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Eu Negro

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A VITÓRIA DE LULA NO REINO DE NÁRNIA

A eleição presidencial de 2022 pode ser tranquilamente chamada de “a eleição do fim do mundo”. Nunca antes na história desse país houve uma eleição tão eletrizante, tão indefinida até o último minuto como esta.
Eleito com uma margem apertada de voto, o presidente Lula terá um imenso trabalho político a fazer pela frente. A tarefa de colocar o país nos trilhos, de volta a democracia, passará pelos seguintes óbices: Congresso Nacional; Comunidade Evangélica; Agronegócio; Centrão; Forças Armadas; Polícias e o empresariado nacional.
Lula é bom de conversa, sempre foi. Vai ter que convencer esses setores que lhe são hostis, que seu governo será de conciliação nacional. Quando se fala em conciliação nacional obviamente que há um aceno na direção desses setores.
O país está dividido e devastado. Dividido por conta da politicagem excludente de um governo Bolsonaro combalido por suas políticas equivocadas, que levaram o país à bancarrota. Ao mesmo tempo dividido por força da política de guerrilha do governo, que utilizando métodos de comunicação inspirados no departamento de propaganda do Terceiro Reich de Hitler, que para destruir a Republica6de Weimar e implantar o poder totalitário na Alemanha, assustava a população com a ameaça comunista, enquanto que estimulava o nacionalismo alemão, com a utilização exacerbada do positivismo com viés antidemocrático e beligerante.
Bolsonaro utilizou aqui as mesmas estratégias de Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, que criava notícias falsas que eram reproduzidas para a população através de tablóides, cartazes, rádios e todas as formas de comunicação possíveis. Eram as atuais fake news, usadas largamente pelo sistema de comunicação do governo Bolsonaro.
A principal fake news que causou enorme repulsa pelo candidato petista foi a disseminação da informação que Lula era um presidiário condenado em três instâncias e solto pelo STF para tirar o governo de Bolsonaro e entregá-lo a grupo de ladrões.
Em nenhum momento, a campanha Bolsonaro esclareceu a população que Lula teve seus processos extintos, devido à parcialidade do juiz Sérgio Moro, que foi declarado parcial pelo plenário do STF, extinguindo assim seus processos e suas condenações que não deveriam nem mesmo ter existido. Quando Lula foi condenado a 9 anos de prisão por Sérgio Moro e teve a pena aumentada para 12 anos pela segunda instância, possuía 35% das intenções de voto e Bolsonaro apenas 16,%.
Sergio Moro retirou Lula da disputa presidencial, tecnicamente já vencida por Lula, recebendo como contrapartida de Bolsonaro eleito o Ministério da Justiça. Sergio Moro vazou para o Jornal Nacional uma confissão falsa de José Palloci, então ex ministro de Lula, confissão que caiu como uma bomba nas hostes petistas, gerando repulsa em todos os setores da população. Ao entregar o documento da falsa confissão ao Jornal Nacional, Sérgio Moto deixou definitivamente duas digitais no golpe que estava em curso. As bases bolsonaristas utilizaram a informação à exaustão, e ainda usam até os dias de hoje, mesmo sabendo da decretação de parcialidade do Juiz Sérgio Moro pelo STF.
NÁRNIA
A ministra Damares Silva fez uma denúncia em horário eleitoral de que no Amapá estavam extraindo dentes de bebês com a finalidade de facilitar a prática de sexo oral com os bebês. Além de ser inverossímil e repugnante, a mente doentia dessa mulher a fez propagar a mentira por meses a fio.
Dando prosseguimento ao processo de alucinação coletiva, dentro do escopo do que nomearam como “ideologia de gênero”. Passaram a disseminar a ideia hedionda de que os banheiros no Brasil não seriam mais divididos e que inclusive nas escolas os gêneros masculinos e femininos utilizariam conjuntamente a mesma dependência sanitária.
A maior aberração política porém foi terem investido na apartação do povo brasileiro. No ataque sistemático à democracia, desrespeitando as instituições, principalmente o Judiciário.
O ataque sistemático ao bioma amazônico foi de uma agressividade avassaladora, causando a elevação criminosa do desmatamento, do garimpo ilegal e do assassinato de defensores da natureza.
O mundo de Nárnia que Bolsonaro criou não se sustentou diante do furor popular democrático que despertou para barrar o avanço do fascismo e de um governo pautado pelo totalitarismo e pela violência.
A aprovação do projeto que flexibilizou a aquisição de armas de fogo pela população foi a gota d’água para a detonação da violência armada no país, com ênfase para o surto psicótico de Roberto Jefferson atacando a Polícia Federal e a Deputada Carla Zambelli correndo pelas ruas de São Paulo de arma em punho intimidando cidadãos. O assassinato do dirigente petista no Sul do país por um fanático bolsonarista foi o sinal de que se esse governo fosse reeleito, certamente fomentaria uma guerra civil no país.
Nunca um governo na história do Brasil utilizou tanto, descaradamente, despudoradamente a máquina pública na tentativa de reeleger o Presidente da República. A própria Polícia Rodoviária Federal tentou através de centenas de operações no nordeste que o povo fosse impedido de votar. Foi um crime perpetrado pelo próprio estado brasileiro às escancarado, visando impedir o sagrado direito do voto por parte da população.
A grande tarefa de Lula será desmontar o reino de Nárnia e reconstruir o Brasil real, democrático, laico e cidadão. Que os ares democráticos que bafejam a grande e expressiva vitória de Lula carreguem para bem longe os ares plúmbeos e soturnos do totalitarismo e do fascismo.
Uma belíssima vitória da democracia brasileira

domingo, 30 de outubro de 2022

A CADELA DO FASCISMO E O VOTO DO MEDO

Bertold Brecht disse que a cadela do fascismo está sempre no cio. Quis dizer com isso que a opressão, a intolerância e por conseguinte o totalitarismo, não dormem nunca e estão sempre à espreita, construindo novas possibilidades de adensamento e prospecção de poder.

Está é a primeira eleição que participo onde constato que o medo é o principal ingrediente do certame. O que antes era uma grande festa cívica, transformou-se em um imenso movimento opressor, um big brother maléfico, onde o cidadão ou cidadã que não estiver de acordo c o modelito positivistas, com vestimentas nas mesmas cores da bandeira nacional, exaltando os símbolos pátrios e preferencialmente ouvindo o hino nacional é um potencial inimigo da nação e portanto, dependendo da avaliação do contexto, pode até ser eliminado.

Pela primeira vez vejo as ruas silenciosas. A cadela do fascismo ronda as avenidas. Uma deputada sacando arma de fogo aqui contra  homem negro,  homem atirando granadas e disparando cinquenta tiros de fuzil contra uma guarnição da polícia federal ali e a segurança de um candidato a governador de São Paulo matando um inocente desarmado acolá.

A política governamental de flexibilização da aquisição de armas de fogo transformou o país em  verdadeiro faroeste caboclo. Faroeste de um lado só, pois a imensa maioria da população, que mal consegue comer, nunca irá comprar uma arma de fogo cujos valores são proibitivos aos cidadãos comuns.

O povo pobre agora vive sendo acossado por essa corja doentia que resolveu sair às ruas atirando ao seu Bel prazer em quem considere suspeito ou então por qualquer tipo de altercação.

São tempos sombrios e difusos, onde tememos sair às ruas utilizando uma camiseta com minha preferência política, pois posso ser assassinado. Também não posso me manifestar sobre minha opção pelos direitos humanos ou pelo apoio ao movimento LGBTQIAP+.

É lamentável reconhecer que estamos amedrontados e amedrontadas. A cadela do fascismo nós espreita em cada esquina, em cada gesto e nas mais inimagináveis situações cotidianas. Estamos perdendo o Brasil da alegria, da gozação, da liberdade de credo, da liberdade de manifestação, da liberdade de amar.

Assim Hitler levantou a Alemanha após a República de Weimar, período que encerrou a monarquia e iniciou o período de democracia parlamentarista, entre os anos de 1919 até 1933 quando a propaganda nazista passou a questionar as origens e a eficácia da República Alemã, com o crescimento do movimento socialista. A burguesia do país passou a apoiar as ideias totalitárias no nazismo, fortalecendo Hitler com sua ideologias totalitária e de segregação. A máquina de propaganda nazista passou a explorar a ingenuidade do povo alemão alertando contra a “ameaça comunista” e exaltando o nacionalismo exacerbado, vigiando cotidianamente todos os passos de seus cidadãos. Deu no que deu e o resultado foram milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, com destaque para o  grande holocausto judeu, onde o nazismo ceifou 6 milhões de vidas em seus campos de extermínio.

Qualquer semelhança com o que está acontecendo no Brasil é pura realidade.

 

 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ATIROU NA POLÍCIA E SAIU ESCOLTADO

