Se quer paz fique longe das drogas ilícitas e da política. Os
últimos acontecimentos políticos pós eleição 2022 no Brasil, estão cobrando uma
reflexão menos carbonária.
A primeira abordagem que podemos fazer é sobre a qualidade de
caracterização dos atores sociais das hostes bolsonaristas, que estão sendo apontados
como terroristas, de maneira repetida e ostensiva pelos meios de comunicação.
Aquela massa quixotesca que está reunida em diversos pontos do
país, geralmente acampada em frente a unidades militares do exército brasileiro,
não pode ser classificada como terrorista. Ao fazê-lo, os meios de comunicação reduzem
a gravidade e a agressividade da atividade beligerante e mortal. Estão convencendo
a população que terrorismo é a mesma coisa que vandalismo conjugado com messianismo,
não é.
Se fizermos uma triagem naquela população contrita seus badulaques
auriverdes, veremos que a grande maioria está alí em busca de um país imaginário,
surreal, criado por mentes estratégicas visando a perpetuação no poder e o controle
eleitoral no país. Essa massa ignara, acredita nesse país utópico que lhes apresentaram,
assim como crê nas ameaças institucionais e cívicas, que foram criaram artificialmente
e obviamente necessitam ser combatidas.
A democracia prevê um conjunto de signos sociais que a população
organizada precisa seguir para que se possa exercê-la de maneira plena. Ao ter como
primado principal a liberdade, a democracia determina que para que seu exercício
aconteça de forma inconteste, haverá de prevalecer a determinação da maioria da
população, dentro da realidade estabelecida e existente.
A democracia contém em si um dos mais altos valores necessários
ao seu exercício que são as eleições. Os certames eleitorais são o clímax do processo
democrático. É onde e quando o povo escolhe os representantes que irão gerir os
destinos da pólis, que governarão e legislarão da melhor maneira possível visando
o bem comum.
O processo democrático pode assumir diversas configurações. Cada
nação escolhe a que melhor lhe aprouver. No sistema brasileiro as escolhas são realizadas
através de pleitos eleitorais que escolherão seus candidatos abrigados nas mais
diversas organizações partidárias. A vitória e a respectiva assunção ao parlamento
é consagrada aos candidatos que receberam mais votos por parte do eleitorado votante.
Então o sistema de maioria caracteriza a consagração da escolha de nossos representantes.
Em todo certame eleitoral em qualquer parte do mundo onde a democracia
é consagrada, há insatisfação com o resultado das urnas. Em pleitos onde a margem
percentual de votos da agremiação vitoriosa é muito estreita, costuma haver contestação
por parte da agremiação perdedora. É um sentimento normal dentro do espectro democrático,
onde milhares ou milhões de pessoas depositaram sonhos e esperanças em um projeto
político que por muito pouco não foi consagrado. Foi o que aconteceu no Brasil nas
eleições gerais em 2022.
As eleições gerais brasileiras de 2022 podem ser caracterizadas
ou alcunhadas como as eleições do fim do mundo ou as eleições sem fim. Os desdobramentos
dessas eleições causaram fraturas sociais e políticas que mesmo que sejam consolidadas,
através da gestão da política, deixarão suas marcas claudicantes no caminhar do
desenvolvimento do patamar civilizatório brasileiro.
O segundo turno das eleições foi entre dois projetos distintos.
Um com viés mais amplo, continha em suas propostas o ideário dos direitos humanos,
uma participação mais plural nas decisões governamentais e fortalecimento das minorias,
defesa do meio ambiente e desarmamento da população. O outro projeto era diametralmente
oposto a esse, onde o viés totalitário e intolerante, somado a arroubos patrióticos
e pentecostais era a pedra de toque dos comportamentos. A população escolheu como
projeto vencedor, aquele que lhe parecia de mais amplitude democrática, aquele
que a maioria elegeu como o modelo que lhe representaria nos próximos quatro anos.
A reação por parte dos derrotados, dos que não concordaram com
o resultado das eleições, surpreendeu a nação e foi de um efeito devastador. A posição
polêmica de questionar o resultado final das urnas eletrônicas, por parte do ex
presidente derrotado, foi o estopim para a deflagração de um movimento inflamado
que a cada dia que se passava ia se fortalecendo cada vez mais. O processo inicial
era acampar em frente a unidades das forças armadas solicitando intervenção militar
(ditadura) no país. Rapidamente o ódio às instituições democráticas se espalhou
como um rastilho de pólvora. A posição do Presidente da República derrotado de insuflar
esses acampamentos gerou diversas incubadoras de vândalos que em alguns casos flertava
com ações terroristas desastradas.
