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Eu Negro

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

CIRO O ORNITORRINCO DA POLÍTICA NACIONAL

Nelson Rodrigues costumava lembrar que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas. Observando o comportamento de alguns candidatos nesta eleição a frase me vem à cabeça de maneira insistente.
Um país continental como o Brasil, com tamanha desigualdade social e tanto por fazer para que atinjamos o grau de desenvolvimento, deveria debater nessas eleições, como organizar um conjunto de medidas que pudesse alavancar de vez nossa combalida economia.
Uma campanha política é um espaço privilegiado para debater com a população os grandes óbices que impedem o crescimento da nossa nação e, fundamentalmente, quais as medidas necessárias que devem ser tomadas para que essas assimetrias sociais sejam corrigidas.
A campanha política, durante seu período mais agudo, torna-se o ápice da dialética compreendida como primordial pela sociedade do território onde está localizada.
Os novos tempos trouxeram em seus ventos novíssimas modelagens tecnológicas que afetaram terrivelmente o modo de comunicação das campanhas políticas. Nos velhos tempos os militantes políticos se dirigiam para os portões das fábricas com seus panfletos antes do dia amanhecer. Batiam nos portões das casas nos bairros e percorriam as universidades fazendo o chamado corpo a corpo, olho no olho, visando o convencimento do voto.
A hegemonia do sistema liberal trouxe consigo avanços tecnológicos assustadores, na medida em que servem como instrumentos vitais para o avanço do capitalismo.
O impacto dessa nova configuração sistêmica na dinâmica das eleições foi a pulverização do modo antigo de fazer campanha. O corpo a corpo se tornou de tela a tela. As reuniões com grupos de cidadãos em um lugar comum transformou-se em “lives” temáticas. E os palanques foram transportados para refinadas peças de TV, com efeitos especiais, artistas e locutores profissionais.
A verdade nunca foi tão aviltada como nesse novo modelo de comunicação em campanhas eleitorais. Após o advento da pós verdade, tudo pode ser dito em nome de uma visão específica dos fatos e da decantada liberdade de expressão, agora transformada em biombo jurídico para um corolário de agressões verbais e acusações sem comprovação.
Levando em conta que o debate eleitoral deixou há muito a razão e as propostas sérias de gestão da nação, sobraram as patifarias e as mentiras apresentadas de maneira teatral. Jogando nesse nível, não há outra alternativa a não ser construir uma plataforma ideológica que passe longe das demandas estruturais do país e a ancore em uma pauta de costumes que abandona os avanços liberais e volta-se para o fundamentalismo religioso e o patriotismo exacerbado, que é um by pass atrativo para o fascismo.
Se uma foto do momento eleitoral brasileiro fosse feita nesse exato momento, teríamos entre os quatro principais candidatos uma escadinha ideológica, onde no primeiro degrau está o candidato de extrema direita com propostas fascistas. No segundo degrau encontramos uma herdeira do agro negócio, ruralista militante e adversária histórica da agricultura familiar. No terceiro degrau está um representante do coronelismo nordestino, travestido de democrata e no último e quarto degrau um ex-metalúrgico e ex-presidente da República de centro esquerda, que deixou o governo sob aplausos, com grande aprovação popular.
Nesse contexto, a postura ideológica dos principais candidatos a presidente da república, ou será um jogo de palavras ou mesmo um grande tratado de intenções generalistas.
No tabuleiro momentâneo dos jogadores, o movimento estratégico das peças são bastante coerentes, menos o de um player que é o Ciro Gomes.
Nas atuais eleições, Ciro é visto como o ornitorrinco, um mamífero que põe ovos, vice na terra e no mar e possui bico de pato. Em seu longo périplo por uma dezena de partidos, Ciro como Zelig de Woody Allen, vai adquirindo as características da agremiação quero recebe.
Ciro é um atento observador e profundo conhecedor das entranhas da política nacional. Foi Deputado Estadual, Prefeito de Fortaleza, Deputado Federal, Governador do Ceará, Senador e Ministro de Estado. Com todas essas credenciais, Ciro jamais conseguiu se eleger Presidente da República.
Talvez o insucesso de Ciro seja a ausência de ideologia. Em suas andanças pelo país apresenta um plano de desenvolvimento para o país, sendo que o livro é todo fruto de sua cabeça, não sendo um documento discutido pelas bases partidárias. Por não privilegiar as bases e sempre negociar com as cúpulas partidárias, falar-lhe apoio quando mais necessita, como é o caso agora, nessas eleições.
Com sua enorme expertise política, Ciro compreendeu que não tem passagem pela esquerda e que a pista da direita está congestionada e bloqueada por um enorme caminhão atravessado na via, chamado Jair Messias Bolsonaro. Simone Tebet é apenas e por enquanto um carro de pequena cilindrada que lhe ameaça mas não lhe ultrapassa.
Ao se sentir tolhido pelo cenário político mais tradicional por onde sempre trilhou, avistou no enorme sucesso de Bolsonaro com as massas uma alternativa para sair da sinuca de bico que ele próprio provocou e se meteu.
Patriotismo, pois quem gozando bem das faculdades mentais seria contra o patriotismo? Absolutamente ninguém. A vantagem de mergulhar no mar do positivismo é mandar a doutrina ideológica às favas. Basta tocar o hino nacional nos eventos em que participar, usar a bandeira nacional como capa vinculada ao fervor ideológico e manto protetor contra o comunismo.
Ciro enfim compreendeu que sua postura a partir de então será de nacionalista. O salvador da pátria, um verdadeiro cruzado contra os comunistas, contra políticas que atentem contra Deus, a Igreja e a família.
Para que sua protopolítica seja aceita e incorporada pela massa despolitizada que segue Bolsonaro, Ciro torna-se cada vez mais virulento em seus ataques ao ex-presidente Lula, inimigo mortal dos bolsonaristas. Ao atacar Lula, Ciro na verdade mira em Bolsonaro, pois como não consegue mais transitar pela centro-esquerda, optou em lançar suas tarrafas nos cardumes da extrema-direita.
Talvez Ciro em seus devaneios queira entrar para a história como o político que terçou armas pelo Brasil como nenhum outro. Um mix de Getúlio com Brizola, mas para isso terá que comer muito feijão. Primeiro porque tem um paredão enorme lhe desafiando chamado Bolsonaro e por outro um gigante político de renome internacional chamado Luis Inácio Lula da Silva.
Ao se afastar e depois maldizer Lula enquanto acusa Bolsonaro de tudo que é malfeito, Ciro poderá ver as duas canoas em que navegam no rio da política se afastarem e repentinamente se ver nas águas de um rio caudaloso, repleto de piranhas ansiosas por devorá-lo.

