O tempo ínfimo que passamos aqui sobre
este planeta, inexplicavelmente nos cobre de vaidades, soberbas, julgamentos, preconceitos,
falsas verdades, egoísmos e desamores.
Não há uma explicação plausível para que
esses sentimentos negativos nós preencham. Nesse aspecto somos mais defeitos
que virtudes cotidianamente. A incapacidade de nos tornarmos perfeitos perante
uma matriz existencial definida em um conjunto de possíveis virtudes nos
exaspera.
Então criou-se o bem e o mal de acordo com
as características de cada grupo humano. E assim a humanidade caminha
referenciadas em verdades que determinam que a mulher é inferior, que negros e
indígenas são inferiores, que a terra não pode ser de todos e que o amor pode
ser comprado.
Para que possa existir em um cenário tão enigmático
e opressor a espécie humana desenvolveu as religiões. Trabalhando com a
metafísica do sagrado se consegue sobreviver nas turbulências da existência
humana legando a uma divindade superior e imanente todos os momentos de
felicidade ou infortúnio que perpassam nossas vidas.
A existência do dogma justificado pela metafísica
faz da mulher um ser inferior. Impedida de comandar os ritos sagrados na
maioria das religiões, segue sendo secundarizada pelo cristianismo dogmático por
ter sido criada através da costela do homem, um subproduto do ser masculino
dominante.
A merafísica determina que o que é sagrado
tem que ser cumprido e não contestado. Então os homens baseados no princípio da
dominação do sagrado criam leis, exércitos, processos de conquistas e opressões
onde afirmam seus pseudo poderes.
Há uma desconexão proposital da
efemeridade do ser humano com a infinitude do universo. Os livros que foram
escritos narrando a existência de divindades não preveram os avanços
tecnológicos e científicos que levam a humanidade casa vez mais distante no
espaço profundo. Antes o planeta Terra era o centro de tudo e a Criação estava
concentrada nele. Agora sabemos que nosso planeta é menor que um grão de areia
na imensidão universal. Sabemos que existem mais estrelas no céu que grãos de
areia na Terra.
São mundos infinitos em trilhões de
galáxias que nunca chegaremos a descortinar. Nossa visão de centro do universo
se estilhaçou e nós põe à prova quanto a imanência de um ser que tudo pode e
que tudo vê. A incapacidade de entender ou saber qual o objetivo de nossa
existência joga a resposta para o sagrado, pois somos incapazes de compreender
o que viemos fazer aqui.
A incompreensão existencial gera por conseguinte
os inúmeros desvios de caráter que permeiam a existência humana. Se o tempo de
nossas vidas é tão curto, precisamos usufruir o melhor da vida. Então vivemos
em uma sofreguidão por constituirmos bens, terras, imóveis, capital e outras
formas de aquisição de poder.
O rótulo do sucesso prevê a acumulação de
bens. O respeito civilizatório não se dá pelo conjunto de virtudes humanísticas
de um ser humano mãe sim pela capacidade de constituir capital. A metafísica
justifica essa posição ao afirmar que devemos dar à Cesar o que é de César e à
Deus o que é de Deus.
Deus é a virtude, o amor, a solidariedade
e a compaixão. César é o mundo difuso e plúmbeo do capital. Então vivendo entre
esses dois mundos vamos tentando sair de um para entrar no outro sem porém
abandonar um em detrimento ao outro.
Então a vida passa e os que estão perto do
final analisam as batalhas interiores entre esses dois mundos que nos compõem. No
fim pode parecer ridículo todo esse viver que nós atira constantemente nós
paredões desses dois mundos que consideramos destino.
Em 200 anos no futuro ninguém que está
vivo hoje nesse planeta estará vivo, terão desaparecido, transformados em cinza
e pó. Enquanto isso o universo seguirá em sua marcha infinita, pouco se
importando com nossas vaidades e arrogâncias que se foram envolvidas pelas
cinzas.
O céu enquanto um local paradisíaco
reservado aos que viveram uma vida dedicada a Deus não passa de uma meta e
inteligente construção metafísica. A Bíblia diz que é mais fácil um camelo
passar através de um buraco de agulha que um rico herdar o reino dos céus. Na
luta de boxe chamam de golpe abaixo da linha de cintura. No popular se diz
golpe baixo.
Sabemos que 1% dos mais ricos do planeta
ficaram com 2/3 de toda a riqueza produzida no mundo, que sugnifica 43 trilhões
de dólares, ou seja, seis vezes mais dinheiro que toda a população global
estimada em 7 bilhões de pessoas.
Essas pessoas super ricas não poderão
entrar no reino dos céus pelo simples fato de já estarem nele. As outras 99%
lutam bravamente para não chegarem ao inferno, que na verdade está aqui na
Terra e é muito fácil de entrar nele, basta perder o emprego e não conseguir
outro ou depender da saúde pública em caso de doença.
Não conheço nada mais inteligente e eficaz que convencer o miserável a sentir pena do destino metafísico de um rico e se resignar com sua indigência, pois somente através dela alcançará o paraíso. Ao acreditar no excerto bíblico, o miserável jamais se levantará contra seus senhores, pois, a ele está destinado viver aos pés de Deus e da Virgem Maria em um ambiente puro, divino e livre de pecado. A ele foi apresentado um mundo invisível e fantástico como recompensa pelo seu comportamento resignado e servil aqui na Terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário