terça-feira, 31 de maio de 2022
RACISMO ESTRUTURAL
sexta-feira, 27 de maio de 2022
quinta-feira, 26 de maio de 2022
SEMPRE É TEMPO DE PESTE QUANDO SÃO OS LOUCOS QUE GUIAM OS CEGOS (William Shakespeare).
sábado, 21 de maio de 2022
ÍNDIO NÃO QUER TOKEN
terça-feira, 17 de maio de 2022
RAP ELITE E FAVELA
É o povo
pobre da perifa se lascando nas vielas
E na peleja
desigual do capital contra o povão
O culpado por
sofrer é o coitado do irmão
A justiça
matou no peito e devolveu de canela
É a velha
estória da elite oprimindo a favela
A injustiça
dói! A injustiça dói!
Capitalismo
não rima com igualdade
A injustiça
dói! A injustiça dói!
O genocídio
da negrada é crime contra a humanidade
O sangue do
negão tá convocando lá do chão
Tá lá
desafiando a consciência do povão
Tá lá nos
intimando a fazer revolução
O povo vai
fazer a verdadeira abolição
Somos filhos
de Zumbi e Antônio Conselheiro
Somos cangaço
e herdeiros de Lampião
Somos Malês
fazendo a revolução
Aqui o povo
luta o povo não amarela
Quando a
força da cultura é o comando da favela
No baile
funk, no jongo, na passarela
Na beleza da
passista
Nos artistas
das vielas
Seres
brilhantes diamantes cintilantes
Personagens
fascinantes que a elite atropela
Carlos
Cachaça, Dona Ivone, Zé com Fome, Lecy, Geraldo Pereira, Bid e Paulo da Portela;
Zé Criolinho,
grande Nelson Cavaquinho, Padeirinho, Molequinho, Dona Eulália e o povo dela;
Coluna
Prestes, Araguaia, Abdias, Apolônio, Santo Dias, Chico Mendes, Marighella;
Tibete livre,
África reparação, Palestina pátria livre o bom cubano é meu irmão;
O povo negro
no Haiti fez gol de placa e a elite deu carrinho e até hoje contra ataca;
No USA
(uesseêi) do Mississipi ao Alabama Luther King e Malcoln X prepararam pro Obama;
Falei e
disse, já mandei o meu recado
Seja pobre ou
seja rico é cada um no seu quadrado
Aqui o povo
luta o povo não amarela
Mas no ônibus
da vida o rico anda na janela
Aqui o povo
luta o povo não amarela
Eu sou mais é
João Cândido e Teresa de Benguela.
sexta-feira, 13 de maio de 2022
A ALMA NEGRA É ESSENCIALMENTE REVOLUCIONÁRIA
Para ser negro, basta nascer negro. Para tornar-se negro, somente abraçando sonhos revolucionários.
quinta-feira, 12 de maio de 2022
MUNDOS INVISÍVEIS
O mundo de uma criança negra começa antes da concepção, há milhares de anos que se perdem nas brumas do tempo.
Seus genitores geralmente desprovidos de poder financeiro, vivem nas periferias, em habitações precárias, sem estruturas mínimas de saneamento e em espaços ambientalmente degradados, onde o estado só comparece com a polícia em cotidianas ações violentas e perigosas.
A mãe negra daquela criança não possui condições financeiras de adquirir um plano de saúde que garantiria a ela o conforto, a tranquilidade e a presteza dos hospitais da rede privada, sempre bem equipada e com equipamentos e exames em perfeito estado de funcionamento.
Todo o acompanhamento da gestação será em hospitais públicos, depauperados, geralmente sem profissionais à disposição, sem medicamentos gratuitos e com instalações em péssimo estado, oferecendo inclusive sério risco à parturiente através da violência obstétrica.
Ao nascer a criança negra produz uma redoma de amor e carinho, portadora que é de esperanças renovadas para seus pais e família. Porém, seu mundo começa se tornar estranho e diferente, pois, sobre seu berço, não existem móbiles com anjinhos negros. A decoração de seu quarto, se houver um quarto, é sempre eurocêntrica, com personagens de outra etnia que não a sua.
