vez pela política conservadora do Congresso Nacional, do Judiciário e
pelas instituições patronais com suas agressivas pautas de reivindicações, o
sindicalismo tornou-se um gigante com pés de barro.
Com o enfraquecimento dos anseios trabalhistas da massa
trabalhadora, encontramos a população negra sofrendo as ações dos vetores
poluidores nas plantas industriais instaladas no entorno das comunidades negras.
Essas indústrias poluidoras possuem
relação direta com a saúde degredada dos seus trabalhadores e dos seus impactos
nessas comunidades. A população negra que sofre sob os impactos do racismo
ambiental é tornada duplamente invisível pelo sistema capitalista na medida em
que é ocultada enquanto comunidade e como massa trabalhadora.
O sociólogo estadunidense Robert Bullard estendeu o conceito
de racismo ambiental ao referir-se a qualquer política, prática ou diretiva,
que atue negativamente a diversos grupos ou comunidades baseados em sua origem
ou cor da pele. Bullard escreveu um livro muito importante acerca da justiça
ambiental denominado “The Legacy of American Apartheid and Environmental Racism
(O Legado do Apartheid Americano e do Racismo Ambiental). O racismo ambiental
foi e continua sendo objeto de vários estudos, sendo que há uma notada
convergência que aponta para situações comuns como territórios localizados onde
os vetores ambientais são mais agressivos à vida humana, como lixões, aterros
de lixo sanitários e controlados, depósitos de resíduos químicos, ausência de
condições sanitárias mínimas como saneamento básico, emissões industriais descontroladas,
indústrias químicas poluidoras, falta de ordenamento urbano e paisagístico,
drenagem fluvial e controle de doenças contagiosas.
O racismo ambiental expõe de maneira
desproporcional uma etnia ou classe social sendo uma forma de discriminação
baseada em raça, etnia e classe social a riscos ambientais. Está para além da
luta de classes e passou a ser também um problema de castas, como os “dalits”
na Índia. No nosso caso podemos apontar as pessoas negras periféricas que são consideradas
pela branquitude como casta inferior. Essas pessoas negras são as mais
vulneráveis aos impactos ambientais e que realizam os diversos trabalhos
infames que a branquitude renega exercer. A população negra desses espaços vive
confinada em senzalas contemporâneas ou campos de concentração do capitalismo
que são as favelas, território abandonado pelo estado que comparece
cotidianamente com a polícia para causar medo e opressão ao moradores. A
população negra das favelas é um contingente humano considerado como estoque
étnico descartável, para o qual a discriminação e a injustiça ambiental estão
irremediavelmente destinadas. O ambiente degradado afeta e adoece as pessoas
que habitam esses espaços, caracterizando de maneira definitiva como uma ação
racializada negativamente pelo estado.
A história mostra que o surgimento
das primeiras favelas no Rio de Janeiro foi provocado pela ocupação das
encostas dos morros do Centro do Rio pelos militares que combateram na Campanha
de Canudos e pela massa de escravos liberta através da Lei Áurea. Com o fim da
Campanha de Canudos (1896-1897) os soldados
que retornaram esperavam receber casas para morar que foram prometidas pelo
governo. Como a promessa não foi cumprida, os soldados que se abrigavam
temporariamente no entorno do Ministério da Guerra ao lado da Central do Brasil
não tiveram outra alternativa a não ser juntar madeiras que coletaram pela
cidade e construírem seus barracos no Morro da Providência, que já abrigava os
que foram defenestrados dos cortiços derrubados pelo Prefeito Pereira Passos.
Os negros e negras recém libertos não
possuíam vínculos trabalhistas e tampouco recursos financeiros para adquirir um
lote de terra para construir uma casa. A solução encontrada era ocupar um
espaço de terra em uma das encostas dos morros da cidade e construir uma
habitação frágil e improvisada com madeiras que eram coletadas pelos entulhos
de lixo da cidade.
Por um outro lado, o Rio de Janeiro
passava por um intenso processo de modernização denominado Bota Abaixo, onde o
Prefeito Pereira Passos de maneira arbitrária determinou que mais de 2000 casas
e cortiços da população negra e pobre fossem derrubados para dar lugar a
construções de avenidas e bulevares modernos que imitavam a cidade de Paris.