ROBERTO JEFERSON FOI TRATADO COMO ESTADISTA DEPOIS DE DISPARAR 50 TIROS DE FUZIL E LANÇAR 3 GRANADAS NA POLICIA FEDERAL FERINDO DOIS AGENTES
A população brasileira assiste embasbacada o novo escândalo, entre tantos outros, que tomou conta do país. Nunca na história desse país a lei foi tão conspurcada como agora.
O evento foi iniciado com o condenado bolsonarista Roberto Jefferson, cumprindo prisão domiciliar, postando um vídeo onde chama a Ministra Carmem Lucia do STF de “pro#titu#a” e “arro#bada”. O Ministro Alexandre de Moraes, ao tomar conhecimento do conteúdo do vídeo, decretou o imediato retorno do bolsonarista ao sistema prisional para cumprir o resto da sentença em sistema fechado. A Polícia Federal recebeu a ordem de cumprimento do mandado de busca e prisão, rumando para o bucólico município de Levy Gasparian na serra fluminense.
Ao chegar a mansão do bolsonarista, o grupo foi recebido a tiros de fuzil e lançamento de granadas por parte de Roberto Jefferson, que gravou todo o acontecimento, como prova de sua “valentia”, segundo ele, “digna de um combatente da “liberdade”.
O ataque tresloucado de Jefferson ao grupo da Polícia Federal resultou em dois policiais feridos, entre eles uma policial mulher de 31 anos e um delegado, além da destruição parcial da viatura por conta dos tiros de fuzil e da detonação das granadas.
Não houve troca de tiros e sim um atentado a vida de uma equipe policial que estava cumprindo seu dever. O nome desse atentado se chama “tentativa de homicídio”.
Quando a polícia usualmente mata um cidadão que atira na equipe policial, o fato é registrado como “resistência à prisão” ou nomenclatura semelhante. No caso do bolsonarista, a equipe policial foi surpreendida pelo terrorista que certamente já estava aguardando a guarnição através do vazamento privilegiado da operação.
Atualmente o Brasil vive de pão e circo no âmbito da política. A equipe da Polícia Federal deve ter sido instruída a não revidar, pois meliante é frequentador assíduo do Palácio do Planalto e participa ativamente das tentativas de desconstrução da institucionalizado brasileira, com foco na Suprema Corte, único órgão de Estado que o atual presidente da república não controla.
O ataque a equipe da Polícia Federal ganhou o noticiário nacional e a partir de então adquiriu os contornos de ópera bufa. Entrincheirado em sua mansão, o bolsonarista armado com mais de 15 fuzis de guerra não teve o mesmo tratamento por parte da polícia que é dedicado aos cidadãos comuns que resistem a prisão.
A Ópera Bufa
O espetáculo midiático do Álamo Brasileiro estava montado. Com a mansão cercada por dezenas de policiais de elite, a invasão certamente seria iminente. Mas qual o quê. O Presidente da República entrou em ação para defender seu cupincha, passando por cima de todos os cânones institucionais, ao determinar que o Ministro da Justiça se deslocasse de Brasília para Levy Gasparian para acompanhar as negociações da rendição do marginal.
Não bastasse o arranhão na institucionalidade, que paralisou a operação da briosa PF, chegam à residência, agora já bunker, do terrorista, o condenado e anistiado pelo presidente Bolsonaro, Alexandre Silveira e o padre de festa junina, que se tornou motivo de pilhéria no último debate televisivo com os candidatos à presidência.
Imobilizada pelo presidente da república, a Polícia Federal com dois dos seus agentes feridos no hospital, rangia os dentes com a passividade com que o grave atentado era tratado. Finalmente, após horas de firulas institucionais e uma pequena procissão destacando a chegada do padre ao vivo e a cores, o celerado Roberto Jefferson decidiu se entregar para que fosse cumprido o mandado de prisão.
Casa Grande e Senzala
Quando a Policia Federal recebe um mandado de busca e apreensão e prisão, revida imediatamente quando atacada. Geralmente as baixas são sempre do lado agressor, pois, como unidade de elite federal, porta o que há de mais moderno no que concerne a equipamentos voltados para o combate a criminalidade.
Mesmo com todo o aparato bélico à sua disposição, a PF foi impedida de revidar ao ataque, apesar de ter tido uma viatura semi destruída e dois policiais feridos no hospital.
As cenas do conversatório entre o negociador da Polícia Federal e o terrorista Roberto Jefferson parecia o clima típico de uma roda de samba com churrasco em vez de um confronto com um marginal que atacou a equipe policial que estava cumprindo sua missão. Na conversa todos participavam de maneira afável, tranquilos, como se nada tivesse acontecido e que nada de mais iria acontecer. O destaque mais negativo da resenha foi o policial federal sorrindo amavelmente para Jefferson, se desculpando pela equipe que foi cumprir o mandado pois os mesmos eram “administrativos” e não operacionais. A senzala quando lida com a casa grande fica tão deslumbrada que troca as bolas ao falar das competências necessárias e operacionais.
Como a operação foi previamente vazada, por agentes policiais ou por gente do STF, certamente bolsonaristas, ou até pelo Palácio do Planalto, foi enviada uma equipe de baixa letalidade, do pessoal administrativo. Tanto foi assim que dois agentes saíram feridos na operação com acionamento de armas por por parte de um idoso acometido de câncer e com nítidos problemas psicossomáticos. Era para acontecer assim, como aconteceu. Não foi enviada a equipe operacional ‘casca grossa’, pois se assim fosse, o bolsonarista estaria no colo do capiroto há tempos.
Roberto Jefferson foi conduzido a Superintendência de Polícia Federal no Centro do Rio como se fosse uma celebridade. Tornou-se mártir nas hostes bolsonaristas, elevado à categoria de mártir da liberdade.
Esse é o Brasil que decidiu escolher o atual presidente da república no esgoto do Congresso Nacional, em vez de um professor da USP, humanista e ex-prefeito da cidade de São Paulo com louvor.

sábado, 22 de outubro de 2022

Bolsonaros e Dinossauros

O projeto colonial e hereditário da Educação no Brasil, privilegia uma pequena casta burguesa, que tem acesso as melhores instituições de ensino que possuímos, (salvando raríssimas exceções), e por esse motivo, até por gravidade, acessa todos os espaços de poder disponíveis no país, deixando para o restante da população fome, pobreza e miséria. Consequentemente, por malandragem e por autopreservação, reproduzem sistematicamente o mesmo ovo da serpente que os gerou, alimentando a desigualdade sócio econômica e a ignorância cívica, que os mantêm felizes e bem providos em seus modos de vida.
Enquanto esse projeto criminoso persistir, nossa nação estará miseravelmente entregue à escroquia dos líderes religiosos, dos políticos corruptos vendilhões das nossas riquezas e de nossa soberania, dos empresários corruptores e golpistas, do judiciário de punhos de renda, do sistema de educação carcomido, excludente e ineficiente, dos militares que somente se preocupam com seus privilégios e para mantê-los assumem posturas golpistas, da universidade pública maltratada por aqueles que não reconhecem a importância dos centros de produção de saber e inteligência, das polícias que só enxergam a perversão e o crime na população negra e, enfim, de um falso positivismo que na verdade é a mais clara demonstração de um fascismo cruel e desumano. A falta de esperanças, sim, de esperanças, transforma boas pessoas em fascistas e as mesmas ao menos o sabem que são. Não entendem que estão impulsionando um meteoro mortal, sendo que também não sabem, que são neodinossauros.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

