Se Sir Isaac Newton tivesse visto Pelé jogar, provavelmente teria
desenvolvido outras teorias, que aos olhos da ciência, pareceriam improváveis. Foi batizado Edson por seu pai Dondinho em homenagem ao inventor Thomas Edson. O apelido Pelé foi referenciado no goleiro Bilé do Vasco de São Lourenço/MG, onde seu pai Dondinho jogava profissionalmente.
Um jogador de futebol, creio que a grande maioria não saiba disso,
é um laboratório vivo em ação. Ele trabalha com inúmeros conceitos da Física ao
mesmo tempo e seu cérebro precisa processar essas informações de maneira simultânea.
Se prestarmos atenção uma partida de futebol, durante seu decorrer, os
jogadores trabalham intensamente conceitos como força, velocidade, pressão, tempo,
espaço, impulso, giro, ginga, interação, previsão, ilusão,
controle e parametrização. Durante uma partida de futebol todas essas situações
acontecem ao mesmo tempo sobre os jogadores, e aquele que tiver maior compreensão
e habilidade em como lidar com todas essas transversalidades de maneira eficiente,
terá assegurado seu espaço na fama e talvez adquirir riqueza.
Pelé foi o único atleta de futebol que conseguiu compreender
de maneira completa a singularidade desse ambiente multidisciplinar. Conseguiu dominar
todos os conceitos que se apresentam com o jogador em movimento constante, em velocidades
inimagináveis para um bípede humano, desafiando sistematicamente as leis da Física, seja levando o corpo a desafiar a Lei da Gravidade como efetuar um chute de efeito com o lado de fora do pé que faz a bola mudar sua trajetória no ar, como se um anjo estivesse interferindo em seu percurso. Neste exato momento o goleiro adversário de desloca para a direção original onde a bola foi chutada, mas no meio do caminho ela toma outra direção e como se bafejada pelos deuses do futebol, desobedece a lei natural do movimento e rebelde muda seu destino, para morrer suavemente no fundo da rede, sob o olhar desconcertado de um goleiro em pânico, por estar inacreditavelmente no lugar errado.
Um craque como Pelé é diferenciado da maioria porque seu cérebro
trabalha incansavelmente durante uma partida de futebol. Ele se mantém em rastreamento
constante, analisando a mobilidade do conjunto de 21 jogadores, tanto seus companheiros
como seus adversários. Observa atento aos espaços possíveis de ataque, a distância
do gol adversário, a altura do goleiro relação ao travessão da meta, a posição do
goleiro, o jogador ideal para cada tipo de jogada. Se for precisar de cruzamento
na área ele entrega a bola para o ponta ir à linha de fundo e cruzar, tem que ter
velocidade. Se quer penetrar na defesa em uma infiltração vertical vai precisar
de um parceiro habilidoso que entenda a troca de passes, enfim, o cérebro do jogador
trabalha febrilmente desenvolvendo possibilidades para atingir o objetivo principal
da partida que é o gol, o clímax do espetáculo.
Quando o time adversário está com a bola, ele precisa reagrupar
o time, fechar os espaços, combater com virilidade, impedir as infiltrações, cabecear
os cruzamentos adversários, possuir maior impulso e rebater a bola com força quando
necessário.
Todos esses movimentos acontecendo de maneira contínua em alta
velocidade exigem uma leitura precisa dos atletas para que seu desempenho seja no
mínimo satisfatório. Os atletas que não conseguem operar de forma perfeita esses
conceitos, podem até ser jogadores de futebol, mas não são craques.
O que difere o craque dos jogadores normais? Simples, o craque
está sempre um passo à frente. Enquanto os jogadores comuns estão esbaforidos tentando
solucionar uma situação, o craque já conseguiu distinguir o final da jogada e o
início da outra. Ele já sabe o que fará, de maneira antecipada, enfim, é um visionário
espetacular operando no meio de seres humanos normais.
Assim era Pelé. Era o rei porque como os grandes enxadristas,
sabia com antecipação os próximos movimentos. Sabia dosar a velocidade, sabia o
momento da finta, do ilusionismo, quando o corpo contraria a lei da gravidade e
fica onde não poderia estar, movimenta-se em um balé histriônico, onde o outro procura
assombrado por um corpo que deveria estar ali mas que passou e partiu há muito.
Pelé é responsável pela construção de uma obra absurda, onde
o corpo físico enquanto pode jogar contrariou todas as leis da ciência no que tange
à utilização do corpo na prática de esportes. O mais respeitado dos cientistas nunca
conseguiria colocar no papel a forma de jogar futebol desenvolvida por Pelé.
Se Isaac Newton tivesse visto Pelé jogar, teria desenvolvido
naquela época, drones, carros de Fórmula 1, aviões e submarinos. Criaria tudo isso
vendo aquele homem negro correndo pelos gramados dia campos de futebol. Pelé desenvolveu
uma Física que não pode ser apresentada em fórmulas porque foi simplesmente impossível.
A dimensão de Pelé se torna evidente quando viajamos pelo mundo. Estive no interior da Índia e a única referência que tinham do Brasil era Pelé. Se Pelé não existisse essas pessoas não conheceriam o Brasil. Assim foi comigo em todos os recantos do mundo por 9nde passei. As pessoas conhecem que existe um lugar no planeta chamado Brasil, porque há um cidadão desse país que é chamado de Pelé. Então ocorre o fato raro da existência da palavra composta Pelé-Brasil.
Se Newton tivesse conhecido e visto Pelé jogar, teríamos duas
alternativas. Ou o mundo teria sido outro
muito mais evoluído ou o rapaz da Vila Belmiro teria levado uma maçã na cabeça.
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