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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Dostoiévski passeando nas estrelas

Os sinos dobram quebrando o silêncio nas noites estreladas de São Petersburgo. A pérola do Neva está de luto. Fiódor Dostoiévsky deixa o mundo dos vivos. Seu corpo jaz hirto e solene na casa dos mortos onde crimes e castigos são perdoados e os demônios definitivamente exorcizados. A gente pobre, o idiota e o jogador choram observando o esquife que descerá à tumba.
A partir de então será uma triste memória no subsolo marejando os olhos dos irmãos Karamazov. Os sons dos sinos enlutados cobrem a cidade dourada com uma tristeza indescritível. As catedrais em lamento anunciam a emancipação espiritual do seu corpo livre do frágil cárcere de carbono que limita a alma à estrutura que compõe a pobre e tosca matéria humana.
Enfim livre! Está livre deste calabouço de expiações. Repositório de tristezas e lamentos do que um dia pode ser chamado de vida. A humanidade está cada vez mais desumana e cruel, tornando-se tristemente inumana, onde seus representantes estão perdendo as características basilares da solidariedade e do amor. As pessoas que ainda persistem nessas virtudes são como comunidades raras e retiradas em um mundo violento e em princípio de auto-extinção.
Infelizmente a alma humana não deu conta da complexidade do existir e capitulou diante dos discursos de ódio e das segregações infinitas como por cor da pele, credo, ideologias, culturas e cosmovisões. Se há um criador, ou criadora, devem lamentar o tanto de tempo que foi perdido para a evolução desses seres para que se tornassem tão cruéis assim, tão intolerantes assim, tão estranhos e perversos. Viver preso a este mundo sufocante deixou de ser graça para ser castigo. A morte soa como um chamado bem-vindo que retira toda a gente deste sombrio vale de lágrimas.
A Terra agora é um planeta doloroso e incompreensível que ficou para trás. É apenas um pálido ponto insignificante que insiste em brilhar envergonhado no negrume da noite eterna. Continuará sendo o purgatório das dores de um povo que se entregou à cobiça e acúmulo de riquezas e poder a qualquer custo. São cativos da usura e da perfídia, buscando através do sofrimento e exploração de seus semelhantes uma vida farta, mesmo que obsessiva e triste.
Há que surgir uma Nêmese que possa restaurar a gênese redistributiva do espírito humano que esqueceu do milagre dos peixes fartamente narrado nas escrituras dos cristãos.
Como oriundos do útero das estrelas nossa missão é brilhar e iluminar o semelhante e não escravizá-lo e submetê-lo à subcidadania. As mulheres devem ser exaltadas e não humilhadas, devendo ser restaurados todos os seus sacros lugares de geradoras da humanidade. A fome, a miséria, a ferocidade e a sordidez são situações devem ser banidas de nossa condição humana, para que possamos viver efetivamente livres.
A alma do poeta enfim partiu livre e sem amarras pela imensidão do universo. Sobrevoa extasiado por quasares, pulsares, estrelas de nêutron, gigantes vermelhas, sistemas binários e constelações que nascem nascem no mais profundo caos. Em sua trajetória surgem nebulosas e berçários de estrelas dançando sobre a matéria escura. Milhares de sóis brilhantes adornam sua jornada, coroando o sonho de um homem místico que considerava a morte uma história desagradável, pois sempre acreditou que a vida somente é suportável através da esperança e de que a morte é apenas uma ilusão.
Segue cruzando dimensões incríveis, mundos paralelos, misteriosos buracos negros com seus horizontes de eventos. Em sua fantástica viagem rejubila-se com a perspectiva de estar diante do Dono de todo esse poder.
A Terra, aquele velho, pesado, incompreensível e doloroso mundo ficou para trás, é apenas um pálido ponto azul no negrume universal. Cumpriu sua expiação naquele território de expiação e sofrimentos onde os humanos purgam suas dores existenciais e seus desejos de ouro e poder.
Na serenidade da liberdade mais pura, ouve os acordes que soam nos campanários do paraíso, espaço onde o pensamento está livre das limitações da matéria, dos julgamentos, dos duplos comportamentos, das culpas.
Flutua livre e suave nos infinitos recônditos do universo inimaginável sob o troar dos Pilares da Criação, onde luzes rasgam as trevas imemoriais criando novos mundos através da gênesis primordial.
Assiste maravilhado a magia da Criação gerando novos corpos celestes em um universo sem fim.
Observa espantado e feliz em sua magnificência de todo o ordenamento universal: Grupo Local, Aglomerado de Virgem, Laniakea, o Grande Atrator, Pontes Einstein-Rosen, Muralha de Hércules – Corona Borealis e a imensidão inimaginável bo universo profundo. Apesar da fúria e do caos parido no ventre da dialética de Deus há paz e harmonia. As ondas de amor que sente são as cordas da harpa da criação divina. Tudo se resume em amor, tudo é amor, absolutamente amor
Fique em paz na luz eterna e amorosa amado irmão, camarada e poeta Dostoiévski. O ser humano que falava a língua dos anjos.

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