Aquela criança negra vai crescendo feliz, pois em sua inocência não percebe que seu mundo real será precedido por um mundo invisível, que a manterá presa em um campo de retenção indetectável durante grande parte de sua vida. Porém, em seus primeiros anos de vida, esse campo será tão aceito e sutil e que para ela esse é o mundo real, enquanto, que na verdade, esse é o mundo invisível, o mundo de Nárnia ao contrário, onde para se adentrar nele a criança tem que sair da proteção do armário e se atirar em um mundo tenebroso e cruel, onde sua vida será massacrada lentamente desde o nascimento até a morte.
Aquela criança negra vai se desenvolvendo, já tendo então deixado de lado a ausência de anjinhos negros para trás. Aprende em suas igrejas que os deuses e santos são brancos de barbas brancas e que nas aulas de formação religiosa nas manhãs de domingo, não há negros em sua ancestralidade. Apresentam-lhe um Deus que castiga, flutuando entre as nuvens com longos cabelos brancos e barbas brancas, cercados por anjinhos brancos de asas brancas. Para aquela criança, o sagrado é uma deferência que Deus escolheu para as crianças brancas, pois, elas estarão livres de seus pecados e poderão ascender aos céus.
O desenvolvimento daquela criança negra será um corolário de inconformismos e sofrimentos em um país de matriz multirracial. Nos livros de contos de fadas ela não encontrará nenhum rei, rainha, príncipe ou princesa negros. Aprenderá que a bondade, a generosidade e a realização espiritual se dá em valores caucasianos. Nas histórias em quadrinhos o personagem negro de maior destaque é Cascão da Turma da Mônica que não toma banho de jeito nenhum e o Pelezinho que tem suas virtudes circunspectas às habilidades futebolísticas.
A criança negra vai crescendo e chega o momento de iniciar sua vida escolar. Momento de grande alegria e expectativa por parte dela e toda sua família. Não sabe em sua pura ingenuidade o mundo invisível que a aguarda. Seu ingresso no mundo real se dá geralmente através das escolas públicas onde seus profissionais lutam bravamente para oferecer ensino de qualidade, que possibilitem àquela criança competir em igualdade de condições com as caríssimas escolas privadas da burguesia. Aquela criança está sob a coordenação cognitiva do mundo invisível, onde lhe é passado que através de seu esforço e dedicação, poderá realizar todos os seus sonhos, através do aprendizado no ambiente acadêmico. A criança parte feliz para uma jornada que lhe invariavelmente lhe será adversa por quase toda a sua vida.
A partir desse momento terá início a luta titânica do mundo invisível com o mundo visível. O mundo invisível, em seus mais puros requintes de perversidade, lhe mostrará um mundo maravilhoso, que poderá ser conquistado caso ela tenha disciplina e obediência aos valores impostos pela sociedade eurocêntrica. É como aquela imagem do burro com uma vara amarrada ao pescoço e com uma cenoura na extremidade da vara à sua frente. O burro caminha eternamente tentando alcançar a cenoura sem nunca porém consegui-lo.
Aquela criança negra passará grande parte de sua vida buscando a cenoura dourada dos seus sonhos sem contanto poder consegui-la, pois, o prêmio por uma formação de qualidade reconhecida pelo mercado profissional é oferecido somente aos caucasianos da classe média, que nascem em vantagem competitiva em diversos itens como nutrição, ambiente familiar moderado, habitações de acordo com suas necessidades e acesso à engenhos de comunicação eficientes, cultura e bens materiais.
Algumas daquelas crianças negras desistem no meio do caminho. Muitas delas não conseguem suportar a transição da escola de primeiro segmento para o ensino médio e partem para o sub emprego no mercado de trabalho, pois sua família não consegue suportar um membro não produtivo que necessite de alimentação, roupas, remédios e afins.
O mundo invisível em sua perversidade inicia a formação do exército de mão de obra disponível que propicia ao capital oferecer baixos salários em suas corporações econômicas, para uma massa de desempregados que anseiam por uma vaga no mercado de trabalho, ou um lugar ao sol como costumam dizer. Mais uma vez o mundo invisível se manifesta em sua necropolítica ao gerar uma imensa competição entre os que nada possuem, evitando assim a sedição e o movimento popular organizado por justiça e igualdade social. Com esse mecanismo sórdido, o mundo invisível mantem o “rebanho” ocupado em se colocar no mercado de trabalho e não em lutar por melhores condições de vida ou de sobrevivência até.
O mundo invisível é muito atuante no período escolar e acadêmico da população negra. Ele em seu pérfido refinamento, prepara os filhos da burguesia branca para ocupar os espaços de poder na sociedade. As escolas da elite são caríssimas e sempre se constituíram no principal óbice para que jovens negros pudessem acessar educação de qualidade. Ao construir esse muro de bloqueio ao acesso invisível, o mundo invisível garante a perpetuação de sua existência. É o modo de racismo mais sutil que existe, pois, leva a sociedade acreditar que os meios de acesso são justos e meritocráticos.
O sistema demolidor da autoestima do mundo invisível tem seu início nas primeiras séries das escolas, onde as crianças negras são alcunhadas das piores designações possíveis, destruindo suas autoestimas e gerando um sentimento de inferioridade que em muitos casos as acompanhará pelos restos de suas vidas.
O sistema do mundo invisível é cruel no ambiente escolar. Apesar de esforços tímidos, nada é capaz de deter a força do projeto do mundo invisível. A formação do professorado não compreende com lucidez a desconstrução do racismo e a decolonização cultural eurocêntrica. A cultura não é somente eventos e entretenimentos. cultura é a forma de viver de um povo, seus legados, seus costumes, sua constituição enquanto nação. Por conta da formação muitas vezes incompleta, o corpo docente das instituições de ensino pode repetir os valores tradicionais da sociedade aristocrática burguesa, causando assim um dano irreparável na formação e no desenvolvimento de seus alunos, brancos ou negros.
Os jovens negros crescem tentando superar o racismo que povoa seus cotidianos. Ao romper a barreira da infância e entrar na pré-adolescência eles têm contato com a maior dor que podem sentir enquanto seres humanos que é a rejeição do amor de uma paixão. Envolvidos pelas tramas do mundo invisível, não atentam que a cor, a melanina, a epiderme, será uma barreira decisiva em suas relações afetivas dali por diante. As meninas se encantam e se apaixonam pelo menino loiro de olhos azuis, de poder aquisitivo maior, com família economicamente estabilizada. Em muitos casos são estimuladas pelos genitores a ensaiarem uma relação afetiva com os meninos detentores desses atributos. Os jovens negros não são opção preferencial das meninas brancas e como foram criados envolvidos pela doutrinação eurocêntrica, passam a cobiçar essas meninas, em detrimento às meninas negras da escola ou da comunidade. Então o mundo invisível se torna mais poderoso ainda, pois, faz o negro rejeitar, recusar o outro negro, desejando viver com uma pessoa diferente de sua etnia, que em certos aspectos está renegando. Por um outro lado as meninas negras sofrem racismo por diferentes vias e tristemente pelos seus iguais. Cria-se então a desordem na compreensão afetiva dessas pessoas tão jovens e já tendo que administrar a dor da rejeição por conta de suas características étnicas. Mais uma etapa vencida pelo mundo invisível, onde ele massacra a autoestima e a força de representatividade da juventude negra. Essa juventude talvez carregue até o túmulo os dissabores da rejeição de amores tão imberbes e inocentes, O resultado poderá ser visto anos depois nos casamentos e nas relações maduras, onde sempre surgem fagulhas das cinzas da adolescência e dos amores platônicos.
Algumas daquelas crianças negras conseguem chegar aos cursos de graduação superior, onde o funil de recepção é muito estreito e alguns mecanismos de ação afirmativa são necessários para garantir o ingresso de negros nas universidades públicas, onde há uma luta fenomenal por vagas em seus cursos, todos de excelência.