domingo, 25 de setembro de 2022

A SAGA DOS ENTREGADORES POR APLICATIVO.

Entregadores por aplicativo despertam solidariedade dos clientes que recebem suas encomendas. O sofrimento que experimentam no dia a dia costuma ser romantizado e por isso a atividade é recortada do mercado de teabalgo. Funciona como um bico mas não é. Não é um bico! É uma profissão mal remunerada e não regulamentada! Pelos mais diversos motivos estão ali no cotidiano, sofrendo e arriscando a vida pelo sustento de suas famílias. Mas tenham certeza que ganham muito mais que um trabalhador formal, escravizado e submetido às agruras cotidianas do transporte público, pelas degradantes e aspérrimas vicissitudes dos empregos CLT e finalmente pelo salário mínimo que recebem para realizá-los. 
Destarte as condições kamikazes da dura rotina nas grandes cidades, esses entregadores operam com certa liberdade de opção, que inclui trabalhar no dia e horário que lhes aprouver, sem passar pela humilhação de ouvir um "não" quando se precisa ausentar do local de trabalho para atender alguma emergência pessoal.
Entregador de aplicativos é uma atividade profissional que não se restringe apenas ao setor de alimentação. Hoje fazem serviço de entregas postais entre outros inúmeros itens. O modelo de atividade é uma alternativa para quem não encontra mais espaço no mercado formal de trabalho e não quer se submeter aos rigores crudelíssimos desse mesmo mercado em troca do parco poder de compra do salário mínimo. 
Não há grande diferença entre a qualidade de vida desses entregadores e a dos motoristas de aplicativos de carros. Para exemplificar, um motorista de app recebe líquidos cerca de R$ 30,00 por uma corrida de 48 km entre Copacabana e Bangu, sem contar o risco de assaltos e acidentes. 
Os entregadores por app estão atentos, pois, sabem que no futuro serão substituídos pelos moderníssimos drones que encantarão a burguesia devido ao avanço tecnológico, mesmo gerando desemprego massivo.
Apesar das agruras, esses profissionais não estão entre os 15 milhões de desempregados que o país vergonhosamente insiste em ostentar.
Não se sintam mal ao receber a encomenda trazida por esses trabalhadores. Esse entregador é um cidadão a menos na triste condição de desempregado, de membro do exército do mercado de reserva de trabalho. Sem querer romantizar, o entregador é um Sísifo moderno, que faz e refaz seu labor cotidiano sem sair do mesmo lugar. Porém, apesar dos pesares, ainda não desarvora em não poder colocar o pão e a paz na mesa de sua família.

