Estamos assistindo a Copa do Mundo de Futebol 2022 no Catar. O mundo deita os olhos no enclave oriental, onde sua majestade a bola, reinará imponente durante 30 dias.
Meu olhar é curioso e seletivo. Presto muita atenção em detalhes que costumam passar despercebidos para a grande maioria das pessoas. Costumo buscar, por exemplo, comparar os salários dos jogadores. Então cruzo desempenho no gramado com a faixa salarial. Outra curiosidade que tenho é prestar atenção nas torcidas no intuito de identificar pessoas negras quando o jogo não é de nenhum país africano. Parece que nesta edição do evento, dos 32 países participantes somente quatro não possuíam negros em suas equipes.
A torcida do Brasil, por exemplo, era constituída de 99% de brancos, mostrando para o mundo a escancarada desigualdade social. Os negros brasileiros brilham nos gramados mundo afora, mas a plateia que se deleita com suas habilidades não possui negros em sua composição.
Assim como o samba e a capoeira, o futebol não era um esporte cultuado pelas elites. O jogador de futebol era discriminado tanto por ser negro como por ser branco pobre. O esporte não gerava os contratos milionários de hoje em dia. O goleiro Manga contava que saíam do Maracanã depois do jogo e corriam para a feira livre comprar o almoço com o dinheiro do ‘bicho’ que recebiam. Na Copa do Catar pudemos assistir espantados jogadores brasileiros saboreando bifes coberto por ouro que custavam 9 mil reais a unidade. Além de gastarem uma verdadeira fortuna com o jantar, ostentavam relógios avaliados em 3 milhões de reais. Os tempos realmente são outros. Muitos jogadores viajam em suas próprias aeronaves movidas a jato, que atravessam o oceano sem necessitar de abastecimento. Muitos vão para os treinos em seus helicópteros e usufruem as férias em seus iates, que são vistos ancorados em diversos paraísos naturais ao redor do mundo.
Os negros do Catar participaram da copa, mas como operários que vieram de fora para trabalhar na construção dos estádios. Morreram mais de 6 mil trabalhadores na construção dos estádios. Obviamente que a grande maioria dos que os perderam não era de operários brancos.
A copa também mostra algumas curiosidades históricas, como o fato da seleção da Argentina ser a única seleção da América do Sul a não possuir jogadores negros em seu elenco. A explicação repousa em várias narrativas, principalmente que ela indenizou seus ex-escravos que concordaram em ir para o Brasil. Também enviou uma infinidade de escravos para as guerras da época, onde a grande maioria perdeu a vida. Por se considerar a Europa dos trópicos, orgulha-se pelo fato de sua população ser majoritariamente caucasiana.
Um dos fatos que mais prende minha atenção é a torcida dos países africanos. A diferença de felicidade é gritante. Os africanos chegam com seus trajes multicoloridas, cantando, tocando seus instrumentos e dançando felizes. O contraste comportamental é enorme, onde o corpo africano se diferencia dos europeus, americanos e asiáticos, com suas danças exuberantes, seus deuses e seus corpos falantes, que são verdadeiras maravilhas.
Quando a copa terminar o Catar voltará ao normal, com o islamismo cobrindo as mulheres e as expressões efusivas de felicidade controladas. O público LGBTQIA+ sairá de circulação e o consumo de álcool terá sua proibição de volta. Porém, os habitantes locais jamais esquecerão que existem povos felizes e que podem demonstrar essa felicidade. Que existem povos que podem demonstrar afeição por pessoas do mesmo gênero publicamente sem serem castigados, que mulheres podem andar livremente como queiram, até fumando e bebendo sozinha.
A copa do mundo não se resume em atletas milionários correndo atrás de uma bola. Ela serve para unir os povos e principalmente mostrar a diferença cultural entre os mais diversos povos do planeta. Na competição futebolística somente um país sai vencedor, porém, na agregação de valor todos vencem de uma maneira ou de outra.
Apesar de ser considerado um evento excludente devido ao alto custo cobrado ao público participante, tornando-o exclusivista, a copa do mundo traz em seu bojo um quê de união dos povos, um orgulho patriótico saudável, não ufanista, saudável e verdadeiro.
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