Realizando um retrospecto sobre a desigualdade social e racial na educação superior, podemos constatar que o sistema de cotas sempre existiu na universidade públicas desde sua fundação. O percentual de brancos nas universidades públicas sempre girou em torno de 97%, cota praticamente irremovível até a década de 60. Com o crescimento do ensino técnico no país, uma leva de negros e pardos passaram a sonhar com o acesso nas universidades públicas e assim foram construindo lentamente os patamares inferiores da densidade social e racial naquelas instituições. Com o advento das cotas raciais inicia-se uma verdadeira revolução nas universidades públicas, com debates acalorados entre cotistas, calcados nas centenas de anos de escravidão e da negação de acesso ao ensino, e dos meritocratas, que defendiam o acesso através do mérito somente, onde deveria ser jogar com as regras do jogo estabelecidas por eles. O debate chegou ao Supremo Tribunal Federal – STF, que garantiu o tratamento desigual para os que foram desigualmente tratados pelo estado brasileiro.
O sistema de cotas garantiu um incremento de jovens negros nas universidades nunca visto antes. Porém, a burguesia ainda manteve alguns nichos intactos como os cursos de Medicina, Engenharia, Direito e Administração, entre outros. Os negros em sua maioria optaram pelas ciências sociais, onde a competição não é tão acirrada e o conjunto de seres humanos com conteúdo étnico mais diversificado.
O mundo invisível continua operando com intensidade nas universidades. Primeiro, seleciona para os melhores postos de trabalho os candidatos oriundos das universidades de excelência, detentores de coeficientes de rendimento elevadíssimos. Depois passam a exigir outros dotes como domínio de idiomas, habilidades específicas diversas e redes de relacionamento comprovadas. Ao fim priorizam a pós graduação em universidades estrangeiras do hemisfério norte, inviabilizando assim a possibilidade de um jovem negro e pobre, oriundo das camadas populares da população conseguir uma vaga de trabalho em uma empresa de ponta.
Aquelas crianças negras que não conseguiram superar o ensino médio, serão a força de trabalho do país, o exército de reserva, a peãozada como costuma se dizer no chão de fábrica. Os que conseguirem superar o ensino médio estarão em postos intermediários nas cadeias produtivas e alguns através de muito esforço conseguirão concluir o curso superior nos cursos noturnos de alguma universidade privada ou então através da nova modalidade EAD, que cada vez cresce mais no país.
Os negros que concluíram a graduação superior lutarão bravamente por um espaço no mercado de trabalho, que sempre optará prioritariamente pelo fenótipo caucasiano masculino. Muitos desses negros egressos das universidades, tendo tomado percepção da realidade do mundo invisível, serão obrigados a assumir a pecha de “empreendedores”, que significa dispor de seu conhecimento adquirido à duras penas e imenso sacrifício em atividades não remuneradas, onde sua produção é que lhe garantirá o ganha pão. O mundo invisível também opera em nível governamental e criou o SEBRAE, que nada mais é que uma válvula de escape da panela de pressão que é o elevado índice de desemprego no país. A ilusão do empreendedorismo em um país de miseráveis é a mais tosca visão do fracasso de um projeto de nação que deveria incluir sua população negra no acesso à riqueza e ao desenvolvimento.
O Mundo Invisível trabalha diuturnamente para que as escolas sejam cada vez mais precarizadas, pois assim, faz a população se revoltar contra o sistema público e valorizar as redes privadas de ensino. Lentamente faz a sociedade migrar para o ensino pago, e os que não podem pagar são obrigados a deixar os filhos em instituições que poderiam ser de excelência, mas infelizmente não são. Dizia o educador Darcy Ribeiro que a destruição da educação pública brasileira não é um acaso e sim um projeto. Torna-se comum encontrarmos pessoas negras talentosíssimas que foram obrigadas a abandonar a escola pelos mais diversos óbices e problemas. Grandes Pesquisadores, Médicos, Advogados, Engenheiros, Sociólogos, Administradores e toda uma gama de profissões perdem anualmente milhares de negros e negras talentosos, que tiveram seus sonhos interrompidos pelo poder da força do capital que é a energia motriz do Mundo Invisível.
