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Eu Negro

terça-feira, 9 de abril de 2024

Dostoievski passeando nas estrelas


Os sinos dobram quebrando o silêncio nas noites estreladas de São Petersburgo.

A pérola do Neva está de luto

Fiódor Dostoiévsky deixa o mundo dos vivos.

Seu corpo jaz hirto e solene na casa dos mortos onde crimes e castigos são perdoados e os demônios definitivamente exorcizados.

A gente pobre, o idiota e o jogador choram observando o esquife que descerá à tumba

A partir de então será uma triste memória no subsolo

Marejando os olhos dos irmãos Karamazov

Os sons dos sinos enlutados cobrem a cidade dourada com uma tristeza indescritível

As catedrais em lamento anunciam a emancipação espiritual do seu corpo

Frágil cárcere que limita a alma à estrutura de carbono que compõe a pobre matéria humana.

Enfim partiu livre e sem amarras pela imensidão do universo

Sobrevoa extasiado por quasares, pulsares, estrelas de nêutron, gigantes vermelhas, sistemas binários e constelações que nascem do mais puro caos

Em sua trajetória surgem nebulosas e berçários de estrelas dançando sobre a matéria escura

Milhares de sóis brilhantes iluminam sua jornada, coroando o sonho de um homem místico que considerava a morte uma história desagradável

Sempre acreditou que a vida somente é suportável através da esperança de que a morte é apenas uma ilusão

Segue cruzando dimensões incríveis, mundos paralelos, misteriosos buracos negros com seus horizontes de eventos

Em sua fantástica viagem rejubila-se com a perspectiva de estar diante do Dono de todo esse poder

A Terra, aquele velho, pesado, incompreensível e doloroso mundo ficou para trás

Terra, território de expiação e sofrimentos onde os humanos purgam suas dores existenciais e seus desejos de ouro e poder 

Na serenidade da liberdade mais pura, ouve os acordes que soam nos campanários do paraíso

Onde o pensamento está livre das limitações da matéria, dos julgamentos, dos duplos comportamentos, das culpas

Flutua livre e suave nos infinitos recônditos do universo inimaginável

Viajas sob o troar dos Pilares da Criação, onde luzes rasgam as trevas imemoriais criando novos mundos da gênesis primordial

Assiste maravilhado a magia da Criação gerando novos corpos celestes em um universo sem fim

Observa espantado e feliz em sua jornada, a magnificência de todo o ordenamento universal

Grupo Local, Aglomerado de Virgem, Laniakea, o Grande Atrator, Pontes Einstein-Rosen, Muralha de Hércules – Corona Borealis a imensidão inimaginável

Apesar da fúria e do caos parido no ventre da dialética de Deus há paz e harmonia

As ondas de amor que sente são as cordas da harpa da criação divina

Tudo se resume em amor, tudo é amor, absolutamente amor

Fique em paz na luz eterna e amorosa amado irmão, camarada e poeta Dostoiévski.

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