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Eu Negro

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

HOMO HOMINI LUPUS

Homo Homini Lupus

Em seu livro Leviatã, Thomas Hobbes tornou célebre a frase do dramaturgo romano Platus, que disse “homo homini lupus”, ou seja, “o lobo é o lobo do homem”. Hobbes tem no cerne de sua doutrina a afirmação de que o homem (ou sociedade) vivem em constante estado de guerra ou, levado a ela devido ao seu estado de natureza, ou estado natural. Para que consiga viver em sociedade, preferencialmente em paz, longe das ameaças cotidianas de confronto, o homem criou o estado de guerra.
Baruch Spinoza, o filósofo racionalista holandês de origem íbero/judaica que viveu no século XVII, apesar de seu extremo sofrimento pessoal, fez uma elegia à vida através de seu pensamento panteísta. Em sua obra preconizava que a imanência de Deus estava representada pela natureza, ou seja, Deus era a própria natureza e podia ser visto nas coisas como elas são. E assim como um Ser não julgador, Deus também estaria Contido no estado de guerra. O determinismo de Spinoza se exprime através do que ele designou de Conatus, nossa vontade de viver, a potência de viver ( o super homem de Nietzsche?) através de nossa própria natureza.
Thomas Hobbes apresenta em Leviatã a ideia de contrato social, onde a sociedade para poder abandonar o “estado de guerra” estabelece regras comuns de convivência. O contrato social cumpre o papel de gênese do estado moderno, um pacto de associação, mas nunca de submissão, como disse Rosseau. Porém, o estado em sua constituição através dos séculos, adquiriu fortes contornos do liberalismo, principalmente fundamentado na doutrina de John Locke, opositor ferrenho da ideia do direito divino, embutido no absolutismo, posição defendida por Hobbes.
 A doutrina de Locke influenciou fortemente o movimento iluminista, que influenciou a Revolução Francesa Independência dos Estados Unidos e a Primavera dos Povos com seu ápice em 1848.
O pensamento iluminista influenciou diversos movimentos no Brasil. Podemos citar alguns importantes como a Inconfidência Mineira, a Revolta do Malês na Bahia e a própria proclamação da república, esta própria porém, envelopada em grande parte pelo pensamento positivista de Augusto Conte.
Se misturarmos todas essas doutrinas em um caldeirão brasileiro, vamos desaguar em uma feijoada de feijão branco, sem os principais petiscos que são as guerras escravas por libertação, a força imperiosa da cultura africana enquanto patamar civilizatório, o esforço do abolicionismo, além da constatação de que o liberalismo não foi feito por e nem dedicado para gerar riqueza e bem estar para o povo negro.
O papel da população negra diante desses fatos históricos, não foi somente como coadjuvante, mas também e principalmente como  vítimas diretas do colonialismo e da escravidão, pilares fundamentais para a consolidação do liberalismo e consequentemente o capitalismo.
Franz Fanon intelectual negro africano, também médico psiquiatra, apoiou durante décadas as guerras de libertação africanas, sendo membro da Frente de Libertação Nacional da Argélia, na época submetida a pesado jugo da França. 
Fanon aprofundou os estudos acerca da psicopatologia da colonização, desenvolvendo a psicologia da comunidade ou comunitária, que nada mais é do que o movimento antimanicomial de hoje. Processo que prega o fim da internação e a integração do doente à família e à comunidade. Em seu livro “Os Condenados da Terra”, Fanon discorre sobre a violência como modo de remover dos países africanos a figura do colonizador racista.
Achile Mbembé é um filósofo camaronês que apresentou para a comunidade internacional seus estudos sobre a Necropolítica. A Necropolítica é um mosaico institucional, onde o estado, autoritário e despótico como preconizava Hobbes, adquire o poder de eliminar cidadãos em territórios específicos, resguardados sob a égide de um poder legitimado pela sociedade. Esse movimento evidencia o estado de “guerra” de Hobbes, o Conatus de Spinoza e a defesa do liberalismo de Locke.
Onde e como no Brasil se aplica a máxima de Platus, de que o homem é o lobo do homem? Certamente na atualidade. O Brasil se tonou o paraíso da distopia. Um país distópico, onde é de certa forma normaliza-se a figura da “ignorância ostentação”.  Vivemos em uma sociedade lastreada pelas políticas liberais que condenam à pobreza a maioria de sua população, dentro desse espectro, grande parte de pobres e miseráveis é de população negra. O liberalismo de Locke delimita a população negra de Fanon e Mbembé a guetos e territórios precarizados, onde as habitações não passam de senzalas contemporâneas e os transportes para locomoção são navios negreiros contemporâneos. A saúde mental desse contingente humano negro, obviamente descreve a patologia dos pacientes colonizados de Fanon, com as mesmas condições de abandono social pelos sistemas de saúde governamentais, abandonados e canibalizados. Esse desmonte estatal são, em detrimento aos sistemas privados de saúde, onde só pode ser atendido os que podem pagar. Portanto está em curso um lento e silencioso processo eugênico, que no futuro terá enorme significância no estrato eleitoral da população.
Spinoza e Hobbes tinham aversão à metafísica. Pois bem, esse tipo de manifestação, quando utilizada em nome de Deus, leva o povo a crer que seu estado de pobreza e indigência não é devido a um um projeto liberal de intensa acumulação de capital, e sim uma dogmática determinação divina. Assim fizeram os dalits da Índia acreditar que eram a “poeira de Brahma”, restando a eles servirem de lacaios às castas superiores, sendo inclusive proibidos de pisarem na sobra de outro indiano de casta superior. A Índia foi colonizada pela Inglaterra por mais de duzentos anos e do ventre de suas lutas de libertação surgiu Mahatma Gandhi, que contrário a doutrina de Fanon e Mandela, pregava a não-violência.
O movimento político brasileiro atual tem consolidado o retorno ao integralismo. Apesar de desconhecerem integralistas de peso como San Thiago Dantas, Lauro Escorel, Miguel Reale, Plínio Salgado e Gustavo Barroso. Os integralistas reacionários da atualidade, seguem beócios desprovidos de qualquer tipo de verniz intelectual. Pregam a violência, o culto às armas, a eliminação física de apenados e a segregação racial. O Brasil abriu sua caixa de pandora e dela saltam teorias loucas como a terra plana e os movimentos anti imunizatórios.
Saindo de uma onda pandêmica e entrando imediatamente em outra, sem sabermos o que acontecerá daqui a um ano, somos reféns dessas teoria absurdas e quem paga o preço maior é a população negra.
A Filosofia é um poderoso farol que lança suas luzes instigantes sobre o difuso oceano da vida. Porém, para nós do povo negro, a Filosofia que nos vem sendo apresentada através dos séculos, quando fundamentada e mesclada com a política, só tem trazido tristezas, amarguras e dissabores.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

CENTRO BOM SÓ DE UMBANDA

 Centro em política não existe. É uma figura de retórica que inventaram para não se aprofundar a dialética e arrumar um lugar honroso para a direita mais envergonhada. Presume-se centro aquele lugar onde as pessoas não estão alinhadas politicamente nem à esquerda e nem à direita. Presume-se mas é mera presunção mesmo. O Centro é o pior que existe na política, pois, está naquela pretensa posição de neutralidade para namorar com a esquerda e assim conseguir um ótimo casamento com a direita. O Centro só vota com a esquerda para enviar recados à direita. Geralmente em votações sem expressão ou então em políticas sociais inexpressivas. Mas é o suficiente para alvoroçar as hostes direitistas, que concedem tudo que podem para continuar no controle da política nacional. 

Não existe Centro, existe sim, direita e esquerda, que não necessariamente são lados antagônicos e irremediáveis na construção do consenso em prol do bem comum.
A direita, além de assustar a população com a velha ameaça do comunismo que nem existe mais, defende o livre mercado, o liberalismo, a meritocracia e a iniciativa privada como propulsores do desenvolvimento e da matriz do pensamento político da sociedade. Sempre bom lembrar que falo de direita e não de fascismo, que apresentou a inédita "mamadeira de piroca e o kit gay" no último certame presidencial, culminando com uma ministra que jura ter tido uma resenha com Jesus Cristo sob uma agora sagrada goiabeira.

A esquerda defende como fator de desenvolvimento uma forte atuação do Estado na economia e na sociedade. obras de infraestrutura para a promoção da empregabilidade, investe nas universidades e centros de inteligência endógenos. Promove políticas compensatórias e de ações afirmativas através de mecanismos de controle social e políticas públicas como o apoio à reforma agrária, o bicho papão dos liberais e do agronegócio.