Mas quem compõe está massa ignara? Os componentes são pessoas
comuns, não há terroristas. São ex militares saudosos dos tempos de caserna, policiais
aposentados, senhoras que encontraram no movimento o fim para o solitarismo, jovens
que desejam uma causa para lutar, burgueses que sempre foram enxovalhados pela esquerda,
pessoas com demência que vagavam pelas ruas, pessoas de bem que cuidam bem de suas
famílias, pessoas que amam o Brasil, enfim, pessoas que por um motivo ou outro desejam
lutar por um Brasil que lhes foi incutido por mentes diabólicas e estratégicas.
Esse modelo de projeto de poder foi gestado nos Estados Unidos,
na Virgínia, onde o astrólogo Olavo de Carvalho
ministrava cursos de auto ajuda. A eleição de Bolsonaro, conseguida após um vigoroso
desmonte político da imagem do PT, que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff
e a prisão de Lula, foi o início da implantação do fascismo no Brasil, travestido
da denominação de ““direita”. A consolidação do fascismo no Brasil seguiu a velha
cartilha dos regimes totalitários, que utilizam a fórmula pronta utilizada por Hitler
e Mussolini que mistura uma parcela da população insatisfeita, mistura com altas
doses de patriotismo, defesa dos valores familiares cristãos, acrescenta religiosidade
e declara que a grande luta será contra o comunismo, o destruidor de lares e desagregador
da pátria. Obviamente que todos esses componentes estão flambados com uma taxa enorme
de desemprego e com a violência nas cidades atingindo índices elevados. A comunicação
adquire formato estratégico nesse modelo, pois, dissemina notícias falsas de maneira
intermitente, procurando deslegitimar a ordem institucional reinante. Assim Hitler
procedeu na construção do Terceiro Reich e assim Bolsonaro também fez na estruturação
do fascismo no Brasil.
A massa que aderiu ao modelo político proposto por Bolsonaro
pode entender de tudo, menos de política. Como a esquerda não tem paciência nem
metodologia para se relacionar politicamente com essa massa ignara, a não ser nas
eleições, o fascismo plantou nesse campo fértil suas sementes insidiosas, que floresceram
de maneira surpreendente em flores auriverdes, com aroma extremamente duvidoso e
às vezes até repulsivo.
A tiazinha do tricô largou as agulhas e partiu para Brasília
com o objetivo de invadir o Congresso Nacional. O morador de rua passou a morar
nos acampamentos e fazer três refeições diárias sem custo. Os loucos, os párias
da vida, as Genis sem zepelim, os desesperançosos, os lunáticos, sonhadores e toda
uma gama de napoleões retintos e pigmeus dos Boulevard encontraram nos acampamentos
um calor que há muito não sentiam ou até desconheciam. Passaram a conhecer a “chama
revolucionária”, que é irresistível. Descobriram que podem ter um objetivo na vida
que não seja tricotar as meias do netinho. Sentiram o gosto e o prazer pela revolução
que é a maior droga que existe. O amor pela revolução é a cocaína cívica que move
milhões mundo afora.
A mídia tem enfatizado que os brasileiros que estão nos acampamentos
são terroristas e golpistas. Óbvio que não são. Um ou outro pode ser, mas a imensa
maioria foi picada pela revolução. Não sabem o que é um golpe nem uma atividade
terrorista. Gravam suas ações e se apresentam em selfie, isso nunca foi ação terrorista.
O terror não tem face e os golpistas também não. Ambos são ricos, operam nas sombras
e usam o povo ingênuo como massa de manobra para atingir seus objetivos.
A mídia que acusa aquela massa beócia de golpista é a mesma que
derrubou Dilma e prendeu Lula. Seus acionistas são os que intelectualmente assassinaram
Chico Mendes e Irmã Dorothy, Marielle Franco e Wladimir Herzog. A mídia é a grande
responsável por tudo o que acontece no Brasil nesse momento. Persegue Lula e o PT
há 40 anos, jamais aceitou que os trabalhadores chegassem ao poder. Quando percebeu
que o fascismo estava batendo à sua porta, voltou suas baterias contra Bolsonaro,
mas assim que o bolsonarismo voltar a patamares aceitáveis se voltará contra Lula
novamente. A pecha de terrorista faz parte da estratégia de esvaziar o apoio popular
do bolsonarismo com seus mais de 50 milhões de votos. Depois que essa massa que
se concentra nos “acampamentos patriotas” de desfizer, a artilharia se voltará novamente
contra Lula, construirá uma nova massa antipetista e um novo presidente de direita
sentará na cadeira presidencial.
Terroristas são eles.
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