PROSTITUIÇÃO INFANTIL, CORRUPÇÃO E CANIBALISMO - O VERGONHOSO DEBATE ELEITORAL BRASILEIRO

Os debates da campanha eleitoral realmente estão de lascar. Os candidatos promovendo as mais diversas acusações como pedofilia, corrupção, banheiros unissex, aborto, assassinatos, e pasmem, fechamentos de igrejas e canibalismo.
Pobre Brasil, um país que necessita cumprir uma longa e espinhosa caminhada rumo ao desenvolvimento, quando tem a oportunidade de debater seus temas mais cruciais com a população, promove um show de horrores, onde o pérfido e a sordidez humana servem como pano de fundo para alavancar uma candidatura nitidamente fascista no certame eleitoral.
Sempre me preparo para assistir aos debates ansiando ver e ouvir explanações acerca das estratégias que utilizaremos nos próximos anos, para que o país de torne uma nação desenvolvida ou então menos áspera aos cotidianos de seus cidadãos, principalmente os mais vulneráveis.
Fico interrogando meus botões sobre quando adotaremos o transporte ferroviário de alta performance como matriz de transporte nas viagens em nosso país, torrão de dimensões continentais. É inadmissível que fiquemos reféns da categoria de caminhoneiros e do transporte rodoviário, de alto custo por km e extremamente prejudicial ao meio ambiente. Sonho com um trem bala que percorra todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Sul até o Amapá. A viagem seria espetacular, passando por paragens aprazíveis como Torres, Florianópolis, Ubatuba, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Cabo Frio, Búzios, Vitória, São Mateus, Caravelas, Porto Seguro, Salvador, Recife, Natal, João Pessoa, Fortaleza, São Luís e assim por diante, até chegar no topo do Brasil. Seria uma Transiberiana tropical, ensolarada, a Transbrasileira.
Um projeto como esse seria um grande impulsor no desenvolvimento do turismo e da geração de empregos em todo o país. Poderia ser realizado pela iniciativa privada através de concessões e parcerias em seus diversos trechos.
Nos debates sinto falta de uma proposta séria e concreta para a Educação, como por exemplo, a possível federalização do ensino em todos os segmentos, a construção de Institutos Federais e Universidades Públicas em todo o território nacional, valorização dos profissionais da Educação, além da revisão dos currículos escolares, tanto das escolas civis como das militares.
Não consigo entender porque os candidatos não apresentam propostas para solucionar o problema da saúde pública no país, com a construção de hospitais de referência bem equipados, valorização dos profissional da Saúde e investir na modernização dos currículos dos cursos de formação dos profissionais de saúde, investir pesadamente na atenção primária, conjugado com um programa de saneamento básico universalizado.
Na questão urbana, parece impossível surgir uma proposta que transforme as favelas em bairros modelos, planejados de acordo com a arquitetura inclusiva e amigável, com toda a infraestrutura necessária para que seus moradores pudessem viver com dignidade.
Sinto falta de programas de apoio ao empreendedorismo, ao movimento de Economia Solidária e Economia Criativa, assim como preparação de jovens para o mercado de trabalho através dos Institutos Federais e universidades.
A política voltada para o meio ambiente é uma tragédia a olhos vistos e motivo de vergonha internacional. Um país tropical como o nosso, desperdiça de maneira amadora a oportunidade de se tornar referência em plantas de geração das energias solar e eólica. Apesar de utilizarmos a matriz hidroelétrica que é bastante limpa, seus custos na ponta tornam-se pesados para a população devido aos altos impostos que sustentam uma máquina governamental pesada e ineficiente. A atuação governamental na Amazônia é de chorar, onde o garimpo ilegal, a extração clandestina de madeira e o avanço da pecuária intensiva causam um dano irreparável no bioma, causando indignação internacional.
O país só irá avançar se o esforço na Educação compreender um forte investimento em Ciência e Tecnologia, com produção em massa de patentes e soluções tecnológicas para o nosso desenvolvimento.
Existem várias âncoras que impedem que o Brasil caminhe na direção do desenvolvimento. Essas citadas acima são algumas poucas. Porém, nenhuma delas se tornará factível se o país continuar a despender 50% do nosso PIB com os serviços da dívida, que somam cerca de 2 trilhões de reais por ano. Essa quantia repassada à banca internacional, nos remete a figura do doente transfundindo sangue para o saudável.
Realizar uma auditoria cidadã na dívida externa seria um passo importante para a solução do problema da carência de recursos no orçamento público para os investimentos necessários para retirarmos o país do atoleiro que se encontra há centenas de anos.
Debater o orçamento público é desnudar os desmandos estruturais da nação. A elite brasileira permite tudo, desde que não mexam em seus privilégios e nem alterem a estrutura do capitalismo nacional. Talvez seja por isso que os debates em torno das propostas para a presidência da república fiquem restritos a sexo, crimes, pedofilia e canibalismo. O pão e o circo ficam garantidos enquanto o capital internacional ri da nossa incompetência cafona.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

DINOSSAUROS QUE AMAM O METEORO

O candidato Bolsonaro auferiu uma votação espetacular no primeiro turno das eleições de 2022. A decantada vitória de Lula no primeiro turno não aconteceu, jogando uma ducha de água fria na militância petista.
Bolsonaro venceu Lula no Sudeste, região onde se concentra a massa do operariado nacional, além de compreender as áreas de grande vulnerabilidade urbana com as maiores áreas de favela da América Latina.
Bolsonaro disse na TV que seus filhos foram muito bem educados, por este motivo jamais se casariam com uma mulher negra. Mesmo assim a população negra votou em Bolsonaro.
Em seu governo o salário mínimo não teve aumento real. Mesmo assim os trabalhadores votaram em Bolsonaro.
Bolsonaro não construiu uma universidade pública ou Instituto Federal sequer. Mesmo assim professores e estudantes votaram nele
Bolsonaro disse que mulheres deveriam receber salários menores que os dos homens e que sua única filha foi uma “fraquejada” que teve na cama com sua mulher. Disse ainda para uma congressista que não a estuprava porque ela era feia demais. Mesmo assim recebeu votos em profusão das mulheres.
Bolsonaro casou quatro vezes tendo quatro filhos com mulheres diferentes, além de dizer que utilizava o imóvel funcional de deputado para “comer gente”. Mesmo assim recebeu uma expressiva votação por defender a família.
Em reunião ministerial gravada em vídeo, seu principal ministro afirmou que a granada tinha sido colocada no bolso do funcionalismo público sem que o mesmo percebesse. E aí estão os servidores públicos do Executivo sem qualquer tipo de correção em seus salários há mais de quatro anos. Mesmo assim os servidores públicos votaram em Bolsonaro.
Bolsonaro se comportou de maneira ineficiente e desrespeitosa durante a pandemia da Covid19, postura essa que causou a perda de 700 mil vidas de brasileiros. Mas muitos dos que se salvaram da tragédia votaram em Bolsonaro.
Poderia elencar aqui dezenas de motivos para não se votar em Bolsonaro e descobrir que muitas das pessoas que mais foram afetadas por esses motivos também votaram em Bolsonaro.
Enfim, há um voto inexplicável e misterioso em Bolsonaro. Parece a estranha Síndrome de Estocolmo, onde o sequestrado se sente ligado ao sequestrador. Os cientistas políticos certamente se debruçarão sobre os indicadores desta eleição para procurar entender porque parte dos dinossauros escolheram o meteoro.