Em
seu livro “Planeta Favela” (Boitempo, 2006), o californiano Mike Davis
apresenta um estudo baseado em dados da ONU que aponta para dados
surpreendentes. O principal é que as favelas estão recebendo 25 milhões de
novos habitantes por ano, número que passa a engrossar o contingente de pessoas
que sofrem com o apartheid urbano. Segundo Davis, a neogentrificação faz parte
do novo modelo de desenvolvimento hegemônico do capitalismo, que trata a
humanidade como objeto e a utiliza de todas as maneiras possíveis em busca do
lucro desenfreado. Enquanto uns são utilizados como peões em um tabuleiro de
xadrez, outros são solenemente ignorados na fria qualidade de estoque étnico
descartável.
O
pesquisador Costa Pinto desenvolveu um estudo na década de 50 no Rio de Janeiro
que apontou que em cada 100 habitantes da cidade 27 eram “de cor”, enquanto que
nas favelas o indicador era invertido para 71 negros para cada 100 moradores.
Costa Pintpo denominou esses dados como segregação étnica. No ano de 2001 o pesquisador Ney Santos
Oliveira utilizando dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar – PNAD, do
Morro do Estado em Niterói, revela que 27,4% dos moradores da comunidade são
brancos enquanto que a população negra representa 72,6% dos moradores. Enquanto
que nas áreas nobres de Niterói os dados se invertem com 72% de moradores
brancos e 28% de moradores negros.
A elite gosta da favela, não para
frequentar, mas por ser um território extremamente precarizado, sem os
requisitos mínimos necessários de civilidade e controlado por poderosas facções
criminosas que impõem suas próprias leis e submetem à comunidade um regime de
terror e violência. É um território onde há submissão total dos moradores ao
poder paralelo, que é o principal emulador das normas locais vigentes. Para a
burguesia isso é bom, pois, seus serviçais recebem em seus próprios territórios
as “lições de servilismo e obediência” necessárias para lidar com o poder enquanto
que estabelece uma relação de alteridade social que diz a quem devem obedecer.
A subserviência e o conformismo impostos pelo terror, mostra para aquela
população de maioria negra que a rebelião não é uma possibilidade. Devem compreender
e assimilar que seus destinos estão traçados de maneira inexorável e que não
podem tentar se organizar e se rebelar para transformar a situação em que
vivem.
A existência das favelas é
fundamental para a sobrevivência das elites. A dicotomia civilizatória define
para a população pobre daqueles territórios a impossibilidade de qualquer
ascensão social que equipare suas vidas as de seus patrões. Por isso a
inconformidade das elites com o sistema de cotas, pois o sistema democrático
faz com que seus filho frequentem as mesmas salas das universidades que os
filhos de seus empregados.
A favela é o marco civilizatório que
define o fim da rebelião. Viver em seu seio com a violência cotidiana do
narcotráfico e com a guerra cotidiana promovida pelos aparelhos de repressão de
estado, ou seja, as polícias, mostra que todos estão entregues à própria sorte,
sem amparo ou justiça social. Como se não bastasse o conjunto de assimetrias
sociais, agregue-se ainda a discriminação pelo Código de Endereçamento Postal –
CEP. O recurso que tem como objetivo facilitar a identificação de logradouros
para o endereçamento postal, tornou-se um outro indicador que podemos chamar de
Código de Envolvimento Perigoso, que serve como marcador social para os
sistemas de avaliação de crédito, risco bancário e contratação pelos setores de
RH das empresas e de contratação de trabalhadoras e trabalhadores domésticos
por seus patrões. O racismo ambiental faz com que os trabalhadores que habitam
territórios negros sejam obrigado a renegá-los
em busca de uma chance no mercado de trabalho. São levados a buscar
endereço de parentes que moram em outras áreas da cidade para que possam
apresentar um endereço “condizente”.
O filósofo camaronês Achile Mbembé desenvolveu
o conceito de necropolítica, onde nesses territórios precarizados o estado
através dos seus sistemas de repressão possui licença para matar.
As crianças desses territórios não são
expostas somente à violência cotidiana das armas. Vivem ameaçadas pelos mais
diversos vetores ambientais negativos que podem afetar aquele agrupamento
humano. A convivência em habitações por vezes diminutas e insalubres, que
abrigam várias pessoas, propícia a disseminação das mais diversas doenças
contagiosas como por exemplo a tuberculose, que em certas comunidades do Rio de
Janeiro está em situação alarmante.