sábado, 24 de setembro de 2022

POR QUE 40% DO POVO BRASILEIRO APOIA O FASCISMO?

Quando observo o caos político e social que nosso país está mergulhado, não posso deixar de me sentir miserável. Sim, onde falhei miseravelmente? Onde deixei de atuar, onde estava enquanto meus companheiros lutavam em desvantagem nas trincheiras políticas pela manutenção da democracia?
O fascismo sempre floresce onde a democracia dorme. Manter a democracia exige cuidado, vigilância permanente, resiliência, prática, crença e fé. 
Atualmente o fascismo apresenta cerca de 40% da preferência dos votos do povo brasileiro. É muita gente junta querendo bagunçar nossa tenra e complexa democracia.
Esse pessoal sempre esteve aqui, vivendo o cotidiano do país, sem mexer com política, trabalhando, curtindo seu churrasquinho, frequentando o culto religioso, indo à praia com a família e ao futebol com os amigos.
Como explicar que essas milhões de pessoas tenham se tornado fascistas? Será que se tornaram mesmo fascistas convictos? Como entender que essa massa de milhões de brasileiros se erga repentinamente na cena política nacional defendendo a não demarcação de terras indígenas e quilombolas, a castração química, o nascimento de um feto que foi gerado através de estupro e radicalmente contra a liberdade de opção sexual, contra a organização dos trabalhadores e defendendo o fim das políticas de direitos humanos e a pena de morte e a liberação da venda indiscriminada de armas de fogo? A resposta certamente não agradará a muitos, mas está implícita a leniência da esquerda no que tange a seu primado mais basilar que é a organização popular.
 Não existe espaço vazio em política, e a esquerda, ao chegar ao poder, não cuidou de quem a colocou lá. A cochilada histórica foi fatal e acendeu um pavio que julgávamos seco a tempos, a extrema direita.
Os extremistas conservadores notaram que havia um fértil campo arado sem semeadura e atiraram ali suas sementes políticas que irromperam da terra com uma vontade monumental. 
Alguns pensadores de auto ajuda se uniram e elaboraram um projeto voltado para atrair esse povo como aliado, através de uma velha e carcomida fórmula de arregimentar grandes massas, como sempre fizeram os grandes ditadores da história, como Hitler, por exemplo, que a utilizou na construção do Terceiro Reich. 
A fórmula que não falha é usar o cochilo da democracia como pano de fundo e invocar os símbolos pátrios como o hino e a bandeira nacional como antídotos contra o comunismo. Pega uma pitada de patriotismo, mistura com Deus e a defesa da família e para consolidar e finalizar a fórmula uma bela flambada de redução do estado através de privatizações, terminar com a boa vida dos servidores públicos (antigos marajás) e o fim da formação programada de gays pelo sistema público de ensino.
Por mais incrível que possa parecer essa antiga fórmula ainda funciona e o velho pavio que imaginávamos ressequido irrompe com força total incendiando o país com as cores nacionais e desfiles protocívicos contra a pretensa "invasão comunista" e a defesa da família com Deus.
 Como conseguiram? Foi difícil? Não, foi muito fácil. A esquerda não se interessou e nem se dirigiu politicamente a esse contingente humano quando chegou ao poder. Concentrada na elaboração de programas sociais de amplo espectro, cochilou feio no cuidar politicamente dessa massa de brasileiros. Esse contingente humano que não queria apenas comida e sim comida, diversão, arte e participação política.
Você que é de esquerda o que fez para chamar componentes dessa massa para marcharem conosco? Onde fica a associação de moradores do seu bairro? Vc é sindicalizada(o)? Pois é, se cada um tivesse feito sua parte possivelmente estaríamos hoje em outro patamar.
A esquerda construiu bons programas de inclusão social, esquecendo porém de elaborar um grande projeto de politização voltado para o povo brasileiro, que sempre foi povo marcado e julgava ser feliz. Esse povo teve acesso a empregos, casa própria, universidade para a família, viagens, acesso a cultura, bem estar e outros benefícios que jamais ousou sonhar. Por que esse contingente humano tem repulsa pela esquerda? Por que lhe é aspérrima mesmo depois de conhecer o paraíso?
Mesmo sendo principal beneficiária dos programas governamentais de inclusão social, à massa não foi permitido ter acesso a formação política, ao conhecimento da luta de classes, conhecer sua classe social e as relações de trabalho entre empregado e empregador e a velha luta de classes dentro do sistema econômico que nos rege, o capitalismo. Não aprendeu nem compreendeu a dialética do darwinismo social que os mantém atados por correntes invisíveis ao consumismo, ao patronato e patriarcado.
A grande massa não recebeu informações suficientes sobre a necessidade de organização popular em torno de bandeiras democráticas que marchassem na direção de uma nação democrática e socialista.
Ao chegar ao poder, as principais lideranças acorreram ao poder central para abiscoitar cargos no governo com remuneração polpuda com suas benesses e vantagens que esses cargos oferecem. Optaram viver no fausto do ar rarefeito e deixaram de lado a laboriosa vida conturbada da planície poluída. A mesma planície que os colocou lá no comando do país, que por conta das desigualdades sociais recebeu a alcunha de Belíndia, uma mescla de Bélgica com Índia.
Essa gente sentiu-se abandonada e posta de lado por quem prometeu cuidá-la, só faltando ir às ruas pedir encarecidamente orientação e participação política na vida nacional. A esquerda não deu importância ao fenômeno de capilarização de ideias da Internet e achou que seu discurso assistencialista manteria a massa obediente em seus territórios.
Como dizia Nelson Rodrigues, foi um doce e ledo engano. A semeadura da doutrina extremista no fértil campo arado deixado pela esquerda, foi capitaneada por falsos intelectuais, que com seus brinquedos mentais maquiavélicos como Mamadeira de Pi*oca, Kit Gay, destruição de templos, orientação de gênero, aborto, armas de fogo nas mãos da população, pena de morte, fim da Suprema Corte e fantasma do comunismo, entre outras aberrações políticas, manteve acesa a chama do farol da participação política possível sem jamais oferecer formação política verdadeiramente. 
A massa recebeu uma dose cavalar de placebos políticos que a fizeram acreditar ser ótimos players da política nacional.
Para consolidar o projeto celebraram alianças com as principais lideranças evangélicas e empresariais, além da banda podre do congresso nacional, onde através de intermáveis inserções de ,"fake news" conseguiram convencer a massa que a nação estava em perigo e que somente um grande movimento patriótico poderia salvá-la das garras de Moscou e Pequim.
Então transformaram toda essa massa, antes desgarrada e orfã política da ditadura militar em um poderoso exército fascista, conservador e o que é mais assustador, armado. 
Agora a massa ocupa as ruas do país de verde e amarelo, com armas na cintura, brandindo sua fúria contra a esquerda, acreditando ser salvadores do futuro da nação.
Até quando o fascismo viscejará em nossos campos não sabemos, mas a colheita dos frutos dessas sementes que germinaram de maneira fulminante, atravessará gerações e mais gerações de brasileiros e brasileiras.


sexta-feira, 23 de setembro de 2022

CIRO GOMES E O LIVRO DE ELI

Tenho visto muitos memes criativos e engraçados fomentando a desistência de Ciro Gomes em apoio à candidatura de Lula no certame eleitoral de 2022.
Brincadeiras à parte, respeito as opiniões dos que insistem na candidatura de Ciro. Penso que há um debate mais profundo a fazer sobre a posição do candidato pedetista em manter sua candidatura.
 Discordar sim, questioná-la sim, mas invalidá-la nunca. 
A campanha Cirista prega aos quatro ventos que a escolha de seu candidato deu-se por conta da qualidade programática apresentada pelo partido/candidato.
Questiono quando se diz escolha programática, pois programática seria, no meu entendimento, se os diretórios municipais e estaduais tivessem realizado um congresso e/ou convenções democráticas com ampla participação de seus filiados.
Para que fosse programática, deveria ser oriunda de um vigoroso debate, onde as teses apresentadas pelos seus delegados, zonais ou núcleos, seriam votadas pelas plenárias país afora. O conjunto de propostas aprovadas pelo evento partidário, após sistematizado, seria o programa que o partido apresentaria para a sociedade, propondo assim um modelo definido para governar a nação.
Pelo que entendo da candidatura do PDT, o candidato majoritário chegou ao partido apresentando um livro denominado PND, totalmente desconhecido pela base partidária, dizendo que ali estava o programa do partido para a eleição majoritária de 2022. Lembrei do cativante filme "O Livro de Eli", onde o personagem, um andarilho negro e cego, com poderes especiais, atravessa o país determinado a reproduzir a bíblia do Rei George, já que não havia mais nenhum exemplar disponível devido a um evento nuclear destruidor. O livro era a grande esperança de reconstrução da humanidade que seria convertida a este poder e por isso era cobiçado pelo líder de uma gangue de malfeitores.
Não é meu partido, não tenho nada com isso. Mas lembro bem das convenções do PDT com Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Cidinha Campos, Abdias do Nascimento, Frejat, entre outros, onde os debates acalourados eram verdadeiros cursos de formação política, assim como acontecia no PT, PC do B, PCB e PSB. Ninguém levava um livro debaixo do braço para resolver os problemas da nação.
Tenho certeza que o Ciro tem ótimas contribuições no sentido de alavancar de vez o potencial da nação brasileira. Porém, acho que esse livro meio que queima o filme dele, já que ninguém lê e certamente não o lerão. Aí então entra a Psicanálise que mostra que há uma tendência a se rejeitar o que nos é desconhecido. O povo não vai embarcar nessa, sendo uma boa ou não. O único livro que o povo lê e que propõe uma ótima coisa que é o caminho da salvação eterna é Bíblia. Esse livro contém a palavra de Deus e mesmo assim os cristãos se estraçalham com o intuito de convencer que a sua versão é a única correta e assim por conseguinte impô-la.
Por um outro lado, enquanto observador, acho deveras açodada a postura quase histérica por parte da esquerda nacional, pela convergência das organizações políticas ainda no primeiro turno, como solução para derrotar o extremismo de Bolsonaro.
Na minha humilde opinião, se houver segundo turno, será ótimo ganhar os dois turnos. O novo presidente, no caso Lula, assume o poder com toda a banca do mundo, por ter feito barba e bigode sem questionamentos. 
Não querer segundo turno com medo da vitoria do facismo é um grave sinal de que estamos com medo de sucumbir eleitoralmente. Parece que a certeza da vitória da democracia sobre o fascismo, ainda no primeiro turno, repousa nos ombros de Ciro Gomes, não! Não podemos impingir tão pesado fardo ao político do PDT. Existe um ditado que diz que quem tem bebê grande é elefante. É engraçado mas tem todo o sentido. Se houver segundo turno e o fascismo vencer é porque nós, pessoas de bem, solidárias e humanas, não fizemos nosso trabalho político na sociedade com eficiência e falhamos miseravelmente. Não fazemos mais política na vizinhança, na igreja, no barzinho e no mercadinho do bairro, na pelada com os amigos e nos salões de beleza. Mal sabemos onde fica a associação de moradores de bairro que nos representa. Não participamos do sindicato de nossa categoria profissional e não participamos da elaboração do projeto político pedagógico da escola de nossos filhos. Levamos a política das ruas para o ambiente virtual, esquecendo que 25% da população é analfabeta funcional e outro tanto não possui conhecimento de operação de dispositivos de comunicação virtual. O velho jornalzinho tablóide que era distribuído nos espaços sociais e laborais foi para as calendas. As zonais políticas dos partidos nos bairros se tornaram exentricidades e as convocações são agora através das redes sociais do ciberespaço.
De volta ao pleito, Ciro e Tebet não decidirão a eleição no Brasil. Quem o fará será o povo brasileiro através do voto na urna, no pleno exercício da cidadania e da democracia.
O que mais me surpreende e me assusta nessa eleição é que 38% da população brasileira vota e apoia fervorosamente o nazifascismo, que infelizmente abriu sua caixa de pandora e a distribui de maneira obscena para a sociedade.
Que os deuses nos protejam!

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

O PERSEGUIDOR DE SONHOS









Avelino Capitani nos deixou em 17 de setembro de 2022.
Por José Alfredo Schierholt
Avelino Bioen Capitani, marinheiro reformado e escritor. Nasceu em 18-8-1940, no Alto Tamanduá, então Lajeado, no RS. Pequeno agricultor, em 1954 foi trabalhar numa criação e engorda de porcos no Bairro Conservas de Lajeado. Dois anos depois, mudou-se para Porto Alegre, aonde trabalhou numa fábrica de móveis. Em 1959 fez concurso para Escola de Aprendiz de Marinheiro, em Florianópolis, seguindo no ano seguinte para a Marinha no Rio de Janeiro. Em 1962, filiou-se à Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB), recém fundada. Estourando a Revolução de 1964, como um dos diretores da Associação, participou da chamada Rebelião dos Marinheiros. Foi preso e no final daquele ano fugiu da prisão do Alto da Boa Vista, RJ, e se exilou no Uruguai. Ao final de 1965 viajou clandestinamente para Cuba, onde estudou Artes Militares ou treinamento de guerrilha. Voltou para o Brasil clandestinamente, para participar da Guerrilha do Caparão. Preso em 1967 na Penitenciária Lemos de Brito no RJ, novamente fugiu em 1969 e tomou parte da Guerrilha Urbana no RJ. Em1970, exilou-se territorialmente no Chile e voltou a Cuba. Em 1974, regressou clandestinamente para o Brasil, para passar por diversos países, participando da reorganização da esquerda. Posteriormente, integrou-se como militante do MR8. Em 1980 foi anistiado. Continuou militando no PCB, em entidades de classe, sindicatos e associações. Em 1982, filiou-se no PT. No governo municipal de Porto Alegre, gestão de Olívio Dutra, foi Diretor do Departamento de Fiscalização da SMIC - Secretaria Municipal de Industria e Comércio. Em 1985 fez um Curso de Ciências Políticas na Alemanha Oriental. Em 1989 fez vestibular para Geografia na Ufrgs onde estudou por dois anos, mas, desistiu para cursar a UNIPAZ- SUL (Universidade Holística Internacional). Aposentou-se por problemas de saúde. Em 2003 foi anistiado com todos os direitos. Participava de uma Ong de Educação Cooperativa e Projetos Sociais (Coletivo Planta Sonhos). Em 1997 publicou a obra A Rebelião dos Marinheiros – memórias da Revolução de 1964, com 192 páginas, pela Editora Artes e Ofícios, reeditada pela Editora Expressão Popular, em 2005. Em 2001, publicou Por que Chora Carol, pela Editora Hercules. Em 2007, na 53ª Feira do Livro, em Porto Alegre, lança o livro Depois do Amanhecer, pela Editora AGE. Com um capítulo, participou nos livros Nossa paixão era inventar um novo tempo, pela Editora Rosa dos Ventos, em 1999, e Sessenta e Quatro para Não esquecer, pela Editora Literalis, em 2004.

