Aos jovens é concedido o prazer da experimentação da vida. A existência de um jovem pulsa forte como a energia de uma estrela de nêutrons. Tudo é muito intenso, os hormônios estão ocupadíssimos em seus processos de desenvolvimento químico e orgânico e nada, absolutamente nada, poderá detê-los em seus destinos construtores. Os jovens de Esparta ansiavam e eram preparados para a guerra, os jovens africanos para a caça e os indígenas para os rituais que o permitiam estar e conviver com os mais velhos. Os jovens do presente vivem a quimera da felicidade eletrônica, da justiça social, da igualdade, da democracia, da terra prometida em um mundo ideal e solidário que jamais conhecerão, enquanto que os jovens do futuro serão os defensores da Terra e em alguma escala de de tempo futura estarão aqui soluçando sobre os escombros gerados pelas guerras do capitalismo. Estarão empenhadíssimos na hercúlea tarefa de construir amorosidades e entrelaçamentos em um planeta plúmbeo e mortiço. A saga do renascimento da humanidade descortinará em um futuro próximo jovens expeditos brilhando nas brumas da incompreensão humana, como as flores perfumadas que vicejam em pântanos fétidos que nada mais é que o milagre da Criação nos mostrando o quanto devemos ser resilientes, persistirmos, mesmo que os pântanos da vida sejam os mais assombrosos e inamistosos possíveis.
Nossos jovens nos observam bem de perto, constatam que nós os adultos, estamos destruindo o planeta do futuro que não nos pertence pois não estaremos mais aqui. Sim, enquanto viventes pretéritos, estamos promovendo a destruição do planeta deles, que pertencerá somente a eles. Por isso a tristeza e a incompreensão dos jovens com a irracionalidade dos adultos. Por isso o choque geracional onde a revolta torna-se a face mais acentuada de um grupo humano e vívido, silenciado através do ageísmo cruel emanado pelos espíritos opressores das têmporas gris.
Enquanto fractais da criação, nossos jovens não podem perder o brilho nem a força da similaridade na energia em consonância com o vácuo estelar, da matéria escura que nos envolve, onde o universo repousa e ao mesmo tempo é o tudo e o nada, na qual estamos conectados e emaranhados, onde repousam as soluções de todos os enigmas e mistérios.
Uma única célula humana possui cerca de 220 bilhões de átomos, assim como as galáxias do universo que abrigam mais de 200 bilhões de estrelas cada. São universos em expansão, tanto na relatividade quanto no mundo quântico, jovens e galáxias, os dois rumando céleres para os braços do grande atrator, que não sabemos e ninguém sabe onde está e quando ou se será encontrado, para nos mostrar enfim qual a finalidade do milagroso balé quântico da vida.
A razão da existência de jovens, galáxias, estrelas e tudo que existe nos é inexplicável e não é nós permitido saber. Qual o sentido da exegese do fecundar, nascer, viver e morrer de uma borboleta em tão ínfimo período de tempo? Não há ao menos tempo para entender e muito menos para explicar o quão tudo é tão profundo e inexplicável ao se referir ao milagre da vida. Uma verdade mimética onde ao menos sabemos se estamos vivendo e porquê e para quê, ou se já morremos e estamos em uma outra dimensão paralela ou definitivamente não há explicação para estarmos vivos. A morte não existe no universo, é apenas o fim de um ciclo onde nossa estrutura de carbono, nossa matéria, deixa de existir e retornamos ao estado de energia. A matéria é um arcabouço temporal em escala desprezível perante a infinitude da energia em baixa intensidade que abrigamos. Somos a prisão de carbono dessa energia misteriosa e imortal. Átomos não morrem quando a vida corpórea termina. Na verdade muitos “voltam para casa”, para o insondável primordial do universo, para as estrelas, supernovas, pulsares, nebulosas e buracos negros. Dentro do caldeirão primordial do renascimento formam e se reformam como em uma forja infinita dos poderes da criação. Então a estrutura atómica que constituía os frágeis humanos, se tornam ao se libertarem do jugo do carbono, oceanos, árvores, animais, planetas, estrelas, outros seres humanos e as mais diversas configurações universais, representando o complexo jogral constitutivo, admirável, mimético, multidimensional e impenetrável da vida.