Fora desse cenário não há alternativa viável para um provável Centro, dentro do espectro político existente, é um truque sujo da direita caviar. Quando clamam pelo Centro, no fundo anseiam uma fusão dos dois modelos existentes (esquerda e direita), com 90% de predominância das teses da direita. Para a esquerda eles deixam a política de direitos humanos e a de integração racial. Isso já foi tentado antes, no governo FHC, e o resultado não foi dos melhores. Foi a tal social-democracia morena, que vendeu grandes estatais brasileiras, enriquecendo muitas raposas políticas, desaparecendo sem mostrar a que veio e não vingando por aqui.
 Por favor me apresentem o modelo político e sócio-econômico com o qual o Centro governará o Brasil fora das agendas existentes. Realmente fico curioso por sabê-lo.
As pouquíssimas experiências reais do Centro no poder, sempre acabaram nos braços da direita, que é sua gênese original. Sinceramente pedindo desculpas antecipadamente, acho que é o jeitinho brasileiro de se apresentar como direita 'prime', o Centro.

A democracia é assim, desse jeito, possui raízes amargas mas seus frutos geralmente são doces. Vivemos nesta jovem nação brasileira, que está saindo da adolescência com seus hormônios políticos em ebulição. Na verdade, só conta de 1808 para cá com a chegada da família real. Muito pouco tempo enquanto nação. Pouquíssimo tempo enquanto república, 132 anos apenas. Muitas pessoas pelo mundo beiram esta idade.
Erguer essa nação é tarefa que exigirá muito caráter e determinação para fazê-lo. Ainda não estamos prontos. Estão aplicando soro fisiológico no lugar de vacina da Covid para venderem cada dose a R$ 500,00 no mercado paralelo, para traficantes que não podem aparecer à luz do dia em um posto de saúde para serem imunizados.
Os europeus desde que aqui chegaram só fizeram espoliar e escravizar. Como uma nação pode se desenvolver dessa maneira? A corrupção faz parte do DNA deste país desde 1500. Portugal não povoou o Brasil, transformando-o em uma colônia de extrativismo e não de povoação como fez a Inglaterra nos EUA. A enorme concentração de terras nas mãos de poucos junto com a escravidão de cerca de 15 milhões de africanos atou o desenvolvimento do país nos mesmos grilhões que estavam atados aos pés dos cativos. O nepotismo, o roubo e a safadeza sempre fizeram parte dos que governaram este país sendo império ou república. As capitanis hereditárias ainda estão em pleno funcionamento: Sarney no Maranhão, Barbalho no Pará, Cunha Lima na Paraíba, Alves no Rio Grande do Norte, Mendes no Amazonas, Caiado em Goiás, Magalhães na Bahia, Bornhausen no Sul e por aí vai. Todos ruralistas proprietários de inúmeras fazendas de origem duvidosas e quase todas terras devolutas. Eles controlam o Congresso Nacional e por isso a reforma agrária sempre será um arremedo. Nos EUA, apesar da chacina com os povos originários, os colonos vinham com suas famílias e recebiam terras para produzir o que ocasionou a vigorosa e pujante economia daquele país, 'descoberto' com oito anos de antecedência do Brasil.
Alguém sabe dos 51 milhões do Geddel? Só se fala do Lula, enfim.

A POPULAÇÃO NEGRA E A COVID

Covid 19 - A Imunização  da População Negra
O Ministério da Saúde apresentou os primeiros dados tabulados da população vacinada do país. Os números não chegam a impressionar, pois, quando um país com profunda desigualdade social e regido pelo instituto do racismo estrutural participa de política pública universalista, não poderia apresentar resultado diferente.
Os dados oficiais apresentados pelo Ministério da Saúde mostram que somente 19% dos 5 milhões de vacinados no país que foram registrados pelo Ministério da Saúde eram pretos ou pardos. Os dados apenas comprovam que há uma estranha assimetria na imunização da população negra, na medida em que compõe 56% do percentual da população brasileira, de acordo com os dados do Censo Estatístico do IBGE.
Apesar do esforço de imunização estar concentrado em profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à Covid-19 e esse contingente em tese ser majoritariamente negro e pardo, ainda assim a imunização está salvando mais brancos que negros.
Quando a imunização passa a ser aplicada nos espaços e territórios degradados, a lógica dos dados se fortalece, mostrando que para um contingente de 336 moradores de rua que foram vacinados, 64% são negros e 27% são brancos. Entre os 950 mil idosos com 80 anos ou mais, 41% são brancos e 18% são pretos ou pardos. Porquê somente 18% de negros e pardos? A resposta é simples: o número de negros que consegue ultrapassar a barreira dos 80 anos é bastante inferior ao contingente humano não negro.

Segundo Alexandre da Silva, doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo e membro do grupo de trabalho Racismo e Saúde, da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, a chegada à maturidade da população negra é diferente e desigual a da população branca. Por esse motivo, a população negra deveria ser objeto de mais atenção por parte das autoridades de saúde de nosso país.
Um contingente humano que geneticamente é propenso a enfermidades crônicas e prevalentes como hipertensão e diabetes, além de obesidade por má nutrição, está diretamente afetado pelos riscos de contágio e agravamento do estado de saúde caso contraia a Covid-19. Portanto, esse contingente deveria ser priorizado tanto na imunização como na prevenção. Se levarmos em conta que esse contingente racial encontra-se em condições historicamente inferiores aos outros estratos sociais da composição racial brasileira, causa espanto não haver nenhuma medida oficial para a proteção imediata desses cidadãos.
As desigualdades são históricas e estruturais. A população negra em sua grande maioria habita lugares degradados ou deixados de lado pelo poder público. O saneamento básico é deficiente, assim como as demais condições ambientais. Esses territórios estão afastados dos centros das cidades e os transportes são irregulares e deficientes. A baixa escolarização garante subempregos que remuneram mal e não permitem acesso a uma boa nutrição. Nesse conjunto anticivilizatório deve-se acrescentar a violência institucional dos aparelhos de repressão de estado e dos narcotraficantes que controlam seus territórios nem que para isso promovam verdadeiras guerras com grupos rivais que lutam pela tomada do território. Em meio a esse enorme caos existencial está a escola pública local e as unidades de saúde, geralmente entregues à abnegação de seus servidores para que haja um entrega mínima de serviços.
Os dados demonstram que quase 30% dos registros dos imunizados não traz a informação raça/cor. O Dr. Alexandre da Silva enfatiza que a não determinação de raça/cor impede uma análise aprofundada que gera um óbice no desenho do perfil verdadeiro do espectro da Covid-19 na população negra. 
Os marcadores de gênero e faixa etária são tratados com prioridade, pois através dos dados sabemos quantos homens e mulheres foram imunizados e suas idades. Segundo Alexandre, o marcador raça/cor deixa de ser genético e se transforma em marcador social.
Estudos mostram que a recuperação da Covid-19 na rede privada de saúde é quase o dobro da rede pública. Se a população negra é atendida majoritariamente na rede pública por não possuir condições financeiras para adquirir seguro saúde da rede privada, podemos dizer que existem duas Covids no Brasil, a dos brancos e a dos negros. A dos brancos possibilita ampla recuperação enquanto que a dos negros infelizmente e invariavelmente leva ao óbito.
A pandemia do coronavírus acentua mais uma vez a situação da desigualdade social e do racismo estrutural brasileiro. Precisamos construir uma nação onde essas assimetrias gritantes deixem de existir. Esses dois brasis precisam ser extintos, o Brasil dos brancos e o Brasil dos negros. Um com IDH semelhante aos mais avançados países da Europa e outro com IDH tão baixo como os dos mais pobres países do mundo e não é para ser assim. 
Paz, justiça, cidadania e liberdade são eixos basilares de uma sociedade civilizada. Precisamos lutar para que ela seja uma conquista de todos e todas e não somente de um grupo privilegiado de habitantes.

MUNDOS INVISÍVEIS . O LIVRO . LANÇAMENTO EM DEZEMBRO.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

18 ANOS DA LEI 10.639/2003

A história dos negros no Brasil deixará de ser contada pelos vencedores.  A maioridade da lei 10.639/2003 em 18 anos de desafio

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
        Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B:
"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
"Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’."         Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.       
 Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Presidente da República Federativa do Brasil

O conteúdo do texto da Lei 10.639 é tão reduzido e famélico como o da Lei Áurea. Mas não deixa de ser um avanço enorme. Não caiu do céu e tampouco significa a conscientização ou conversão do poder público à temática racial. Foi uma vitória histórica do Movimento Negro brasileiro, conseguida através das incessantes lutas e demandas apresentadas desde sempre. O cumprimento desta lei apontará diretamente para o reposicionamento de nossa raiz indo-afro-ibérica, sendo que a construção da nação brasileira somente foi possível através da utilização intensiva da mão de obra escrava dos povos africanos/afrodescendentes e indígenas.
A promulgação da lei é motivo de comemoração e também de reflexão. Porém não deixa de ser motivo de constrangimento, pois, somente após 115 anos da abolição da escravatura, o archote da verdade e da justiça iluminou o parlamento brasileiro. Historicamente o parlamento brasileiro sempre foi branco, machista e sexista. Desde que não se ponha em risco seus privilégios e sua estrutura étnica, costuma aprovar essas leis, que para eles são meros penduricalhos políticos que agradam parte de seus eleitores.

Para o povo negro é de grande importância, pois traz em seu ventre a luz que poderá iluminar a invisibilidade histórica, programada e destinada ao povo negro. É uma reivindicação renitente do povo negro, o fim da invisibilidade. Acredita-se que ao entregar uma educação equânime a comunidade escolar, através de professores e profissionais da educação capacitados e sensibilizados, poderemos construir um futuro virtuoso, onde a diversidade seja valorizada e potencializada, onde as culturas em enlace produzam uma sociedade plural e afetuosa entre seus mais diferentes grupos étnicos.
Apesar de apresentar uma redação desidratada, a lei proporciona inúmeras possibilidades de abordagens. Há um mundo negro invisível a se descortinar, pronto para se saborear. Os docentes brasileiros podem enfim mergulhar no mundo de maravilhas que é a cultura negra, escudados pelo marco legal que os protegerá de aleivosias conservadoras e preconceituosas. 

A composição étnica da população brasileira que detém mais da metade de negros e pardos, clama por uma educação equânime, que valorize o protagonismo de africanos e afrodescendentes em nosso país, mostrando que através de seus esforços, martírios e raízes, impuseram um vigoroso protagonismo, mesmo que de maneira forçada na maioria das vezes, na construção da nação brasileira.
Ao ser obrigatória já denota um mau começo. Lei que obriga quando é justa, mostra o atraso civilizatório daquele povo.  Não é um bom começo, mas sem ela talvez nunca houvesse começo algum. 
Os invasores e colonizadores que aqui aportaram, sempre escreveram ou reescreveram nossa história de acordo com seus oportunismos. Geralmente suas narrativas apresentavam uma visão deturpada, recheada de imperialismo senhorial, preconceituosa e evangelizadora. A construção da nação brasileira no que tange a poder e participação cidadã, sempre foi unilateral e segregacionista no que concerne a espaços concedidos aos diversos componentes étnicos da população. Durante todo o processo de desenvolvimento colonial, do território que era Pindorama, depois Terra de Santa Cruz e finalmente consolidado Brasil, nunca houve um momento de merecimento e paz para indígenas, africanos e afrodescendentes. Aos povos negros e indígenas, foi imposto a submissão do cativeiro, a humilhação da subserviência, a retirada da alma e da crença originária, a tortura, a sevícia e a morte. Como herança futura restou para a população de uma maneira geral, a lembrança da escravidão, do cativeiro, da dominação e da representatividade menor. É assim que os negros e pardos são geralmente vistos pelo restante da população. Os contemporâneos desses contingentes étnicos, são vítimas até os dias atuais de ações criminosas carregadas de discriminação e preconceito.
A lei encontra resistências enormes em sua consolidação. Talvez devido ao modelo deformado de processo civilizatório que foi posto em marcha pelos colonizadores europeus. De nada adianta lamentar a colonização portuguesa e exaltar a inglesa ou a francesa. As ex-colônias desses países também vivem em estado de miséria em todos os canto do planeta. Podemos constatar como passa hoje o Haiti, Argélia, Jamaica, Índia, Guianas, além de inúmeros países africanos, principalmente da África subsaariana. 
Adam Smith em seu livro “A Riqueza das Nações” lembra que a palavra latina ‘colônia’ significava ‘plantation’, que na língua portuguesa quer dizer plantação. Porém a plantation aplicada ao novo Mundo, nesse caso não é somente uma área agricultável, mas sim um grande empreendimento colonial, com utilização de mão de obra escrava intensiva, sequestro e tráfico transatlântico de africanos, construção de navios negreiros, além da venda, compra e troca de mercadorias por escravos nos diversos entrepostos comerciais africanos.
A colonização do Brasil pelos portugueses foi muito violenta e perversa. Assim como na América Espanhola, foram exterminados milhões de autóctones com uma cultura riquíssima, centenas de línguas se perderam como se milhares de bibliotecas fossem incineradas. Somado a esse genocídio, milhões de cidadãos africanos foram sequestrados, retirados à força de seus países, de seus lares e trazidos em correntes para o cativeiro eterno. Esses africanos sempre foram considerados como seres sem alma, objetos falantes, por isso seus ‘senhores’ podiam dispor de seus corpos como bem o quisessem. O estupro sistemático das mulheres negras escravizadas foi um crime monstruoso que é mantido em silêncio, ou melhor, na invisibilidade. Essas mulheres eram violadas para gerarem filhos, que os escravizadores chamavam de ‘crias’, que ao completar a adolescência eram vendidos nos mercados de escravos. Imagine a dor dessas mulheres ao terem os filhos e filhas retiradas de suas vidas para serem comercializados como animais.
A escravidão no Brasil nunca foi pacífica ou cordial como muitos costumam dizer. Foi um período de intensos conflitos. A rebelião era comum nas fazendas e em outros empreendimentos escravocratas coloniais. A instituição dos quilombos se alastrava pelo país, o de Palmares durou inacreditáveis 100 anos e lutou mais de quarenta batalhas contra os impérios holandês e português, além de se bater contra os milicianos da época que eram os bandeirantes. 
A historiografia oficial sempre apresentou uma versão equivocada sobre a resistência quilombola. Os negros dos quilombos eram considerados malfeitores, escravos fugidos, bandidos e ladrões. Os próprios livros de História do Brasil que eram aplicados nas escolas se referiam a Zumbi dos Palmares como um celerado, um bandido. A população palmarina em meados de 1600 chegou a compreender 20 mil habitantes, segundo dados da época, sendo que a população brasileira beirava 100 mil habitantes, segundo dados do IBGE. Na época a cidade do Recife possuía 7 mil habitantes. Portanto Palmares, possuía com certeza mais de 10% da população brasileira. Seria hoje, proporcionalmente falando, como o estado de São Paulo. Essas números impactantes ou foram apresentados de maneira incipiente ou sofreram a invisibilidade programada, ou seja, nunca constaram na historiografia oficial, certamente por um bom motivo, para que não houvessem mais rebeliões, para que houvesse arrefecimento no estado de rebeldia que incendiava o coração da maioria dos cativos. 
Na verdade esses seres humanos escravizados se rebelaram com o cativeiro, com o trabalho forçado, preferindo morrer em combate respirando os ares da liberdade que perder a vida na humilhação do cativeiro, enriquecendo o escravizador. 
O estado brasileiro contemporâneo sempre ocultou a verdadeira história de sua formação. De Palmares a Canudos passando pela Inconfidência Mineira com a martirização e glorificação de Tiradentes pelos republicanos. Da proclamação da república ao regime militar que se instalou em 1964 e perdurou por 21 anos. Da Abolição da Escravatura à Revolta da Chibata, sempre há uma narrativa de desconstrução do espírito rebelde, da ousadia do colonizado, do protagonismo do poder popular.
Com a lei 10.639/2003 podemos resgatar a verdade. Apesar de seu texto desidratado não oferecer muitas alternativas, podemos aproveitar e preencher essas lacunas com o que há de melhor no que concerne à representatividade do poder popular na construção desse país.
A lei delega aos profissionais da educação, principalmente ao corpo docente brasileiro, a missão de retirar a venda secular que foi colocada nos olhos da sociedade brasileira,  sobre a verdadeira história do povo negro no Brasil. 
Finalmente Brasil e África tornarão a se encontrar, agora sem os navios negreiros, sem as aberrações sociológicas, sem a involução civilizatória dos empreendimentos coloniais. A lei possibilitará a necessária desconstrução do imaginário popular acerca da escravidão pacífica e ‘democrática’. Escravidão que não pode ser naturalizada e tampouco romantizada pela literatura, dramaturgia ou meios de comunicação. A escravidão trouxe para o Brasil milhões de seres humanos que viviam no continente africano, vítimas do maior sequestro da história, com o pérfido intuito de serem escravizados e construírem o Novo Mundo. Através de um processo brutal e desumano, essas pessoas foram arrancadas de suas famílias à força e ao chegarem escravizados em outro continente, foram proibidos de constituírem família no Brasil e esquecerem para sempre as que haviam constituídas em África.
A condição de ser humano escravizado e sem alma, tornou o negro um ser inferior, sem direito a uma história. Fizeram parte de um mundo invisível, como ectoplasmas produtivos, vítimas de um mundo monumental e invisível, que aos olhos da lei e da sociedade colonial era estritamente legal. 
O contingente étnico sequestrado veio de uma África imponente, com impérios grandiosos e com inúmeros avanços científicos e tecnológicos. Mas a empresa colonial eurocêntrica sempre mostrou o continente africano como um território de bárbaros que conviviam em condições inadequadas aos seres humanos, cultuando seitas demoníacas e sem os princípios básicos da civilização. Só não disseram que durante mais de 300 anos foram retirados daquele território as melhores mentes e os melhores corpos, os mais produtivos e capazes, que somaram mais de 10 milhões de seres humanos. Impossível um continente se desenvolver em toda a sua plenitude com uma canibalização histórica dessa magnitude.
A Lei 10.639/2003 veio em bom momento. As novas gerações aprenderão que houve um crime de lesa humanidade contra o povo africano e afrodescendentes. Entenderão e reivindicarão que esse crime necessita de urgentes reparações históricas. A lei deve cumprir um papel importante que é a transmissão não somente de conteúdos mas fazer a relação entre as etnias mais harmoniosa e retirar do imaginário popular a supremacia de um contingente étnico sobre outro.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