sábado, 8 de outubro de 2022

A DITADURA ESTÁ CHEGANDO

A ausência proposital de politização da sociedade por parte das instituições está levando o país para o fundo de um abismo bastante escuro e assustador.

A população brasileira é conservadora, como a maioria dos povos onde o cristianismo é a representação religiosa predominante. Aqui falo de cristianismo e não de catolicismo.

O Brasil está correndo grande risco institucional por parte de políticos da extrema-direita que pretendem assumir o controle político do Supremo Tribunal Federal – STF. De acordo com a constituição federal, a suprema corte pode sofrer sanções por parte do Senado da República. Os senadores podem junto com o Congresso Nacional, alterar as regras de acesso e tempo de mandato dos juízes da suprema corte, por exemplo.

O governo Bolsonaro constituiu nas últimas eleições a almejada maioria no Senado da República. Com a nova configuração o governo pode alterar as regras do jogo, aumentando o número de ministros do STF de 11 para 15 magistrados, podendo assim comandar o país de maneira autocrática, sonho supremo do presidente Bolsonaro.

Caso vença o próximo certame eleitoral, Bolsonaro poderá indicar mais dois ministros que se aposentarão pela cláusula de idade que são Rosa Weber e Lewandowski, ambos em 2023. Bolsonaro já possui dois votos garantidos no Supremo por conta das indicações de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, o terrivelmente evangélico. Com as duas aposentadorias de 2023, caso eleito, indicará mais dois ministros, que totalizarão quatro votos em um plenário de 11 votos. Com a ampliação para 15 ministros, Bolsonaro passará a ter oito ministros em 15, ou seja, a sonhada maioria do Supremo.

Bolsonaro controla com folga a Procuradoria Geral da República – PGR, que vergonhosamente, através do seu Procurador Geral Augusto Aras, atua mais como Advogacia Geral da União – AGU, que defende o governo, do que como Ministério Público, que como missão precípua, deveria defender os interesses da população. O Procurador Geral ambiciona uma das futuras vagas que serão abertas no STF e por esse motivo trabalha incansavelmente para atender aos interesses de Jair Bolsonaro, deixando a sociedade à mercê dos planos políticos do atual presidente e sua ‘entourage' de extrema direita.

Bolsonaro aliou-se ao Centrão, grupo político parlamentar fisiológico, criado durante os trabalhos da Constituinte de 1988, com o intuito de negociar politicamente as demandas apresentadas ao Congresso Nacional. Bolsonaro se tornou refém desse grupo ao correr o risco de sofrer impeachment durante a pandemia de COVID-19. Com os votos do Centrão ele se livrou da ameaça, mas caiu definitivamente nos braços gulosos do grupo que em sua saciedade infinita pariu a excrescência política denominada Orçamento Secreto, que talvez lhe garanta a reeleição através da compra de votos da base eleitoral do Centrão.

Resumindo, Bolsonaro que controla o Congresso Nacional, a PGR e as Forças Armadas, agora caminha para controlar o STF, última barreira que possibilitará a super concentração de poderes com a consequente instalação do estado de exceção no país, que significará a perda de direitos e o fim da democracia.

O Brasil está correndo grave risco de perda da institucionalidade democrática. Enquanto o povo digladia-se entre acusações de banheiros unissex de um lado e rachadinhas do outro, o golpe do autoritarismo caminha silenciosamente de acordo com seu planejamento.

A adesão à candidatura de Lula de nomes como Fernando Henrique, Aloysio Ferreira, José Serra, Pérsio Árida, Pedro Makan, Helena Landau, Simone Tebet, Ciro Gomes, o CEO da Natura e parte do PIB nacional, não significa rendição ao projeto petista e sim um ato desesperado de salvação nacional, de salvação da democracia. São os divergentes se unindo para combater os antagônicos.

Não sabemos se haverá tempo de salvar o país do obscurantismo. Porém, fica a lição de que o povo necessita de informação política, de pensar corretamente sobre os destinos da nação, de compreender a necessidade da laicidade do Estado.

Que no próximo dia 30 os eleitores brasileiros sejam iluminados pelos deuses da sabedoria e depositem nas urnas os votos da esperança e do amor.

 

 

 

ANNIE ERNAUX - A LUTA DE CLASSES ESTÁ EM MIM (Mario Sérgio Conti)



Até que enfim uma notícia boa, Annie Ernaux ganhou o Nobel de Literatura. Não que precisasse dele. É a grande autora de "Os Anos" que dá dignidade ao prêmio, e não o contrário. O importante é que a láurea pop-acadêmica levará mais gente a ler seus livros.