Por fim, aquela criança negra que veio ao mundo cheia de sonhos e alegrias, chega ao final da vida sem ter realizado suas metas de prosperidade, ancorado que foi, profissionalmente, em vendas de cotas de pirâmides financeiras, ou então no serviço público, o último refúgio de conforto de um negro antes de se despedir desta vida, provavelmente sepultado em cova rasa, acomodado em um caixão de terceira.
ATLÂNTICO NEGRO
AS ONDAS BEIJAM INCESSANTES
O BARCO FRIO DA DOR
O VENTRE PRENHE DE LAMENTOS
LAMENTOS, SADISMO E TERROR
ATLÂNTICO MAR INSENSÍVEL
PROFUNDO DE TANTO ABANDONO
MORADA DE CORPOS CARENTES
O HOMEM TE FEZ DESUMANO
A CRUZ E A ESPADA UNIDAS
NAVEGAM-TE EM LOUCO CORCEL
NAVEGA-TE A DAMA DA IRA
COBERTA DE FÚRIA E DE FEL
CHIBATA, SANGUE, CONFISSÃO
A CRUZ TRAZ A SUBMISSÃO
A ALMA SE APARTA DO CORPO
A ESPADA FAZ A PERVERSÃO
ATLÂNTICO ROTA SOFRIDA
DA ÁFRICA TERRA QUERIDA
VIAGEM SOMENTE DE IDA
A CRUZ E A ESPADA UNIDAS
ESPADA, CRUZ, INQUISIÇÃO
TÃO TRISTE O PORTO SOLIDÃO
ATLÂNTICO ÉS PINGO D'ÁGUA
DIANTE DA SEPARAÇÃO.
ESPADA, CRUZ,
INQUISIÇÃO
ATLÂNTICO ESCRAVIDÃO
A DOR DO TAMANHO DO MUNDO
AFOGA A CIVILIZAÇÃO.
quarta-feira, 11 de maio de 2022
MÃE É PARA SEMPRE
terça-feira, 10 de maio de 2022
VERMELHO
Vida de sinal
Fechou, vai! Se apresenta!
Mundos diferentes separados pelos vidros insensíveis da vida
Pela desigualdade transparente e excludente
Retirar esperança dos parcos segundos vermelhos
Da mimetização estática do tempo
Dos segundos de espera
Aguardando um gesto de amor e desejos de dias mais verdes
O sinal não espera
Frio, moldado no tic tac do tempo dos homens
Verde é verde
Vermelho é vermelho
Cada um preso em seu círculo de luz
Os carros ficam aflitos e ansiosos, há tensão no ar
Loucos para partir em busca de seus indecifráveis e até inconfessáveis
futuros
Fechou mané! A hora é essa! Já é!
Mostre suas esperanças e possibilidades, suas toscas habilidades
Através do balé carente das bolinhas
Malabarismos com bolinhas no sinal
Sinal de falência da civilização
Sol escaldante, chuva fina, dia e noite
O show não pode parar
A fome não espera
A escola pode esperar
Quem sabe um dia tenha um dia de criança feliz
Sonhos embargados pela emoção
Pela indiferença do concreto da urbe
Eu quero um deus que me traga a beleza
Que me traga o calor do amor
Um deus sem cascas
Um deus novo
O Deus da restauração
O balé quântico das bolinhas se inicia
Buscando a aprovação insensível da cidade
Que poderia estourar as bolinhas da desigualdade com gestos
de amor
Que dessem cor e magia a tanta desumanidade
É luz vermelha! Tempo! Ação! Bora irmão!
No corre-corre do vermelho um diz sim, dez dizem não
Cem teatralizam fingindo
alguma ocupação
Evitando o compromisso espiritual de irmão
De partilha e de solidariedade
Mas um disse sim
Sangue bom
Salvou o pão c mortadela e um bombom
E o refri pra aguentar esse rojão
Fechou mané, um bom fez boa ação
Bolinhas mil na careta dos caretas
Subindo são lamentos dos navios negreiros
Descendo são as pretas velhas socando o pilão no cativeiro
Socando a fome no pilão
Um bom fez boa ação! Salvou o pão e o macarrão meu irmão,
valeu!