OS NEGROS E A BOSSA NOVA


 OS NEGROS E O NASCIMENTO DA BOSSA NOVA  - UM TRIBUTO A JOHNNY ALF, GERALDO PEREIRA, ALAÍDE COSTA E AGOSTINHO DOS SANTOS.


A Bossa Nova nasceu e foi amamentada pelas vigorosas e abundantes tetas do samba, principalmente o samba sincopado e das improvisações jazzísticas que passeavam nas teclas dos pianos da noite carioca à época.  


A certidão de nascimento da Bossa Nova diz que ela nasceu na Avenida Atlântica, no apartamento da Nara Leão, no Posto 6. Não é bem assim, o ritmo que encanta o mundo é filho de diferentes ‘maternidades’, que vão do blues do Mississipi ao Buraco Quente no Morro da Mangueira. Muitos alegam que a Bossa Nova acontecia de outra maneira mesmo sem ter esse nome nas músicas do Tamba Trio ou das teclas de piano de Jonny Alf. 


A música que delimita o marco de existência do novo estilo é ‘Chega de Saudade’, composta por Tom Jobim e Vinícius de Morais sendo interpretada por interpretada por João Gilberto. João introduziu uma forma diferente de tocar o violão, muito parecido com o samba sincopado de Geraldo Pereira da Mangueira, aquele que compôs ‘Falsa Baiana’ e ‘Acertei no Milhar’. Chega de saudade foi registrada nas entidades de direitos autorais como samba-canção. 


De qualquer maneira, foi na zona sul carioca que o movimento tomou força e dali partiu para conquistar o mundo, tendo seu ápice quando da apresentação no Carnnegie Hall de Nova Iorque, onde um cantor negro brasileiro, de voz aveludada, chamado Agostinho dos Santos, deixou os espectadores maravilhados com a potência suave de sua voz. 


Johnny Alf é um capítulo à parte. Ninguém menos que o escritor e jornalista Ruy Castro disse que ele foi o verdadeiro criador da Bossa Nova. 


Menino negro de família humilde, órfão de pai aos três anos de idade, mãe empregada doméstica, iniciou seus estudos de piano aos nove anos de idade, incentivado pelos patrões de sua mãe. 


Sua formação musical foi aos poucos se aproximando da raiz popular e deixando de lado o erudito. Foi como estudante do Colégio Pedro II que teve oportunidade de participar de um grupo artístico no Instituto Brasil-Estados Unidos, quando foi convidado a participar de um grupo artístico e passou a utilizar o nome Johnny Alf. 


Sua carreira profissional se iniciou na “Cantina do César” do comunicador César Ladeira. Gravou seu primeiro disco em 1953 com as músicas Falsete e De Cigarro em Cigarro, consideradas revolucionárias para a época e que são consideradas precursoras da bossa nova. Também compôs Eu e a Brisa, que é seu maior sucesso. 


Johnny Alf morreu aos 80 anos de idade em um hospital público. Morreu solitário, sem família e pobre, relegado a um asilo. Triste para um compositor e pianista negro que Tom Jobim classificou como gênio da música e com certeza um dos criadores da Bossa Nova. 


Geraldo Pereira era mineiro de Juiz de Fora. Veio viver no Rio de Janeiro com seu irmão que possuía uma casa humilde no Morro da Mangueira. Tornou-se um bom violonista e a partir de então passou a compor sambas em profusão, abandonando o morro e fixando-se no Centro da cidade em busca de melhores oportunidades artísticas.  


Na Praça Tiradentes, que era a grande concentração de artistas daquele período, conseguiu mostrar seu talento e estabeleceu parcerias com outros compositores. Passou a viver de vender seus sambas e já no ano de 1940 emplacou seu primeiro sucesso no Carnaval com a música “Se Você Sair Chorando”, gravada por Roberto Paiva. Junto com Wilson Batista compôs o grande sucesso “Acertei no Milhar”, que foi gravada por Moreira da Silva e se transformou em enorme sucesso em todo o país. Geraldo Pereira se torna um dos principais compositores do astro Cyro Monteiro e é alçado ao estrelato quando compõe Falsa Baiana em 1944. 


Geraldo Pereira nos deixou jovem, com apenas 37 anos. Após uma briga com Madame Satã na Lapa, foi internado e do hospital saiu sem vida, não por conta da briga mas por sua saúde debilitada devido a incansáveis noites de farras e bebedeiras. Geraldo estava doente há bastante tempo e este evento da internação apenas comprovou que estava com os dias contados. O próprio Madame Satã em pessoa me confirmou o fato em uma das minhas muitas idas à Vila do Abraão na Ilha Grande, onde vivia em regime condicional. 


O samba sincopado foi sua marca registrada, que foi inclusive uma das fontes referenciais do grande arcabouço musical onde a bossa nova bebeu para se estruturar enquanto estilo.  


Geraldo Pereira deixou, uma riquíssima obra musical, composta por quase uma centena de canções, muitas inéditas. Em sua homenagem foi produzido um belo filme chamado “O Rei do Samba” de José Sette. 


O nome da intérprete Alaíde Costa mistura-se com a história da MPB. Mulher negra carioca, nascida em 1935 no bairro do Méier, filha de um padeiro com uma lavadeira, cresceu ouvindo o ritmo samba-canção, nos programas de rádio que faziam muito sucesso naquela época. A TV ainda não havia chegado ao Brasil e somente se consolidaria 30 anos mais tarde, sendo o rádio o grande meio de comunicação popular. 


O irmão mais novo de Alaíde Costa, observando seus dotes vocais, inscreve-a em um concurso de calouros em um circo, e logo depois em programas de rádio voltado para novos talentos infantis. Aos 13 anos foi eleita a melhor cantora infantil pela Rádio Tupi, em um programa apresentado por Paulo Gracindo. Torna-se destaque na Rádio Nacional mesmo trabalhando como babá de três crianças. Sua vida começou a mudar quando aos 16 anos recebeu nota máxima em um programa de calouros apresentado por Ary Barroso. A partir deste momento sua carreira de intérprete profissional se tornou irreversível. 


Aos 20 anos inicia sua carreira cantando profissionalmente no Dancing Avenida. Em 1961 grava o primeiro disco de uma série de mais de vinte, consagrando-se definitivamente como uma das maiores divas da Música Popular Brasileira. 


Gilberto ficou muito impressionado com sua voz durante uma gravação nos estúdios da Odeon e a convidou para participar de uma reunião com jovens artistas da zona sul carioca. A casa era do pianista Bené Nunes, quando João convidou mais não foi ao encontro, consagrando o estilo que carregou pelo resto da vida.  


 Alaíde Costa passou a estreitar cada vez mais sua relação com a nova turma foi uma das precursoras da Bossa Nova, juntamente com Johnny Alf, Tom Jobim, João Gilberto, Vinícius de Morais entre outros.  


Em 1959 participou do Primeiro Festival de Samba Session, com Silvinha Telles, Ronaldo Boscoli, Carlos Lyra, Roberto Menescal entre outros artistas de renome. Sua interpretação da canção “Chora tua Tristeza” foi o grande sucesso da noite e foi a primeira música a fazer sucesso para além dos limites do grupo da Bossa Nova. Porém sua mais conhecida interpretação está gravada no disco ‘Clube da Esquina’, onde divide o fonograma ‘Me Deixa em Paz’, com Milton Nascimento.  