A ausência de saneamento básico no Brasil no ano de
2019 sobrecarregou o SUS com quase 280 mil internações com 2.734 óbitos. A
incidência de internações foi de 13,01 casos por 10 mil habitantes, gerando um
custo adicional ao país de R$ 108 milhões no mesmo ano. O estudo Saneamento e
Doenças de Veiculação Hídrica do Instituto Trata Brasil foi realizado a partir
de dados públicos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – SNIS e
DATASUS no portal do Ministério da Saúde. A região Nordeste, que em números gerais registrou mais
internações, teve a maior despesa com esse tipo de internação - R$ 42,9
milhões. Na sequência, o Sudeste teve R$ 27,8 milhões com gastos desse tipo,
contra R$ 15,2 milhões do Norte, R$ 11,7 milhões do Sul e R$ 10,2 milhões do
Centro-Oeste.
A falta de acesso à água tratada e esgotamento sanitário
ocasionou a morte de 907 pessoas no Sudeste, 331 no Sul, 214 no Norte, 213 no
Centro-Oeste e mais de mil no Nordeste por doenças de veiculação hídrica, entre
elas estão as diarreicas, dengue, leptospirose, esquistossomose e malária.
O estudo do Trata Brasil mostra que quase 35 milhões
de pessoas vivem em locais sem acesso à água tratada, 100 milhões de pessoas
sem acesso à coleta de esgoto e somente 49% dos esgotos no país são tratados.
Os indicadores do estudo demonstram que há um país partido.
De uma lado o Brasil da Bélgica com elevados padrões civilizatórios e de outro
o Brasil da Índia, abandonado pelo estado e submetido à crueldade dos seus
governantes, que condenam à morte e ao sofrimento milhares de brasileiros todos
os anos por conta de sua origem étnica e cor da pele.
Outros fatores concorrem para o
aumento das doenças da população que habita essas áreas deletérias. As ruas sem
calçamento despertam processos alérgicos em grande parte da comunidade que é
obrigada a conviver coma a poeira tóxica cotidianamente durante anos a fio. Esses
territórios são escolhidos pelas empresas para abrigarem suas plantas
industriais com o falso argumento da geração de empregos. Óbvio que esses
empregos gerados pelas plantas industriais alocadas nesses territórios obedecem
a uma hierarquia laboral. Os melhores postos de trabalho não são destinados aos
moradores dessas comunidades. Pelo contrário, a “inteligência” da empresa e
seus cargos de direção está reservada para as pessoas da burguesia, que
certamente não moram nessas comunidades. Para os habitantes desses territórios
são reservadas as atividades insalubres, expostas a produtos químicos e
manipulações perigosas. Outro fator que estimula as empresas a se estabelecerem
no entorno das comunidades é a não necessidade de arcar com os custos patronais
do auxílio transporte e da vantagem da proximidade. Todas essas espertezas são
encobertas pelo manto de uma característica da modernidade empresarial
denominada responsabilidade social. Mas como o capitalismo sofistica-se de
maneira contínua, o termo mais usado atualmente é responsabilidade socioambiental.
A ironia é que essas empresas não
consideram o ser humano como parte do ambiente. Destina-lhe atividades
perigosas e insalubres, não colabora com a elevação de sanitização da
comunidade, polui o meio ambiente, adoece as famílias e recebe da burguesia e
do capitalismo o selo de ambientalmente e socialmente responsável.
Essas empresas costumam despejar seus
efluentes tóxicos nós rios e riachos dessas comunidades, contaminando o lençol
freático que é utilizado pela comunidade como fonte de abastecimento de água
através de poços escavados no solo.
Enquanto
sistema, o racismo ambiental opera em todas as direções possíveis e necessárias
ao projeto de sofisticação e expansão do capitalismo. Ataca e depaupera o modo
de vida dos povos originários com mega projetos de mineração e extração de
madeiras. Marisqueiras e pescadores artesanais, quilombolas, ribeirinhos e
agricultores familiares. Esses povos são condenados ao exílio em seus próprio
país, são desterrados de seus territórios e agregados em reservas de
confinamento cada vez menores. Com o tempo são alcançados pelas periferias das
cidades e passam a conviver com lixões, fábricas poluidoras e efluentes
tóxicos. No Mapa de Conflitos Causados pelo Racismo Ambiental (http://www.justicaambiental.org.br/_justicaambiental/pagina.php?id=1555)
a grande parte das denúncias são referentes a conflitos fora dos centros
urbanos, onde a mídia não está presente com sua cobertura jornalística.