Enquanto que crianças são o graal da Criação, os jovens são os avatares, os dínamos orgânicos de algo superior onde o acaso não encontra abrigo. Espaço contrito onde o mistério da vida nos assombra com a consonância que há entre o farfalhar obsessivo de uma jovem crisálida no afã se tornar imago e o momento da vida dos jovens que como os pulsares agiganta os sentimentos nós corações dos jovens motocontinuamente, pulsando em uníssono como um inimaginável e fiel entrelaçamento quântico.Talvez a maior e mais evidente representação da singularidade do entrelaçamento dessas energias nos humanos seja o amor. Sim, o amor, sentimento inexplicável que acontece por si mesmo, independendo de seu hospedeiro. Como explicar o encontro entre duas pessoas estranhas quando então em uma simples troca de olhares as energias enlouquecidas bagunçam a matéria, fazendo os corações dispararem, criando nós nas gargantas enquanto que o tempo e espaço param o mundo para que os dois que se encontraram energeticamente possam embarcar na fruição prazeroza de endorfinas, serotoninas, dopaminas e oxitocinas.
O casal apaixonado ama-se loucamente e se for confirmado o entrelaçamento quântico que muitos chamam de encontro de almas, partem para dividir a vida sob o mesmo teto, gerando filhos que são o ápice e a consolidação do processo bioquímico e energético que completa a saga humana na grande jornada da vida.
A vida, ah! Esse sabor da vida! Ajustado na dimensão do espaço/tempo, avançando sem ousar ou temer recuar, pois a grande determinação não permite que aconteça. Avante Vida! Nas crisálidas, na natureza, nos jovens e no cosmos. Vida regida pelo tempo, sempre avançando inexorável rumo ao inexpugnável grande atrator, onde não o habitam nem o tudo e nem o nada. Existimos então para quê se nós é concedido viver em tão brevíssimo espaço de tempo ou agradecer por nos ser permitido viver essa tão espetacular experiência que é o milagre da vida?
Somos educados para não nos conhecermos. Sócrates morreu também por afirmar convicto que o ser humano deve conhecer a si mesmo antes de qualquer coisa. Sim, primeiro deveríamos ser instruídos a nos conhecer desde os primórdios, analisar nossas capacidades, nossa maneira de enfrentar a vida. Mas não, nós enfiam em crenças e religiões onde um Deus vingativo e cruel deve ser temido ao invés de amado.
Viver assim é estabelecer conssonância com qual objetivo existencial que não seja formação de mão de obra para o mercado de trabalho? O que deveria ser uma vida livre, feliz, serena e integrada com a natureza torna-se um martírio enfadonho onde passa-se a metade do dia nos apertos do transporte públicos, outro tanto no ambiente de trabalho, outro pedaço do tempo dormindo e praticamente nada para a fruição do lazer, da poesia, do teatro, da literatura e das artes e esportes de uma maneira geral. A Revolução Industrial foi uma adaga com dois gumes que decepou a convivência dos trabalhadores com a casa e a família ao construir os grandes espaços fabris. A partir de então fomos perdendo a essência e o brilho. A promessa de um mundo de luzes exarada pelo Iluminismo não se concretizou senão para poucos. A grande massa trabalhadora ao abandonar a manufatura manual e caseira assinou a pena capital de sua liberdade, tornando-se escrava do tempo Edo dinheiro.
Com a saída do lar para as fábricas, os individualismos e as solidões aumentaram e a humanidade ao viver e conhecer o capitalismo passou a conhecer a competição desumana e então passou a ser triste e melancólica, violenta, intolerante, desagregadora, punitiva e cruel.
A modernidade trouxe satisfação para os que fizeram fortuna explorando os trabalhadores. Não há um grande empreendimento sequer que não tenha em algum momento de sua história se beneficiado ou da escravidão ou da exploração análoga à escravidão de seres humanos. A pobreza, a fome, a desigualdade e a injustiça não vieram das estrelas onde tudo é ordenado para que tudo possa coexistir da melhor forma possível, comoa Terra e a Lua, eternamente enamoradas e sem nunca se acariciarem.
Ao negar aos jovens a reflexão sobre sua verdadeira origem e a complexidade que os constituem, a cátedra comete um desvio na jornada do conhecimento. Trocam o esforço e o método da ciência que caminha tecendo as redes de conhecimento por narrativas metafísicas de cobaras que falam e de uma humanidade gerada a partir de seres constituídos por homens-tijolos e mulheres-costelas. Maria Montessori dizia que nossas crianças são educadas para a competição e esse é o princípio das guerras. Precisam ser educadas para a cooperação, para a solidariedade e para o amor, que são os sentimentos basilares da paz.
A fé e as crenças pertencem ao âmago de cada um e devem ser solenemente respeitadas. Porém negar aos jovens o conhecimento da criação primordial continua ser a velha trucagem de trocar a mecânica quântica, a astronomia e a astrofísica pela metafísica, a evolução pela criaçao, empilhando crenças onde o mêtodo científico está consolidado. Perdidos dentro desse labirinto antropológico nossos jovens crescem sem saber nada de si, que são poeira de estrelas e que podem e devem brilhar hoje e para todo o sempre.
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