Alaíde Costa é considerada uma divindade da MPB. Sua voz maviosa nos embala em uma viagem serena e revigorante. Como atriz foi premiada como Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado de 2020 e aos 25 anos contracenou com Raul Cortez na peça Os Monstros, dirigida por Ruth Escobar. Pioneira na luta da mulheres negras, Alaíde Costa tem seu lugar garantido como uma das mulheres negras mais importantes do Brasil. 


Johnny Alf, Geraldo Pereira, Agostinho dos Santos e Alaíde Costa, que ainda vive, são exemplos do que a sociedade branca racista faz com o povo negro. Apesar de possuírem talentos inquestionáveis, foram relegados ao esquecimento e não constam como protagonistas na criação da Bossa Nova, que ficou restrita a um grupo de filhos da classe média alta da zona sul carioca, ocultando o talento desses artistas negros de elevado gabarito.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

AQUELE ABRAÇO!

AQUELE ABRAÇO!
A Academia Brasileira de Letras – ABL, acaba de consagrar o artista brasileiro Gilberto Gil como mais um de seus imortais. Gil ocupará a cadeira número 20 da ABL, antes ocupada por Murilo Mello Filho, grande escritor e jornalista falecido em maio do ano passado. Também sou escritor e jornalista, e ex-genro de Murilo Mello Filho. A cadeira 20 tece em torno de si inúmeros destinos e personagens, em um curioso mosaico humano repleto das mais distintas manifestações.
O patrono da cadeira número 20 é o escritor Joaquim Manoel de Macedo, autor do célebre romance a Moreninha. Macedo foi professor de História do Colégio Pedro II, onde o neto de Murilo Melo Filho, Bernardo Mello Queiroz, meu filho, apresenta-se vez em quando com sua banda de rock.
O escritor e jornalista Murilo Mello Filho foi amigo de Gilberto Gil, artista que tive o prazer de conhecer pessoalmente em uma viagem que fizemos a  Mumbai na Índia. As tramas do destino continuam se entrelaçando, pois, trabalho no Colégio Pedro II, onde Joaquim Manoel de Macedo foi professor de História e História é o curso que estou concluindo na graduação.
A cadeira 20 também teve como ocupante o general Lyra Tavares, que durante a ditadura militar mandou prender Gilberto Gil na Vila Militar em Realengo. Daí a música “Aquele Abraço”: “Alô...Alô Realengo! Aquele Abraço!”. Foi a mensagem que Gil enviou aos companheiros que continuaram no cárcere.
Meu filho Bernardo Mello Queiroz é músico como Gilberto Gil e gravou um vídeo há um ano atrás cantando uma bela canção de Gil.
Sou um cobrador renitente da entrada de negros e negras na Academia Brasileira de Letras – ABL, um verdadeiro bastião de homens brancos idosos e de classe média alta. Meu sogro Murilo Mello Filho tentou algumas vezes convidar pessoas negras para se candidatar à academia. Testemunhei seu esforço em convidar o geógrafo Milton Santos, que agradeceu imensamente a deferência, mas declinou por estar acometido à época por uma moléstia incurável.
O fardão cairá bem em Gilberto Gil, um artista, um cidadão do mundo que traz dentro de si uma biblioteca afroarcoíris repleta de maravilhas fascinantes que encantam a humanidade.
Aquele Abraço!!!!

quarta-feira, 13 de outubro de 2021

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS BRANCA

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS BRANCA
Somos filhos e filhas de Firmina e Lima Barreto.

Para a Academia Brasileira de Letras – ABL, escritoras e escritores negros brasileiros ainda são vistos como no tempo da colônia. A história é pródiga em demonstrar inúmeros argumentos que corroboram esta afirmação. 
De saída cabe lembrar que o primeiro livro escrito e publicado por uma mulher no Brasil intitulado Úrsula, no ano de 1859, obra de Maria Firmina dos Reis, mulher negra que “ousou” ser escritora ainda no período da escravidão. Apesar das súplicas, Maria Firmina não pode constar como autora na capa do livro, onde lê-se “uma escritora maranhense”.
O nome de Maria Firmina até os dias atuais está restrito aos círculos acadêmicos e de organizações culturais negras, que republicam suas obras e escrevem teses e monografias sobre sua vida. Para o público brasileiro em geral Maria Firmina permanece invisível, um mistério gerado propositalmente pela historiografia oficial branca.
O segundo caso é o escritor Lima Barreto. Sua história carrega uma tragédia enorme, pois, mesmo sendo o primeiro cronista brasileiro, com inúmeras obras publicadas, nunca conseguiu ser aceito pela Academia Brasileira de Letras – ABL, onde tentou por três vezes ser admitido sem sucesso.
Lima Barreto era órfão de mãe, a quem que perdeu muito cedo. Como afilhado do Visconde de Ouro Preto, conseguiu ingressar no Colégio Pedro II, para logo após a conclusão do curso secundário ingressar no curso de Engenharia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Abandonou o curso no terceiro ano, pois seu pai enlouqueceu e Lima Barreto precisou trabalhar para sustentar seu irmãos menores. Prestou concurso para escriturário para o Ministério da Guerra em 1904, onde permaneceu até se aposentar.
Seu trabalho no jornalismo e sua extensa obra literária onde podemos destacar “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”(1909) , “O Triste Fim de Policarpo Quaresma” (1915) e “Clara dos Anjos” (1948) lhe credenciavam em muito seu ingresso na Academia Brasileira de Letras, porém, apesar de mais de uma dezena de publicações e centenas de crônicas em jornais e em sua própria revista “Floreal”, nunca conseguiu realizar seu sonho de ingressar na casa fundada por um escritor negro chamado Machado de Assis. 
Ao analisarmos a trajetória da literatura afro-brasileira, podemos encontrar diversos escritores e personalidades negras que poderia tranquilamente ser membros da Casa de Machado de Assis. Negros incontestes como Abdias do Nascimento, Milton Santos, Cartola, Joel Rufino, Muniz Sodré, Carolina de Jesus, Martinho da Vila, Solano Trindade, Gilberto Gil, Silas de Oliveira, Emanuel Araújo, Mestre Didi, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stela, Salgado Maranhão, Edson Cardozo, Clovis Moura, Sueli Carneiro, Edna Roland, Luiza Barrios, Ivanir dos santos, Éle Semog, Beatriz Nascimento, Lélia Gonzales, Ana Cruz entre dezenas de outras personalidades negras brasileiras, dignas da homenagem.
O caso mais emblemático que atualmente incomoda os ilustres acadêmicos e da escritora negra Conceição Evaristo. No campo das letras, é titulada Mestre em Literatura pela PUC/RJ e Doutora também em Literatura pela Universidade Federal Fluminense. Evaristo possui uma sólida formação acadêmica, é uma intelectual de porte, além do talento para escrever. 
Assim como o escritor negro Lima Barreto, a escritora negra Conceição Evaristo sempre foi recebida com uma enorme má vontade por parte dos acadêmicos. 
A fila da rejeição é enorme e parece que Conceição Evaristo será mais uma a compor este triste cenário de invisibilidade colonial. O mais incrível nesta estória toda é que Conceição Evaristo é uma celebridade no campo literário. Foi homenageada inclusive pela feira Literária de Paraty – FLIP. O que a impede de ingressar na casa fundada por Machado de Assis? Currículo certamente não é.
O que precisamos fazer é nos levantarmos contra essas posturas coloniais e retrógradas, quiçá racistas e preconceituosas. A literatura brasileira sempre será rica em sua diversidade da matriz indo-afro-ibérica. Apesar do culto tardio à Carolina de Jesus, a sociedade precisa ser honesta com seu presente e valorizar todas as filhas de Firmina que aí estão e as que estão por vir.
Conceição Evaristo na ABL Já!

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Artigo: Fórum Permanente sobre Afrodescendentes da ONU. Publicado na revista peruana de Direitos Humanos Cimarron.

“FORO PERMANENTE DE AFRODESCENDIENTES de LAS NACIONES UNIDAS”

 

Amauri Queiroz

 

 

Desde 1997 hasta la actualidad, la cuestión racial ha permeado los debates en las Naciones Unidas. La decisión de convocar la Conferencia Mundial contra el Racismo, la Discriminación Racial, la Xenofobia y las Formas Conexas de Intolerancia fue un hito sumamente importante para que la humanidad avance en el reconocimiento y la lucha sistemática contra el racismo. La conferencia se llevó a cabo en la ciudad de Durban, Sudáfrica, y tuvo lugar entre el 31 de agosto y el 8 de septiembre de 2001.

