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terça-feira, 10 de janeiro de 2023

QUEM É TERRORISTA?


Se quer paz fique longe das drogas ilícitas e da política. Os últimos acontecimentos políticos pós eleição 2022 no Brasil, estão cobrando uma reflexão menos carbonária.

A primeira abordagem que podemos fazer é sobre a qualidade de caracterização dos atores sociais das hostes bolsonaristas, que estão sendo apontados como terroristas, de maneira repetida e ostensiva pelos meios de comunicação.

Aquela massa quixotesca que está reunida em diversos pontos do país, geralmente acampada em frente a unidades militares do exército brasileiro, não pode ser classificada como terrorista. Ao fazê-lo, os meios de comunicação reduzem a gravidade e a agressividade da atividade beligerante e mortal. Estão convencendo a população que terrorismo é a mesma coisa que vandalismo conjugado com messianismo, não é.

Se fizermos uma triagem naquela população contrita seus badulaques auriverdes, veremos que a grande maioria está alí em busca de um país imaginário, surreal, criado por mentes estratégicas visando a perpetuação no poder e o controle eleitoral no país. Essa massa ignara, acredita nesse país utópico que lhes apresentaram, assim como crê nas ameaças institucionais e cívicas, que foram criaram artificialmente e obviamente necessitam ser combatidas.

A democracia prevê um conjunto de signos sociais que a população organizada precisa seguir para que se possa exercê-la de maneira plena. Ao ter como primado principal a liberdade, a democracia determina que para que seu exercício aconteça de forma inconteste, haverá de prevalecer a determinação da maioria da população, dentro da realidade estabelecida e existente.

A democracia contém em si um dos mais altos valores necessários ao seu exercício que são as eleições. Os certames eleitorais são o clímax do processo democrático. É onde e quando o povo escolhe os representantes que irão gerir os destinos da pólis, que governarão e legislarão da melhor maneira possível visando o bem comum.

O processo democrático pode assumir diversas configurações. Cada nação escolhe a que melhor lhe aprouver. No sistema brasileiro as escolhas são realizadas através de pleitos eleitorais que escolherão seus candidatos abrigados nas mais diversas organizações partidárias. A vitória e a respectiva assunção ao parlamento é consagrada aos candidatos que receberam mais votos por parte do eleitorado votante. Então o sistema de maioria caracteriza a consagração da escolha de nossos representantes.

Em todo certame eleitoral em qualquer parte do mundo onde a democracia é consagrada, há insatisfação com o resultado das urnas. Em pleitos onde a margem percentual de votos da agremiação vitoriosa é muito estreita, costuma haver contestação por parte da agremiação perdedora. É um sentimento normal dentro do espectro democrático, onde milhares ou milhões de pessoas depositaram sonhos e esperanças em um projeto político que por muito pouco não foi consagrado. Foi o que aconteceu no Brasil nas eleições gerais em 2022.

As eleições gerais brasileiras de 2022 podem ser caracterizadas ou alcunhadas como as eleições do fim do mundo ou as eleições sem fim. Os desdobramentos dessas eleições causaram fraturas sociais e políticas que mesmo que sejam consolidadas, através da gestão da política, deixarão suas marcas claudicantes no caminhar do desenvolvimento do patamar civilizatório brasileiro.

O segundo turno das eleições foi entre dois projetos distintos. Um com viés mais amplo, continha em suas propostas o ideário dos direitos humanos, uma participação mais plural nas decisões governamentais e fortalecimento das minorias, defesa do meio ambiente e desarmamento da população. O outro projeto era diametralmente oposto a esse, onde o viés totalitário e intolerante, somado a arroubos patrióticos e pentecostais era a pedra de toque dos comportamentos. A população escolheu como projeto vencedor, aquele que lhe parecia de mais amplitude democrática, aquele que a maioria elegeu como o modelo que lhe representaria nos próximos quatro anos.

A reação por parte dos derrotados, dos que não concordaram com o resultado das eleições, surpreendeu a nação e foi de um efeito devastador. A posição polêmica de questionar o resultado final das urnas eletrônicas, por parte do ex presidente derrotado, foi o estopim para a deflagração de um movimento inflamado que a cada dia que se passava ia se fortalecendo cada vez mais. O processo inicial era acampar em frente a unidades das forças armadas solicitando intervenção militar (ditadura) no país. Rapidamente o ódio às instituições democráticas se espalhou como um rastilho de pólvora. A posição do Presidente da República derrotado de insuflar esses acampamentos gerou diversas incubadoras de vândalos que em alguns casos flertava com ações terroristas desastradas.