A leitura de Annie Ernaux ensina a se ensimesmar e a sair de si. A percorrer o túnel de dor e de vergonha e emergir do outro lado lacerado, mas vendo mais claro o que há de irreconciliável entre a existência íntima e a em sociedade. Só a arte radical e popular é capaz disso.

Arte radical: ela inventou um modo literário para expressar uma parte da condição humana, a de uma francesa que, nascida numa família operária, católica e provinciana dos anos 1940, se torna professora de classe média. Faz isso com o aço afiado da inteligência. Sua literatura mescla confissões sofridas com análise fria.

Combina o esgarçamento da família tiranizada pela necessidade com a sociologia de uma França que humilha os pobres. Os traumas de um aborto ilegal com a hipocrisia de uma sociedade carola. Relata sua fuga para o casamento e o congelamento numa nova família patriarcal que, com a corrosão dos anos, a encarcera noutra solidão.

Arte popular: suas frases — diretas, atentas a detalhes, de adjetivos pálidos— alternam a primeira pessoa e a terceira. Contudo, o "eu" que relata é objetivo e desconfia do que conta. E a terceira pessoa não é a de um narrador onisciente, do papai sabe-tudo dos romances tradicionais.

Embora seu engenho formal seja inventivo, ele não dificulta a comunicação. Porque o subjetivo e o objetivo não têm o mesmo peso nos seus livros: formada por células e celas individuais, a sociedade prepondera. Annie Ernaux aspira ao universal, e não à expressão de gemidos sentimentaloides de um ego cheio de si, ou astutamente comercial.

Que ela tenha se tornado popular na França mesmo estando na contracorrente; que tenha causado sensação ao ser traduzida para o inglês; e que agora lhe tenham dado o Nobel —tudo isso prova o vigor da grande arte da literatura.

Radical: Annie Ernaux é uma intelectual de esquerda de carteirinha. Era próxima do PCF e continuou comunista depois que o partido, caudatário do stalinismo até o último suspiro, virasse pó junto com a União Soviética. Marxista, batalha pela justiça social aqui e agora. Não faz média.

Popular: enquanto a esquerda caviar parisiense tinha chiliques com o levante dos coletes amarelos, lá estava ela, quase sozinha na defesa do povo irado da França profunda, vituperando a destruição dos serviços públicos organizada por Macron, o janotinha empombado da alta finança.

Radical: nas últimas eleições, Annie Ernaux integrou o Parlamento da União Popular, que conduziu a campanha para presidente de Mélenchon, candidato que pregava a ruptura. Para ela, a França insubmissa tem de pôr abaixo o sistema patronal e criar uma república que atenda os interesses dos deserdados.

O convívio entre o radical e o popular costuma ser conturbado. "A Terra Gasta", de T.S. Eliot, foi um poema revolucionário pouco entendido quando saiu. Ainda mais porque seu autor era antissemita, um reacionário de quatro costados cujo ideal era a Idade Média. Cem anos depois, o poema é um monumento que serve de emblema para a alienação moderna.

Aqui, Machado de Assis era um sereno conviva da monarquia. Mas seus últimos romances, de vanguarda, deixam entrever a torpeza da classe dominante, cosmopolita em teoria e escravista na prática. Causaram espécie, mas ficaram populares porque arreliam o presente perene. Vide Paulo Guedes, tipinho de patifaria machadiana: liberal e bolsonarista.

Annie Ernaux é um caso à parte de consonância entre estética e política, já que é uma vanguardista na forma que milita na esquerda pura e dura, além de feminista bem antes disso virar moda, atitude. Já em 2012 ela disse: "A luta de classes está em mim".

A interpenetração entre arte avançada e socialismo lembra a integridade de Brecht — mas os dois têm pouco a ver entre si por que a obra de uma é diferente da do outro. E, na vida e na arte, o que importa é a obra.

O que fica é o que se faz com as feridas abertas na alma pela luta de classes —e pelo amor, pela humilhação, pelo alumbramento, pela história, pelo sexo, pela alegria de viver e criar. Não é preciso concordar com a política de Annie Ernaux para se engrandecer com seus livros. Comece com "Os Anos", que é algo cada vez mais raro: uma obra prima."