Las reflexiones de la conferencia se difundieron por todo el mundo y la solidez de sus propuestas y expectativas generadas dieron lugar al Decenio Internacional para los Afrodescendientes, que comenzó el 1 de enero de 2015 y culminó el 31 de diciembre de 2024 con el virtuoso tema “Afrodescendientes: reconocimiento, justicia y desarrollo ”. El final del “Decenio Internacional de los Afrodescendientes” terminará con una enorme conquista de la población negra del mundo, que es el “Foro Permanente de las Naciones Unidas para los Afrodescendientes”.

Debemos entender que hay una gran tarea por hacer en la lucha contra el racismo. En este escenario, tenemos como punta de lanza a Naciones Unidas, que es lo más parecido a lo que podemos llamar un acuerdo universal de buena convivencia. Fundada en 1948, la ONU juega un papel de liderazgo en la articulación política y en el apoyo global a los países pobres y en desarrollo. Sus diversas agencias juegan un papel importante en la promoción de la igualdad, la cultura, la salud, el trabajo, la vivienda, el medio ambiente y muchos otros temas de interés para la humanidad.

El Plan de Acción de la Conferencia de Durban y el Decenio Internacional de los Afrodescendientes merecen la creación del “Foro Permanente de las Naciones Unidas para los Afrodescendientes”, que jugará un papel importante dentro de las Naciones Unidas y de los países miembros. El foro cumplirá el rol de una “agencia afroplanetaria”, cuyo objetivo es monitorear el Plan de Acción de Durban y brindar asesoría a los países miembros para que puedan implementarlo de la mejor manera posible.

Trazando una visión panorámica de la cuestión racial mundial, hemos observado que existe una correlación entre el capitalismo y los avances neoliberales con la profundización de las desigualdades. La población negra es la que sufre los mayores impactos deletéreos de la desigualdad, ya que se posiciona en la base de la pirámide social. Los más de 300 años de esclavitud en las Américas y el Caribe dejaron una enorme herida social que insiste en no sanar, ya que las élites de los países insisten en mantener un modelo de desarrollo dirigido a los económicamente más privilegiados. El sistema capitalista segrega a la población en varios aspectos, promoviendo una meritocracia fantasiosa que profundiza cada vez más la desigualdad.
El Foro Permanente de Afrodescendientes, junto con el Alto Comisionado, el Consejo de Derechos Humanos y otros órganos dinámicos de las Naciones Unidas, podrán establecer importantes alianzas con ONG con estatus ECOSOC, instituciones gubernamentales y organizaciones de la sociedad civil, con el objetivo de mejorar la lucha contra racismo, la reducción del Foro. La lucha por la implementación de acciones afirmativas dirigidas a la población negra, enfocadas en Educación, mercado laboral, emprendimiento, salud y cultura, puede transformar, a mediano plazo, la dura realidad impuesta a los negros tanto en África como en la diáspora.
Una de las acciones más importantes del Foro Permanente será la identificación, mapeo y construcción de indicadores raciales en sus más diferentes espectros. La ausencia de indicadores demuestra de manera obvia que la invisibilidad es una estrategia morbosa del racismo, el capitalismo, la élite blanca. Si un contingente humano no se identifica en todos sus matices, no se declara como grupo humano con necesidad de promoción. La invisibilidad proyectada y programada de los negros es uno de los mayores delitos que se pueden perpetrar contra una población. La invisibilidad del ser humano produce la naturalización de la barbarie, lo pudimos ver en los campos de concentración nazis, donde los horrores solo se descubrieron con la llegada de las tropas aliadas. El genocidio congoleño, llevado a cabo por el rey Leopoldo de Bélgica, permanece hasta hoy restringido a grupos de estudiosos, esto también es una forma de invisibilidad.
Hay un factor que merece especial atención entre todos los objetivos del Foro Permanente. Este factor debe estar enfocado a la Educación. Es a través de la educación que los ciudadanos dan sus primeros pasos en la sociedad civil. El Foro Permanente debe tener como tarea prioritaria en su importante inicio, el análisis de los impactos de la Educación en los países miembros. El surgimiento del nazi-fascismo en todo el planeta es un fenómeno que llama la atención. A pesar de las desastrosas experiencias de Hitler, Franco y Mussolini, que dejaron un rastro de millones de muertos en todo el planeta, sus monstruosas ideas siguen siendo adoradas por personas de todo el planeta, especialmente por jóvenes europeos y estadounidenses.
El capitalismo no permite una autocrítica enérgica, donde reconoce que sus movimientos expansivos provocaron un profundo efecto deletéreo en el continente africano y en la diáspora, efectos que siguen espantosamente vivos, rechazando una necesaria disculpa por el daño causado y por la matriz segregadora que permanece renuente entre nosotros hasta el día de hoy.
El Foro Permanente de los Afrodescendientes podrá utilizar un abanico enorme de recursos para que siempre se pueda reafirmar con seguridad que todos los seres humanos nacen libres y que los derechos de todos son iguales e inalienables. El foro debe trabajar duro para que se respete la dignidad de los negros. No puede ni debe ser solo un organigrama escrito entre los documentos de las Naciones Unidas, ¡no! ¡Debe ser un organismo vivo y palpitante! ¡Extraordinario! El Foro será el oráculo de la negrura internacional, será el oasis vigorizante en el doloroso desierto de la desigualdad y el racismo.
Los negros no podemos trasladarnos al organismo que aparece en nuestra protección, como una solución definitiva a nuestros problemas. ¡No! Necesitamos profundizar la lucha contra el racismo y su creador, el capitalismo. El Foro Permanente de los Afrodescendientes será otro instrumento de apoyo en nuestra lucha. Nuestra acción contra el racismo y el capitalismo tiene que ser diaria, en cada barrio, en cada calle, con nuestros vecinos, en nuestras escuelas, en nuestras iglesias, en clubes y espacios lazer. Es de estos lugares que los subsidios llegarán a Naciones Unidas para recibirlos en su Foro Permanente der los Afrodescendientes. El foro será un territorio con tierra bien arada, será el huerto, nosotros ofreceremos las semil




Desde 1997 hasta la actualidad, la cuestión racial ha permeado los debates en las Naciones Unidas. La decisión de convocar la Conferencia Mundial contra el Racismo, la Discriminación Racial, la Xenofobia y las Formas Conexas de Intolerancia fue un hito sumamente importante para que la humanidad avance en el reconocimiento y la lucha sistemática contra el racismo. La conferencia se llevó a cabo en la ciudad de Durban, Sudáfrica, y tuvo lugar entre el 31 de agosto y el 8 de septiembre de 2001.

Las reflexiones de la conferencia se difundieron por todo el mundo y la solidez de sus propuestas y expectativas generadas dieron lugar al Decenio Internacional para los Afrodescendientes, que comenzó el 1 de enero de 2015 y culminó el 31 de diciembre de 2024 con el virtuoso tema “Afrodescendientes: reconocimiento, justicia y desarrollo ”. El final del “Decenio Internacional de los Afrodescendientes” terminará con una enorme conquista de la población negra del mundo, que es el “Foro Permanente de las Naciones Unidas para los Afrodescendientes”.

Debemos entender que hay una gran tarea por hacer en la lucha contra el racismo. En este escenario, tenemos como punta de lanza a Naciones Unidas, que es lo más parecido a lo que podemos llamar un acuerdo universal de buena convivencia. Fundada en 1948, la ONU juega un papel de liderazgo en la articulación política y en el apoyo global a los países pobres y en desarrollo. Sus diversas agencias juegan un papel importante en la promoción de la igualdad, la cultura, la salud, el trabajo, la vivienda, el medio ambiente y muchos otros temas de interés para la humanidad.

El Plan de Acción de la Conferencia de Durban y el Decenio Internacional de los Afrodescendientes merecen la creación del “Foro Permanente de las Naciones Unidas para los Afrodescendientes”, que jugará un papel importante dentro de las Naciones Unidas y de los países miembros. El foro cumplirá el rol de una “agencia afroplanetaria”, cuyo objetivo es monitorear el Plan de Acción de Durban y brindar asesoría a los países miembros para que puedan implementarlo de la mejor manera posible.

Trazando una visión panorámica de la cuestión racial mundial, hemos observado que existe una correlación entre el capitalismo y los avances neoliberales con la profundización de las desigualdades. La población negra es la que sufre los mayores impactos deletéreos de la desigualdad, ya que se posiciona en la base de la pirámide social. Los más de 300 años de esclavitud en las Américas y el Caribe dejaron una enorme herida social que insiste en no sanar, ya que las élites de los países insisten en mantener un modelo de desarrollo dirigido a los económicamente más privilegiados. El sistema capitalista segrega a la población en varios aspectos, promoviendo una meritocracia fantasiosa que profundiza cada vez más la desigualdad.