Apesar de todos os óbices naturais, o
Racismo Ambiental fez parte da pauta da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, Escócia em 2021. O
Movimento Negro Brasileiro participou com uma comitiva bastante representativa.
Organizações como a Coalizão Negra por Direitos que representa mais de 250
entidades negras, apresentaram as demandas da população negra que sofre com os
impactos gerados pelo Racismo Ambiental. O Brasil possui mais de 3.100
comunidades quilombolas e somente 13% deste total foi regularizada pelo INCRA e
órgãos estaduais de terras. O Brasil necessita titular 1490 processos de
regularização fundiária de com unidades quilombolas até o ano de 2030.
A
participação da delegação brasileira na conferência foi bastante expressiva. Na
COP 27 em Cairo no Egito o debate foi mais focalizado nas mudanças climáticas,
transição energética, desmatamento e frotas de veículos elétricos. De uma
maneira geral há uma enorme preocupação com os ecossistemas, biomas e
florestas. Porém, no que tange à proteção de populações negras impactadas pelo
racismo ambiental o debate ainda é bastante tímido. O grande desafio que há
pela frente será transportar para a agenda nacional o que foi acordado nas
cúpulas do clima e no Acordo de Paris. As propostas acordadas e aceitas pelo
Brasil, de uma maneira ou de outra, impactam positivamente no cotidiano e bem
estar das populações negras que habitam os territórios mais precarizados de
nosso país.
A sociedade civil organizada enfrenta a questão do racismo
ambiental em diferentes frentes de luta e disseminação de informações. Uma
dessas referências é o Mapa de Conflitos envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde
no Brasil, projeto da Fiocruz coordenado pela pesquisadora Tânia Pacheco.
No âmbito das
Nações Unidas há o “Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos –
Habitat. O programa apoia comunidades como Complexo do Alemão, Maré, Chapadão,
Pedreira, Vila Kennedy, Lins, Penha, Cidade de Deus, Jacarezinho e Rocinha.
Esses territórios são cobertos pelo “Programa Territórios Sociais”. O Fundo da
ONU para a Infância, Unicef, também colabora nessa iniciativa que atua em 10
assentamentos informais. Os idosos, incluindo acamados e com problemas
cardíacos, receberam cestas básicas, desinfetantes, sabonete líquido,
desodorante, xampu e escovas de dentes com o apoio da Secretaria de Saúde do
Rio de Janeiro. A seleção do grupo foi baseada na recolha de dados produzidos
pelo Programa Territórios Sociais.
Nesse processo,
a ONU-Habitat Brasil ajudou as atividades em comunidades para garantir que a
assistência chegasse aos mais pobres e fragilizados.
O panorama do
racismo ambiental é um mosaico horroroso que marca de maneira profunda a
desigualdade social brasileira. Enquanto os moradores desses espaços
precarizados não assumirem o protagonismo político da gestão dos territórios
impactados nada mudará. O que podemos assistir é a visita de políticos durante
o período eleitoral procurando cooptar as lideranças comunitárias ou celebrar
pactos sombrios com o poder paralelo local.
Para que o sol
possa brilhar de maneira equânime para todos os habitantes das cidades
brasileiras torna-se necessário que todos se envolvam no processo da nova e
verdadeira abolição que é nosso devir, nós do povo negro.
Há uma
inequívoca vontade por parte dos governos de que tudo deva permanecer como
está. São criados mil projetos, ações sociais, intervenções locais mas tudo
permanece como sempre esteve. É uma demonstração de anomia governamental
misturada com ausência de força anímica, que estabeleça junto com essas
comunidades um pacto de governança local e estudos que possam transformar esses
espaços arquitetônicos caóticos em exemplos de urbanização e ordenação social.
Não se pode
aceitar que essas cidades com tantas universidades e centros de pesquisas não
possam ser provocadas pelo poder público para estabelecer parcerias com os
habitantes desses territórios na elaboração de projetos de infraestrutura, com
novos equipamentos sócias funcionais como escolas, creches, organizações
sociais e postos de saúde eficientes. Com ruas amplas e sinalizadas e
habitações dignas. Não se pode cobrar e tampouco pensar um mundo melhor quando
que o que se oferece àquelas populações é o restolho social do banquete
antropológico da branquitude.
“Egotrip”, “Fallen Angel”e
“Ensaios Sobre o Fascismo Brasileiro”.
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