Mas quem compõe está massa ignara? Os componentes são pessoas comuns, não há terroristas. São ex militares saudosos dos tempos de caserna, policiais aposentados, senhoras que encontraram no movimento o fim para o solitarismo, jovens que desejam uma causa para lutar, burgueses que sempre foram enxovalhados pela esquerda, pessoas com demência que vagavam pelas ruas, pessoas de bem que cuidam bem de suas famílias, pessoas que amam o Brasil, enfim, pessoas que por um motivo ou outro desejam lutar por um Brasil que lhes foi incutido por mentes diabólicas e estratégicas.

Esse modelo de projeto de poder foi gestado nos Estados Unidos, na Virgínia,  onde o astrólogo Olavo de Carvalho ministrava cursos de auto ajuda. A eleição de Bolsonaro, conseguida após um vigoroso desmonte político da imagem do PT, que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff e a prisão de Lula, foi o início da implantação do fascismo no Brasil, travestido da denominação de ““direita”. A consolidação do fascismo no Brasil seguiu a velha cartilha dos regimes totalitários, que utilizam a fórmula pronta utilizada por Hitler e Mussolini que mistura uma parcela da população insatisfeita, mistura com altas doses de patriotismo, defesa dos valores familiares cristãos, acrescenta religiosidade e declara que a grande luta será contra o comunismo, o destruidor de lares e desagregador da pátria. Obviamente que todos esses componentes estão flambados com uma taxa enorme de desemprego e com a violência nas cidades atingindo índices elevados. A comunicação adquire formato estratégico nesse modelo, pois, dissemina notícias falsas de maneira intermitente, procurando deslegitimar a ordem institucional reinante. Assim Hitler procedeu na construção do Terceiro Reich e assim Bolsonaro também fez na estruturação do fascismo no Brasil.

A massa que aderiu ao modelo político proposto por Bolsonaro pode entender de tudo, menos de política. Como a esquerda não tem paciência nem metodologia para se relacionar politicamente com essa massa ignara, a não ser nas eleições, o fascismo plantou nesse campo fértil suas sementes insidiosas, que floresceram de maneira surpreendente em flores auriverdes, com aroma extremamente duvidoso e às vezes até repulsivo.

A tiazinha do tricô largou as agulhas e partiu para Brasília com o objetivo de invadir o Congresso Nacional. O morador de rua passou a morar nos acampamentos e fazer três refeições diárias sem custo. Os loucos, os párias da vida, as Genis sem zepelim, os desesperançosos, os lunáticos, sonhadores e toda uma gama de napoleões retintos e pigmeus dos Boulevard encontraram nos acampamentos um calor que há muito não sentiam ou até desconheciam. Passaram a conhecer a “chama revolucionária”, que é irresistível. Descobriram que podem ter um objetivo na vida que não seja tricotar as meias do netinho. Sentiram o gosto e o prazer pela revolução que é a maior droga que existe. O amor pela revolução é a cocaína cívica que move milhões mundo afora.

A mídia tem enfatizado que os brasileiros que estão nos acampamentos são terroristas e golpistas. Óbvio que não são. Um ou outro pode ser, mas a imensa maioria foi picada pela revolução. Não sabem o que é um golpe nem uma atividade terrorista. Gravam suas ações e se apresentam em selfie, isso nunca foi ação terrorista. O terror não tem face e os golpistas também não. Ambos são ricos, operam nas sombras e usam o povo ingênuo como massa de manobra para atingir seus objetivos.

A mídia que acusa aquela massa beócia de golpista é a mesma que derrubou Dilma e prendeu Lula. Seus acionistas são os que intelectualmente assassinaram Chico Mendes e Irmã Dorothy, Marielle Franco e Wladimir Herzog. A mídia é a grande responsável por tudo o que acontece no Brasil nesse momento. Persegue Lula e o PT há 40 anos, jamais aceitou que os trabalhadores chegassem ao poder. Quando percebeu que o fascismo estava batendo à sua porta, voltou suas baterias contra Bolsonaro, mas assim que o bolsonarismo voltar a patamares aceitáveis se voltará contra Lula novamente. A pecha de terrorista faz parte da estratégia de esvaziar o apoio popular do bolsonarismo com seus mais de 50 milhões de votos. Depois que essa massa que se concentra nos “acampamentos patriotas” de desfizer, a artilharia se voltará novamente contra Lula, construirá uma nova massa antipetista e um novo presidente de direita sentará na cadeira presidencial.

Terroristas são eles.

 

 

 

 

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