El Foro Permanente de Afrodescendientes, junto con el Alto Comisionado, el Consejo de Derechos Humanos y otros órganos dinámicos de las Naciones Unidas, podrán establecer importantes alianzas con ONG con estatus ECOSOC, instituciones gubernamentales y organizaciones de la sociedad civil, con el objetivo de mejorar la lucha contra racismo, la reducción del Foro. La lucha por la implementación de acciones afirmativas dirigidas a la población negra, enfocadas en Educación, mercado laboral, emprendimiento, salud y cultura, puede transformar, a mediano plazo, la dura realidad impuesta a los negros tanto en África como en la diáspora.

Una de las acciones más importantes del Foro Permanente será la identificación, mapeo y construcción de indicadores raciales en sus más diferentes espectros. La ausencia de indicadores demuestra de manera obvia que la invisibilidad es una estrategia morbosa del racismo, el capitalismo, la élite blanca. Si un contingente humano no se identifica en todos sus matices, no se declara como grupo humano con necesidad de promoción. La invisibilidad proyectada y programada de los negros es uno de los mayores delitos que se pueden perpetrar contra una población. La invisibilidad del ser humano produce la naturalización de la barbarie, lo pudimos ver en los campos de concentración nazis, donde los horrores solo se descubrieron con la llegada de las tropas aliadas. El genocidio congoleño, llevado a cabo por el rey Leopoldo de Bélgica, permanece hasta hoy restringido a grupos de estudiosos, esto también es una forma de invisibilidad.

Hay un factor que merece especial atención entre todos los objetivos del Foro Permanente. Este factor debe estar enfocado a la Educación. Es a través de la educación que los ciudadanos dan sus primeros pasos en la sociedad civil. El Foro Permanente debe tener como tarea prioritaria en su importante inicio, el análisis de los impactos de la Educación en los países miembros. El surgimiento del nazi-fascismo en todo el planeta es un fenómeno que llama la atención. A pesar de las desastrosas experiencias de Hitler, Franco y Mussolini, que dejaron un rastro de millones de muertos en todo el planeta, sus monstruosas ideas siguen siendo adoradas por personas de todo el planeta, especialmente por jóvenes europeos y estadounidenses.

El capitalismo no permite una autocrítica enérgica, donde reconoce que sus movimientos expansivos provocaron un profundo efecto deletéreo en el continente africano y en la diáspora, efectos que siguen espantosamente vivos, rechazando una necesaria disculpa por el daño causado y por la matriz segregadora que permanece renuente entre nosotros hasta el día de hoy.

El Foro Permanente de los Afrodescendientes podrá utilizar un abanico enorme de recursos para que siempre se pueda reafirmar con seguridad que todos los seres humanos nacen libres y que los derechos de todos son iguales e inalienables. El foro debe trabajar duro para que se respete la dignidad de los negros. No puede ni debe ser solo un organigrama escrito entre los documentos de las Naciones Unidas, ¡no! ¡Debe ser un organismo vivo y palpitante! ¡Extraordinario! El Foro será el oráculo de la negrura internacional, será el oasis vigorizante en el doloroso desierto de la desigualdad y el racismo.

Los negros no podemos trasladarnos al organismo que aparece en nuestra protección, como una solución definitiva a nuestros problemas. ¡No! Necesitamos profundizar la lucha contra el racismo y su creador, el capitalismo. El Foro Permanente de los Afrodescendientes será otro instrumento de apoyo en nuestra lucha. Nuestra acción contra el racismo y el capitalismo tiene que ser diaria, en cada barrio, en cada calle, con nuestros vecinos, en nuestras escuelas, en nuestras iglesias, en clubes y espacios lazer. Es de estos lugares que los subsidios llegarán a Naciones Unidas para recibirlos en su Foro Permanente der los Afrodescendientes. El foro será un territorio con tierra bien arada, será el huerto, nosotros ofreceremos semillas.

Amauri Queiroz.

  

terça-feira, 14 de setembro de 2021

FEUILLETON LOOK

There’s no use crying over what happened

The vigour from the past that time took away

It was left out there without a pot to piss in

for the nights out, the daybreak and the drinking spree

So many mistakes, so many love marks

Painful and suffering marks

Marks of life that rouge insists on hiding

I follow my path in solitude

Obstinate routine towards the bars full of affliction

I face my windmills without the squire

I want a drink buddy, maybe a partner

a body as a shelter, a truly one

To shelter me from the storms that torment me

In this world's crazy stage

To be able to hear an obstinate tango from Gardel

Where the bandoleon covers with its passionate symphony

My silent and lonely sobbing

I ask for a dose of support and the waiter tells me it's been over for ages

Even a fake bitter kiss makes me believe I can love

But come on!

I follow the fate of a woman alone in this affectionless life

Lost in life like a stray dog

Lost in her own abandonment

Consuming dreams and desires

Swallowing men, alcohol and cigarettes

Failed and despicable men with their old kisses

Even so I say yes to the needy proposals

I have no reason to say no

I own myself, I’m sassy, I’m life, almost bandit

I have no family to hug on Sundays

I gently accept copulation

With the same delicacy that you bake a wedding cake

Even wearing false values

I know we’re strange, different, dark humans

Indecent accomplices in our faithless and half-hearted smile

The alcohol slowly warms me up

Slowly sets me on fire

I surrender to your warmth to forget the pain

I immerse myself in the false sense of love, that's what I have left, that's what I have

My pains are so present they never become past

Marks of life with no celibate

Addicted to the lecherous and hedonistic present

I carry glorious marks of fierce heat fight

I’m not knocked out, I’m not beaten

I’m smart and shrewd

I can fake pleasure, I can be theatrical

Divide dust and sins equally

Not necessarily in that order

Marginal pleasure has a great flavor, is pleasant

The taste of the interdict gets us high in unimaginable ways

It’s such a drag, underworld, falsehood

That seems to be true love

And when the dawn breaks into the room, naughty and curious

And it’s frightened by the unpalatable taste of the environment

My body is the invaded, conquered and colonized Troy

Lies fatigued under the smoke of a fire that consumed her violently

The curtains of life’s stage are opened

The scenery is cruel and terrifying

On the battlefield we are wounded warriors

Where regret predominates in a bed without flavor

The air is filled by the taste of defeat and pain

In hidden tears I put out my cigarette

Burning in the ashes your smells

The other women, your sweat, your drink

The drunken Colombian route of a poor pierrot of corroded life

I’m not immortal, I may be fragile, but I’m fatal

I’m from the pub, I’m the diva of the desperate, I’m from the street

The leftovers, the solidary glasses and the selfish beings

I’m the fake smile that always says yes

But my friend I recommend you

Never believe my feuilleton look.

domingo, 30 de maio de 2021

Nelson Sargento Já Chegou no Céu dos Sambistas


 Sambista não tem velório, velório de sambista é gurufim. Nelson Sargento bem que merecia um grande e animado gurufim na quadra da Mangueira. 

O gurufim é um ritual fúnebre/festivo dos povos de origem africana, que celebram e homenageiam em corpo presente a morte de algum membro da comunidade. O termo ‘gurufim’, segundo o folclorista Luis da Câmara Cascudo, é uma corruptela de ‘golfinho’, cetáceo que em diversas culturas, conduz a alma do morto, ou seja, faz a passagem dos espíritos dos que morreram para uma outra vida.

Segundo o pesquisador Luis Antônio Simas, no Brasil é comum na religiosidade dos bantos e iorubas a cerimônia do Axexê, que é um rito, uma comemoração, uma festa para a morte. Simas explica que a crendice popular diz que a morte quando chega nunca leva somente uma pessoa. Na verdade gosta de levar três. “Então o povo faz uma festa ao redor do morto, onde canta, bebe e brinca para enganar a morte”. É uma malandragem, para que a morte não perceba que tem um morto sendo velado naquele local. Então ao observar a festa e o povo feliz na comemoração, não percebendo o engodo, vai embora sem levar as pessoas ali presentes.

Uma das maiores pesquisadoras viva da história do samba, Marília Trindade Barboza, diz que o maior gurufim que sem tem notícia foi o do sambista Paulo da Portela, fundador da escola de samba cujo nome incorporou. As exéquias aconteceram no ano de 1949 e infelizmente não puderam ser realizadas na sede da escola de samba, pois, segundo Marília, a recém viúva não permitiu que o corpo fosse velado na quadra da agremiação por conta de quizilas entre a escola e seu falecido marido, fundador da instituição, coisas do samba. A imprensa da época noticiou que 15 mil pessoas lotaram as ruas de Madureira para acompanhar a passagem do funeral.