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

O BRASIL FASCISTA QUE ESTÁ CHEGANDO

Um Brasil fascista não aplaudiria o pôr do sol nas pedras do Arpoador. Prá quê? Pôr de sol é coisa de fresco! Em um país fascista as pessoas não dançariam na chuva nem desfilariam no sambódromo em trajes sumários, esbanjando alegria e felicidade, não, não dá prá ser feliz. Não é prá ser feliz.
Nesse Brasil fascista não faríamos mais tatuagens. Não desrespeitaríamos o minuto de silêncio no Maracanã, porque afinal de contas, estávamos em um estádio fascista, tipo aqueles que Hitler criou na Alemanha durante o período do nazismo.
As praias fascistas proibiriam o fio dental, os vendedores de queijo de coalho, as altinhas e o frescobol à beira mar. O jacaré também seria proibido e após 18 horas todos seriam enxotados das areias porque quem fica na praia à noite, segundo os fascistas, é maconheiro.
No Brasil fascista todos andariam armados, ostentando seus trezoitões de cabo de madrepérola pelas ruas das cidades. Discutiu ali, pum! Bala nele! É esquerdista, comunista? Fogo nele! É sem teto? Fuzila! A mulher sorriu para o flanelinha fogo nela! O gay olhou? É na testa! Petista? Vermelho? Esse tem que matar bem mortinho e conferir.
O Brasil fascista faria um festa capitalista na Amazônia. Primeiro teria a imensa tarefa civilizatória de exterminar os povos indígenas. Segundo, meter motosserra em tudo que é árvore, porque para se tornar um país desenvolvido como os Estados Unidos tem que acabar com as florestas. Para concluir a missão civilizatória na Amazônia o garimpo seria totalmente liberado. Choveria diamante prá todo lado, as barrancas dos rios iriam dourar de tanto ouro. Para que a iniciativa privada pudesse libertar os amazônidas da horrível pobreza, imensas usinas termelétricas à carvão seriam construídas e postas em funcionamento.
No Brasil fascista não seria permitido em nossas escolas doutrinas que fortalecessem a democracia como Sociologia, Filosofia e temas humanísticos em geral, coisa de comunistas. As escolas seriam positivistas, militares, formando jovens, homens e mulheres, prontos para oferecer a vida ao país na luta contra o comunismo e também contra a perversão sexual.
No Brasil fascista o Congresso Nacional seria um verdadeiro tribunal de exceção, onde os parlamentares teriam o poder de decisão sobre a vida e a morte de instituições e cidadãos. Sempre haveria a desconfiança, a acusação e o dedo apontado para o outro. No país fascista todos que não fizessem reverência ao Mito seriam suspeitos de traição à pátria até que provassem em contrário.
A moda no Brasil fascista seria sempre referenciada na camiseta da seleção brasileira de futebol, com a bandeira nacional sendo usada como capa de super herói. A miríade auriverde seria a única força cívica que defenderia a família e a fé cristã. Mini bandeiras seriam utilizadas como bandanas, nos eventos públicos de exaltação ao Mito.
Os negros sofreriam como nunca no Brasil fascista. Seriam comparados com gado na checagem do peso, em arrobas, sendo que seriam sempre suspeitos de algum tipo de transgressão no cotidiano. Nesse Brasil nem venham falar em cotas, seria tudo na meritocracia, pois todos seriam iguais e competiriam em igualdade de condições. No Brasil fascista os filhos das famílias brancas, se diriam muito bem criados, sendo assim, jamais se casariam com uma mulher negra.
No Brasil fascista estudar seria um problema. O estudante que sonhasse em ingressar na universidade e seguir na academia, encontraria grande resistência por parte da sociedade. Seria chamado de anticristão, de fariseu, de tentar desvendar os mistérios divinos. No Brasil fascista o conhecimento seria concedido através das redes sociais, sendo que o conhecimento da sociedade estaria restrito ao crivo da pós-verdade. As fake news então oficializadas como modelo de informação oficial do sistema, seriam disseminadas cotidianamente com o intuito de fortalecer o imaginário social contra o campo progressista, democrático ou comunista se assim preferirem.
No Brasil fascista não haveria amor. O beijo seria sujo de sangue, os abraços maculados pela violência e os sorrisos amarelados pela ignorância. Nesse país jamais haveria solidariedade, não se dividiria o pão e não se cantariam cantigas de irmão.
O Brasil fascista seria mentiroso, falso e assassino. Não amaria as crianças negras, assim como as crianças indígenas.
É contra esse país que se avizinha que eu luto. Está batendo em nossas portas, está sussurrando em nossos ouvidos e tentando seduzir nossos corpos à perversão.
O Brasil fascista que as pessoas de boa vontade não querem está rugindo nas ruas para nós assustar, para nos tirar do caminho, pois, somos a última barreira que está impedindo sua vitória. Não passarão.
Não Passarão!

