A pérola do Neva está de luto
Fiódor Dostoiévsky deixa o mundo dos vivos.
Seu corpo jaz hirto e solene na casa dos mortos onde crimes e castigos são perdoados e os demônios definitivamente exorcizados.
A gente pobre, o idiota e o jogador choram observando o esquife que descerá à tumba
A partir de então será uma triste memória no subsolo
Marejando os olhos dos irmãos Karamazov
Os sons dos sinos enlutados cobrem a cidade dourada com uma tristeza indescritível
As catedrais em lamento anunciam a emancipação espiritual do seu corpo
Frágil cárcere que limita a alma à estrutura de carbono que compõe a pobre matéria humana.
Enfim partiu livre e sem amarras pela imensidão do universo
Sobrevoa extasiado por quasares, pulsares, estrelas de nêutron, gigantes vermelhas, sistemas binários e constelações que nascem do mais puro caos
Em sua trajetória surgem nebulosas e berçários de estrelas dançando sobre a matéria escura
Milhares de sóis brilhantes iluminam sua jornada, coroando o sonho de um homem místico que considerava a morte uma história desagradável
Sempre acreditou que a vida somente é suportável através da esperança de que a morte é apenas uma ilusão
Segue cruzando dimensões incríveis, mundos paralelos, misteriosos buracos negros com seus horizontes de eventos
Em sua fantástica viagem rejubila-se com a perspectiva de estar diante do Dono de todo esse poder
A Terra, aquele velho, pesado, incompreensível e doloroso mundo ficou para trás
Terra, território de expiação e sofrimentos onde os humanos purgam suas dores existenciais e seus desejos de ouro e poder
Na serenidade da liberdade mais pura, ouve os acordes que soam nos campanários do paraíso
Onde o pensamento está livre das limitações da matéria, dos julgamentos, dos duplos comportamentos, das culpas
Flutua livre e suave nos infinitos recônditos do universo inimaginável
Viajas sob o troar dos Pilares da Criação, onde luzes rasgam as trevas imemoriais criando novos mundos da gênesis primordial
Assiste maravilhado a magia da Criação gerando novos corpos celestes em um universo sem fim
Observa espantado e feliz em sua jornada, a magnificência de todo o ordenamento universal
Grupo Local, Aglomerado de Virgem, Laniakea, o Grande Atrator, Pontes Einstein-Rosen, Muralha de Hércules – Corona Borealis a imensidão inimaginável
Apesar da fúria e do caos parido no ventre da dialética de Deus há paz e harmonia
As ondas de amor que sente são as cordas da harpa da criação divina
Tudo se resume em amor, tudo é amor, absolutamente amor
Fique em paz na luz eterna e amorosa amado irmão, camarada e poeta Dostoiévski.