domingo, 18 de setembro de 2022

AS MULHERES DO CAPITÃO

Já perdi umas tantas horas de sono com a temática, hoje não mais. Tenho para mim que o Brasil está conhecendo um novo fenômeno com o qual não estava acostumado e que passou a fazer parte de nosso cotidiano para sempre que é a extrema direita institucionalizada.
A configuração existe em todos os países ditos democratas, com ênfase no EUA com Donald Trump, passando pela civilizada France com Le Pen, Hungria, entre outros governos menos destacados.
Extrema direita é uma coisa, ditadura é outra coisa. Dentro das ditaduras, podemos citar a norte coreana, a turca a russa e a da Arábia Saudita, que tem o apoio dos EUA. Porém, governos extremistas de direita, como no caso do Brasil, operam nos limites da democracia, para eles tolerável. 
É um fenômeno novo que não sabemos bem como lidar com ele. O que entendo é que a operação deles no Brasil está ancorada na agenda de costumes, que é bastante sensível e costuma fidelizar legiões de eleitores em todo o mundo. Temas como aborto, castração química, direito a possuir armas de fogo, casamento tradicional hetero, fundamentalismo cristão, formação marcial para crianças e jovens através de escolas militarizadas, nacionalismo exacerbado, utilização e divinização dos símbolos pátrios, homofobia e desprezo pelas populações autóctones, a defesa da família e a velha e esperta dialética entre o bem e o mal, mal este o comunismo.
A dialética sempre funcionou eleitoralmente no Brasil, mas não era como está sendo agora, de maneira doutrinária. Penso cá com meus botões o desastre que seria caso tivessem bons doutrinadores, intelectuais que se debrucassem sobre o tema e desenvolvessem teses sobre a importância da extrema direita para a salvação da família brasileira e do próprio país das garras do mal, novamente o comunismo, ectoplasma político sem materialidade e que assombra o cotidiano da população brasileira iletrada e fundamentalista.
No passado até tivemos aqui Plínio Salgado que com alguns Integralistas produziram alguma literatura doutrinária, mas com pouco sucesso.
O fenômeno do bolsonarismo é que ele convence 30% da população brasileira a votar no totalitarismo sem ter produzido uma linha doutrinária sequer.
Como explicar então a grande adesão das mulheres ao bolsonarismo. No meu entender é de simples compreensão. Essas mulheres fazem parte de um bolsão conservador localizado no militarismo, nas polícias e aparatos de segurança, nas seitas pentecostais e nos maridos e companheiros que defendem um estado falocrático e excludente.
Fico surpreso ao ver mulheres negras apoiando a candidatura Bolsonaro, mesmo após ele ter afirmado que seus filhos foram muito bem educados e que jamais se casariam com uma mulher negra. Essa mulher negra que apóia Bolsonaro o faz por outras vias doutrinárias, como a pauta cristã neo pentecostal. As mulheres militares, esposas de militares, mães de militares e de famílias militares e de membros dos aparelhos de repressão de estado, além de vigilantes civis e empresas de segurança, seguem o discurso bolsonarista, por convicção e em muitos casos por solidariedade ideológica.
A pauta de costumes é poderosíssima e nas mãos de grupos extremistas se torna uma arma imbatível. A simples menção a uma cartilha gay que seria distribuída nas escolas brasileiras fez um estrago na campanha do candidato petista Fernando Haddad em 2018, somando à surreal "mamadeira de piro*a", que em tese produziria gays em.massa desde o berço. Ameaças de ter obrigatoriamente a casa repartida com Sem Tetos, implantação obrigatória do ateísmo e o fim das igrejas e o comando comunista de Pequim e Moscou, coroaram o universo imaginário das fake news, que amplificado para mulheres cristãs, mulheres sem formação política e acadêmica, consolidou de vez o discurso bolsonarista ancorado na dialética do bem contra o mal.
Meninas vestem rosa e meninos vestem azul. O bordão limitado e cafona produziu um forte efeito nas hostes bolsonaristas, assim como o Capitão Imbroxável recém surgido nas comemorações do último 7 de Setembro. Tiro no pé, pois naquela multidão verde amarela, as mulheres constituindo mais de 50% do público presente, passam constantemente pelo desconforto causado pela disfunção erétil do parceiro patriota.
Enfim, as mulheres tornaram-se agentes políticos sem serem feministas, sem queimarem os sutiãs. Agora fazem parte desse exército totalitarista por se sentirem abrigadas e respeitadas politicamente, mesmo que com uma agenda homofóbica, o que é surpreendente. Elas encontraram uma bandeira para empunhar e lutar por ela. Essas mulheres não querem carregar bandeiras vermelhas, não querem discutir a igualdade na relação homem/mulher dentro do casamento, querem ir às igrejas e ter a garantia que seus filhos não se tornarão gays e que não serão estuprados nas ruas devido a leniência do estado.
Essas mulheres, desde sempre foram desprezadas pela esquerda. Nunca concordaram em participar de exaustivas reuniões do movimento feministas com suas incontáveis correntes ideológicas. Estavam flutuando placidamente no lago da sociedade enquanto que os pescadores atiravam suas tarrafas nós cardumes conhecidos. 
Não existe espaço vazio na política. Esse exército de mulheres agora militantes e votantes sempre esteve bordejando na sociedade. Infelizmente foram atraídas por uma doutrina canhestra e rasa, e agora fazem uma enorme diferença no coeficiente eleitoral brasileiro. No jornalismo o nome para isso é "barriga".

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

A ESQUERDA É BROCHÁVEL?