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

BRASIL UMA FÁBRICA DE FALSOS MITOS

A construção de uma falsa imagem positiva para a promoção de atores políticos, visando alcançar uma mudança paradigmática no imaginário popular, é prática usual na política brasileira.
No Brasil a estratégia da produção de mitos vem de um passado distante. Que remonta ao tempo de Maurício de Nassau com seu boi voador, os bandeirantes, Tiradentes e tantos outros, onde a narrativa heroica se fez necessária para o convencimento do povo.
Nós tempos modernos a construção da imagem política foi tão aperfeiçoada que a fantasia mistura-se com a realidade.
A política política contemporânea, utilizando ferramentas tecnológicas mais modernas, constrói imagens de rápido convencimento e fácil assimilação.
Os exemplos são os mais variados possíveis, gerando falsos ídolos, na verdade verdadeiros gigantes com pés de barro que têm marcado com profundidade a vida social e política brasileira.
Tomando como exemplo o presidente Jair Bolsonaro, o marketing político conseguiu transformar um obscuro membro do baixo clero do parlamento brasileiro em um verdadeiro mito, salvador e defensor da pátria, da família e dos bons costumes.
Bolsonaro foi envelopado com a velha fórmula de comunicação de massa criada pelo partido socialista alemão, que levou Hitler e o Terceiro Reich a dominar parte do planeta durante o advento da Segunda Guerra Mundial.
Há uma equação nesses casos que não costuma falhar, onde se utiliza alguns ingredientes tradicionais da política como o patriotismo exacerbado, culto e veneração aos símbolos nacionais como hino e bandeira, ojeriza ao comunismo, com propostas inclusive combatê-lo nas ruas. Para que a conjuntura se torne completa, há uma hipérbole deletéria na decantada agenda de costumes, estabelecendo uma guerra sem tréguas no debate político acerca do aborto e o ataque radical contra as agendas LGBT.
Porém, o mais terrível e contundente ataque é a institucionalização mercadológica da fé enquanto agente da ação política, através de igrejas neopentecostais capitaneadas por pastores mal intencionados e ambiciosos.
Bolsonaro se elegeu surfando na onda antipetista golpista que retirou injustamente Dilma Roussef (agora declarada inocente pelo TCU) do poder. A utilização dessa estratégia positivista/neopentecostal funcionou em todos os seus aspectos, aliada à utilização massiva da Internet através de falsas informações denominadas “fake news”.
A vida pregressa de Bolsonaro é conhecida por poucos. Aluno da Academia Militar das Agulhas Negras, foi um tenente comum, sem brilho acadêmico ou militar. Saiu do exército com desonra ao ser preso por conspirar contra a instituição ao premeditar explodir bombas em quartéis e unidades das forças armadas. Após algumas negociações saiu precocemente reformado como capitão com um soldo relativamente baixo e ingressou na vida política.
Foi vereador inexpressivo e deputado federal improdutivo, pois, em seus 26 anos no Congresso Nacional apresentou pouquíssimos projetos ao plenário.
Sua atuação como parlamentar sempre foi ancorada na agenda de temas defendidos pela extrema-direita, defendendo os horrores praticados pela ditadura militar e a pregação pela liberação da venda de armas de fogo para a população. 
Essa pauta reacionária encontrou eco na população ressentida com os seguidos escândalos de corrupção nos governos da aliança de partidos que levou o PT ao poder.
A imagem de Bolsonaro foi sendo moldada aos poucos, com o apagamento de seu passado terrorista nas forças armadas e o fortalecimento da ideia de salvador da pátria, de indestrutível, de como tem se apresentado ultimamente, imbroxável.
A imagem construída de homem probo, combatente da corrupção, atento contra a implantação do comunismo, defensor da pátria, da família, por Deus e pela liberdade funcionou no campo fértil de parte da população brasileira, totalmente ignorante  em relação aos temas da política da política nacional.
Por um outro lado, essa estratégia abriu espaço de participação política para essa mesma massa ignorante, que sempre foi desprezada pela militância de esquerda, sempre preocupada com a agenda progressista e em parte com viés socialista.
O chamamento em defesa da pátria e da família,  contra as bandeiras vermelhas do comunismo e por Deus e a liberdade tiveram ecos monumentais e mobilizaram a população que inundou as ruas de verde e amarelo. Junto com o aluvião positivista veio a pauta de costumes conservadora com seus exageros fundamentalistas, onde até hospitais foram invadidos para impedir abortos legais em meninas de 10 anos de idade que haviam sido estupradas.
O país antes tranquilo e agradável passou a ser um território sombrio e perigoso, com milhares de psicopatas armados transitando pelas ruas, invadindo espaços públicos e privados, em uma luta titânica do "bem" contra o mal, julgando ao seu bel prazer o modo de vida da população brasileira.
A produção de falsos mitos ainda é uma excelente estratégia para convencer o povo a escolher um candidato que seja o “ Salvador da Pátria”. O desempenho de Bolsonaro no primeiro turno do certame presidencial comprovou que a opinião popular quando manipulada de maneira eficiente pode construir falsos mitos que podem mudar os rumos de uma nação.

sábado, 1 de outubro de 2022

A FALÊNCIA DA POLÍTICA

Penso que o modelo de debate político televisivo para eleições majoritárias está esgotado. Um país de dimensões continentais como o Brasil, eivado por vergonhosas assimetrias sociais e óbices gigantescos, no que concerne a administração pública, não cabe em um reality show, onde surgem figuras exóticas e totalmente despreparadas para debater e propor soluções para o desenvolvimento de nossa nação. 
Os interesses dos candidatos, na maior parte do tempo, se sobrepõem a apresentação lógica dos temas nacionais mais importantes.
No debate de ontem na Rede Globo fiquei estarrecido com algumas proposições e principalmente pela falta delas, em um ambiente tóxico, agressivo e desrespeitoso. Se Dercy Gonçalves viva fosse, nos faria corar com suas observações acerca do evento. 
A impressão que tive, de uma maneira geral, foi que o nada substituiu o nunca. Com os candidatos "jogando para a torcida" e preocupados com os parcos minutos para apresentarem as soluções que o país necessita, conseguiram transformar o encontro em um circo de horrores.
Desde o padre de bandana do Guns and Roses, o magrinho da FIESP que quer vender a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica e Bolsonaro não dizendo coisa com coisa, o resultado é que o cidadão que varou a madrugada assistindo a bagunça intelectual apresentada, foi dormir se sentindo enganado.
Os partidos deveriam se debruçar sobre uma metodologia honesta de apresentação de propostas políticas. Talvez o horário eleitoral pudesse ter um horário específico especial, onde todas as propostas do partido para governar a nação pudessem ser apresentadas de maneira didática e organizada.
Aquilo que chamam de debate, veiculado ontem, passou longe sobre a questão indígena e quilombola, ciência e tecnologia e relações internacionais, orçamento, dívidas interna e externa e a relação PIB/Pagamento dos (serviços) juros da dívida, além de uma missão mais nobre em alguns aspectos para as forças armadas. A indigência da agenda ambiental ficou restrita a Amazônia e Pantanal, como se o país fosse restrito a esses dois biomas, lembrando que há uma série de iniciativas que devem ser potencialidades como a coleta seletiva/reciclagem, energias eólica e solar.
O resto foi um amontoado de sandices e acusações de ilícitos que vez de um debate político mais parecia uma acareação policial em uma delegacia policial.
Obviamente que destarte as desonestidades gritantes como quando Bolsonaro avocou para si a autoria do projeto de lei que criou o Auxílio Emergencial de R$ 600,00 o que é mentira, além da aprovação das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, que foram vetadas por Bolsonaro e o Congresso derrubou seu veto. Algumas intervenções salvaram em parte o desastre, que ficaram por conta de Ciro Gomes, Lula e Simone Tebet.
Se esses três se juntassem em prol de um projeto para o Brasil, talvez tivéssemos um futuro bem melhor.