O gurufim foi na rua mesmo. O comércio cerrou as portas em respeito e homenagem ao ilustre sambista. O povo cantava e bebia enquanto caminhava acompanhando. Segundo Marília Barboza muita gente ganhou um bom dinheiro no bicho ao apostar no milhar da sepultura, que por mais incrível que possa parecer, deu na cabeça, mais gurufim que isto impossível. Culminar com o milhar da sepultura do falecido dando na cabeça.

O memorável sambista Padeirinho da Mangueira também se referiu ao gurufim em um de seus sambas, especificamente o “Linguagem do Morro”: “Briga de uns e outros/Dizem que é burburim/Velório no morro é gurufim”.

Dona Neuma a grande dama do samba de Mangueira narrava que também fazia parte do gurufim algumas brincadeiras: “A gente tirava a porta da sala principal e deitava sobre os caixotes. Colocava o morto ali em cima rodeado de gente sentada em bancos. Quando a cachaça comia solta, nego dormia e os outros pintavam a cara dele com uma rolha queimada”

Luiz Antônio Simas diz que essas brincadeiras costumavam ter o mar e os peixes como tema, pois os golfinhos carregam a tradição de transportar as pessoas para outros mundos. Em uma delas o capitão perguntava: “Gurufim veio?” e em coro todos respondiam: “não, não veio” e perguntava novamente: “Baleia veio? “Não, não veio” respondiam, e então quem veio? E o grupo apontando para alguém: “olha a sardinha aqui”...e cada um era apelidado pelo nome de um ser marinho.  A pessoa que era a sardinha então tinha que responder, e passar adiante. Quem não respondesse ao chamado, tinha que pagar uma prenda, como levar um tapa na mão, conhecido como “bolo”, explica Simas. 

Velório no Morro” (Raul Marques e Tancredo Silva)

 Lá no morro quando morre um sambista

É um dia de festa e ninguém protesta

As águas rolam a noite inteira

Pois sem brincadeira o velório não presta

Tem também um gurufim

Que no fim acaba sempre em sururu

Mas é gozado pra chuchu (…)

(...) Já encomendaram ao anjo Gabriel 

Um novo céu para dar abrigo a sua gente 

Que morre assim constantemente, de repente.

 

A morte está presente no cotidiano dos poetas do samba. Nelson Cavaquinho cantava: “...Depois que eu me chamar saudade/Não preciso de vaidade/Quero preces e nada mais”, e “Quando eu passo/Perto das flores/Quase elas dizem assim: Vai que amanhã enfeitaremos o seu fim”.

Então o poeta traz essa epistemologia de um novo céu para abrigar a sua gente, os sambistas, o céu dos sambistas. Não basta o gurufim, há que haver um céu especial.

Pois é amigos e amigas, o samba sempre foi o grade pulsar do coração cultural do povo e ficou menor com a partida de Nelson Sargento.

A trajetória de Nelson Sargento se mistura com a história do samba. Nelson sempre foi joia rara, amigo leal, sambista de boa cepa, sorriso malandro, não dava bom dia a cavalo nem entrava em bola dividida. Unanimidade no mundo do samba, deixa um vazio danado e um grande legado, permanecendo para sempre o alerta de que o samba agoniza mas não morre.

A essa hora já chegou no Céu dos Sambistas. Duvido que São Pedro não tenha criado um só para os sambistas. Se não houvesse criado, São Pedro certamente teria recebido a demanda de Paulo da Portela que com certeza protocolou um requerimento solicitando a criação do espaço.

No Céu dos Sambistas é diferente. A rapaziada fica de boas nas nuvens, tirando uns acordes para mostrar pro São Cartola e realizando exercícios vocais com Elizeth Cardoso, Beth Carvalho e Clara Nunes.

No Céu dos Sambistas a coisa toda não é tão rigorosa, Noel Rosa sempre fuma um cigarrinho escondido e Geraldo Pereira sempre dá um jeito de tomar umas e outras com Nelson Cavaquinho, Beto sem Braço e Zé Espinguela. Padeirinho só acompanha pois já parou de beber há muito.

Dona Neuma organiza tudo e é quem manda de verdade no Céu dos Sambistas. Paga esporro e enquadra todo mundo no fundo da quadra. Dona Zica também tem grande poder e comanda na moral a feijoada de sábado que o Natal da Portela adora. O medo do pecado da gula passa longe do Céu dos Sambistas. Lá rola Tripa Lombeira, Barriga de Porco, Sarapatel, Rabada, Mocotó, Buchada de Bode e como ninguém é de ferro sempre rola um prato leve como Angu à Baiana com chouriço.

No Céu dos Sambistas não há como ter tristeza. Isso é com os ‘zé ruela’ que ficaram lá embaixo reclamando da vida. Aquela coisa filé de vida eterna, não andar duro, tudo suave, nos conformes, chapéu panamá, sapato bicolor, camisa de seda, mulheres no salto, não tem como não sair samba bom. 

É no Céu dos Sambistas que são feitos os sambas bons que ouvimos no dia a dua. Quando os sambas ficam prontos, eles mandam os anjos do samba colocarem nas cabeças dos compositores e compositoras aqui da Terra. 

Se for um anjo sambista meio preguiçoso, ele entrega o samba durante o sono do compositor, dá menos trabalho assim. Se for uma anja daquelas sagazes, ela faz ser como uma luz que chega de repente com a rapidez de uma estrela cadente e zumpt! Enfia o samba na é que tem que se arvorar em encontrar caneta e papel nos lugares mais esdrúxulos e inimagináveis.

Nelson Sargento já chegou no Céu dos Sambistas. A alegria é intensa, foi recebido pela corte celestial mangueirense, composta por Saturnino, Dória, Roberto Firmino, Gargalhada, Zé com Fome, Zagaia, Chiuco Porrão, Alfredo Português, Seu Tinguinha, Waldomiro Pimenta, Jamelão, Preto Rico, Jajá, Jurandyr, Comprido, Tantinho, Luizito, Cartola, Nelson Cavaquinho, Carlos Cachaça, Tia Fé, Neide, Mocinha, Rasgado, Delegado entre tantos outros ilustres mangueirenses.  

Nelson Sargento era o Presidente de Honra da Mangueira, instituição cultural internacional fundada por negros pobres do Morro da Mangueira. Nunca teve doutor no meio porque para fazer samba não precisa de livro e sim de ancestralidade.

Sargento percorreu a linha da vida sempre na paz e com humildade. Gente boa,  pedra 90, ás de ouro, pessoa fina da melhor qualidade, fina estampa. Nem precisou passar pela entrevista de acesso para saber se podia entrar e ficar no Céu dos Sambistas, entrou direto, pois no ônibus do samba Nelson Sargento sempre andou na janela.

Está de boas no Céu dos Sambistas. Luis Carlos da Vila acabou de compor um belo samba para sua chegada. Quem está cantando é o Tantinho acompanhado por Mijinha e Elizeth Cardoso.

Todos estão perfilados, em trajes de gala, com as bandeiras e estandartes das agremiações. Só o Jamelão que está resmungando da falação e algazarra das pastoras de Mangueira. Dodô da Portela acabou de ralhar com o Delegado que estava conversando com Candeia e João Nogueira sobre samba e futebol durante os preparativos.

No Céu dos Sambistas todos estão em festa e engalanados para receber Nelson sargento sob as bênçãos do Comandante em Chefe do Céu dos Sambistas, Paulo da Portela. O samba está triste na Terra mas há uma grande festa no Céu dos Sambistas.

Nelson Sargento pode não ter tido seu merecido gurufim, são tempos de pandemia. Foi consolado por Tia Ciata e João da Baiana. Nelson Sargento está feliz no Céu dos Sambistas.

quinta-feira, 20 de maio de 2021

Cultura


 

Democracia


 

Trem do Samba


 

África do Sul . Conferência da ONU.


 

Gabriel Queiroz


 

Bê Queiroz


 

Palco sagrado da Mangueira.


 

Com Denny Glover . Máquina Mortífera.


 

Direitos Humanos.


 

Com Jacy Proença e Ele Semog no Quilombo Mata Cavalo em Livramento. Mato Grosso.


 

Luiz Carlos Magalhães Presidente da Portela.


 

Palácio do Samba . Mangueira.


 

MÚSICA


 

MÚSICA


 

FLAmília


 

terça-feira, 4 de maio de 2021


Vou participar do evento como palestrante abordando a ligação do conceito de "Necropolítica" desenvolvido pelo pesquisador Achille Mbembe com o crescimento do neofascismo nas Américas.