E o do refri prá aguentar esse rojão que ninguém é de ferro
não
Abriu, verde, esperança!
quinta-feira, 5 de maio de 2022
LUIZ GAMA - O SPARTACUS BRASILEIRO
segunda-feira, 2 de maio de 2022
OLHAR DE FOLHETIM
De nada adianta chorar o que passou
O viço de outrora que o tempo levou
Foi se largando por aí, pela vida, sem eira nem beira
Pelas noitadas, madrugadas, carreiras e bebedeiras
Foram tantas tentativas, tantos erros, tantas marcas de amor
Marcas doídas e sofridas
Marcas de vida que o rouge teima em ocultar
Cumpro minha cruzada em silêncio, em solidão
Minha tosca rotina vive bares repletos de aflição
Enfrento meus moinhos de vento porém sem o escudeiro
Quero um copo amigo, quem sabe um corpo amigo, um parceiro
Um corpo como abrigo, quem sabe verdadeiro
Me abrigar das tormentas que me atormentam nesse louco mundo picadeiro
Ouvir um tango de Gardel, onde o bandoleón passional envolva meus soluços em arte e dor
Peço uma dose de amparo e o garçom me diz que acabou há tempos
Até um falso beijo amargo me faz crer que eu possa amar
Mas qual o quê!
Sigo a sina de mulher sozinha nessa vida sem afeto
Perdida na vida como cão sem dono
Perdida no próprio abandono
Consumindo sonhos e desejos
Tragando homens, álcool e cigarros
Homens fracassados e vis com seus beijos senis
Mesmo assim digo sim às propostas carentes
Não tenho porque dizer não
Sou minha dona, atrevida, sou da vida, quase bandida
Não tenho família para abraçar aos domingos
Aceito a cópula com delicadeza
A mesma delicadeza com que se confeita um bolo de noiva
Mesmo investida de falsos brios
Sei que somos humanos estranhos, diferentes, sombrios
Cúmplices indecentes em nossos sorrisos pérfidos e amarelos
Lentamente o álcool me aquece
Aos poucos me incendeia em fogo
Me entrego ao seu calor para esquecer a dor
Mergulho na falsa sensação de amor, é o que me resta, é o que tenho
Minhas dores são tão presentes que nunca se tornam passado
Marcas de uma vida sem recato
Adicta do presente devasso e hedonista
Carrego marcas e cicatrizes, gloriosas e ferozes das ferrenhas luta de cio
Não fui à lona, não estou derrotada
Sou esperta e sagaz
Sei fingir prazer, sei ser teatral
Divido pó e pecados igualmente
Não necessariamente nessa ordem
O prazer marginal tem um ótimo sabor, é agradável
O sabor do interdito nos eleva em torpor ao inimaginável
É tanto revés, submundo, falsidade
Que até parece que é amor de verdade
E quando a aurora invade o quarto atrevida e curiosa através do tule
Assusta-se com o sabor intragável do ambiente
Meu corpo é a Tróia invadida, conquistada e colonizada por um Menelau sociopata e vazio
Jaz lasso sob os escombros de um fogo que o consumiu violentamente
São abertas as cortinas do palco da vida onde o cenário é cruel e aterrador
No campo de batalha somos guerreiros feridos pela vida
Onde a indiferença e o arrependimento predominam em uma cama sem sabor
O ar fresco da manhã é tomado pelo gosto amargo da derrota e da dor
Em lágrimas ocultas apago o cigarro
Incinero nas cinzas os teus cheiros de vida, das outras mulheres, do teu suor, da tua bebida
Rota colombina embriagada de um pobre pierrô de vida corroída
Não sou imortal, posso ser frágil, mas sou fatal
Sou do botequim, sou a diva dos desesperados, sou da rua
Dama dos restos, dos copos solitários e dos seres abandonados
Sou o falso sorriso que sempre diz sim
Mas meu amigo eu lhe recomendo
Nunca acredite no meu olhar de folhetim.