A cena entrou para a história política nacional para sempre. Uma multidão de seguidores do presidente da república em um comício eleitoral travestido de comemoração cívica da independência do país entoa o mantra catártico puxado pelo próprio mandatário da nação: “Imbroxável!!!! Imbroxável!!!”. Ou seria: “Imbrochável!!! Imbrochável!!!”. A expressão remete para a infalibilidade do homem durante o ato sexual por parte do homem, condição negada pela urologia em sua doutrina médica.
Bolsonaro agrega à sua condição artificial e construída de mito a lenda do supermacho dos jogos eróticos. A patuleia bolsonarista ensandecida repetia o mantra em delírio, orgulhosa por seguir um presidente macho, um amante irresistível, um latin lover verdadeiro.
Ao adjetivar e vincular sua condição humana à uma irresistível potência sexual, Bolsonaro joga com o universo feminino e suas misteriosas nuances indecifráveis. Obviamente que o selo de supermacho, de macho alfa infalível mexe com parte do universo feminino.
A adjetivação não meritória e espúria para alguns serve somente para demonstrar o nível de cultura política que tomou conta de parte da população brasileira. Um povo que vincula a importância de uma uma pseudo performance sexual à condução de um país que ostenta uma das maiores economias do planeta. Estamos assistindo a promoção do Viagra como um dos componentes mais importantes para o crescimento empoderado da nação.
O controle da disfunção erétil por parte do presidente da república serve também como fator estimulante para que se abra um diálogo político entre mulheres insatisfeitas com o desempenho sexual de seus parceiros. Óbvio que o sucesso de um homem na condução de sua vida está diretamente ligada à condição de ser “imbroxável”. No caso do Brasil, não importa se possuímos 30 milhões de miseráveis ou 25% da população de analfabetos funcionais. Ou se 70 mil brasileiros são assassinados anualmente no país e que desse 7nive4so 70% são pessoas negras. Não importa se a Amazônica está sendo devastada e as populações indígenas e quilombolas sendo exterminadas, o que importa é que o membro sexual do presidente não esmorece e dá conta do recado para a Michele.
O Brasil realmente precisa de um programa tipo “Bolsa Psicanálise”, onde possa compreender que essas manifestações machistas e homofóbicas são sinais evidentes da insegurança do homem em relação à sua masculinidade. Simone de Beauvoir disse que em relação às mulheres ninguém é mais arrogante e agressivo que um homem que duvida de sua própria virilidade.
Bolsonaro remete ao poder do universo falocrático a condição essencial para o sucesso de governar uma nação. Esse mesmo universo que queimou mulheres nas figueiras da inquisição; o mesmo poder que arma a população de machos do país que propiciou a elevação assustadora das taxas de feminicídio; universo que remete ao nascimento de uma criança do sexo feminino a uma fraquejada no ato sexual que o gerou.
O mantra “Imbroxável” merece todo o nosso repúdio em momento tão crucial da vida nacional, onde a intensidade da polarização política levará certamente a uma reflexão canhestra sobre a condição da vitalidade da militância de esquerda.

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

SORRIA POR MIM ARGENTINA

O fascismo mostrou sua face mais terrível na Argentina. A Vice-Presidente daquele país, Cristina Kirchner sobreviveu milagrosamente a um atentado com uma arma de fogo que fortuitamente não disparou no momento em que foi acionada.
A ordem mundial vigente olha com certa tolerância o avanço do fascismo em todas as nações do planeta. No Brasil não é diferente, aquela imagem do brasileiro cordial desapareceu definitivamente. Hoje, infelizmente, grassa em nossa sociedade os sentimentos mais equidistantes possiveis, gerando enormes assimetrias sociais.
A eliminação física, pura e simplesmente, é a face do racismo que significa o juízo final. Sim, o fascismo e sua doutrina determinam que 'merece' viver e quem pode ser qualificado como estoque étnico descartável.
Assim como nazismo, rejeitam o convívio pacífico com judeus, negros e homossexuais, considerando ainda as mulheres como mero instrumental de prazer sexual 
A arma apontada para a face de Cristina Kichner também está apontada para nossas cabeças. É a mesma arma que não tolera a diversidade, as diferenças e por conseguinte a democracia. Precisamos ficar atentos em relação aos representantes populares nos parlamentos do país. Candidatos que defendem a eugenia, subalternidade das mulheres, segregação de populações vulneráveis e a eliminação física de cidadãos em conflito com a lei. Quando todos esses segmentos estiverem 'neutralizados', baterão em outras portas, que miseravelmente poderá ser a de qualquer um que se manteve neutro por não querer se envolver em política. 
A defesa da democracia exige um mínimo de mobilização cidadã. Hoje somos nós e no futuro serão nossos filhos e netos que terão uma pistola fascista apontada para suas cabeças.