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Eu Negro

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

PELÉ, ISAAC NEWTON E THOMAS EDSON

Se Sir Isaac Newton tivesse visto Pelé jogar, provavelmente teria desenvolvido outras teorias, que aos olhos da ciência, pareceriam improváveis. Foi batizado Edson por seu pai Dondinho em homenagem ao inventor Thomas Edson. O apelido Pelé foi referenciado no goleiro Bilé do Vasco de São Lourenço/MG, onde seu pai Dondinho jogava profissionalmente.

Um jogador de futebol, creio que a grande maioria não saiba disso, é um laboratório vivo em ação. Ele trabalha com inúmeros conceitos da Física ao mesmo tempo e seu cérebro precisa processar essas informações de maneira simultânea.

Se prestarmos atenção  uma partida de futebol, durante seu decorrer, os jogadores trabalham intensamente conceitos como força, velocidade, pressão, tempo, espaço, impulso, giro, ginga,  interação, previsão, ilusão, controle e parametrização. Durante uma partida de futebol todas essas situações acontecem ao mesmo tempo sobre os jogadores, e aquele que tiver maior compreensão e habilidade em como lidar com todas essas transversalidades de maneira eficiente, terá assegurado seu espaço na fama e talvez adquirir riqueza.

Pelé foi o único atleta de futebol que conseguiu compreender de maneira completa a singularidade desse ambiente multidisciplinar. Conseguiu dominar todos os conceitos que se apresentam com o jogador em movimento constante, em velocidades inimagináveis para um bípede humano, desafiando sistematicamente as leis da Física, seja levando o corpo a desafiar a Lei da Gravidade como efetuar um chute de efeito com o lado de fora do pé que faz a bola mudar sua trajetória no ar, como se um anjo estivesse interferindo em seu percurso. Neste exato momento o goleiro adversário de desloca para a direção original onde a bola foi chutada, mas no meio do caminho ela toma outra direção e como se bafejada pelos deuses do futebol, desobedece a lei natural do movimento e rebelde muda seu destino, para morrer suavemente no fundo da rede, sob o olhar desconcertado de um goleiro em pânico, por estar inacreditavelmente no lugar errado.

Um craque como Pelé é diferenciado da maioria porque seu cérebro trabalha incansavelmente durante uma partida de futebol. Ele se mantém em rastreamento constante, analisando a mobilidade do conjunto de 21 jogadores, tanto seus companheiros como seus adversários. Observa atento aos espaços possíveis de ataque, a distância do gol adversário, a altura do goleiro relação ao travessão da meta, a posição do goleiro, o jogador ideal para cada tipo de jogada. Se for precisar de cruzamento na área ele entrega a bola para o ponta ir à linha de fundo e cruzar, tem que ter velocidade. Se quer penetrar na defesa em uma infiltração vertical vai precisar de um parceiro habilidoso que entenda a troca de passes, enfim, o cérebro do jogador trabalha febrilmente desenvolvendo possibilidades para atingir o objetivo principal da partida que é o gol, o clímax do espetáculo.

Quando o time adversário está com a bola, ele precisa reagrupar o time, fechar os espaços, combater com virilidade, impedir as infiltrações, cabecear os cruzamentos adversários, possuir maior impulso e rebater a bola com força quando necessário.

Todos esses movimentos acontecendo de maneira contínua em alta velocidade exigem uma leitura precisa dos atletas para que seu desempenho seja no mínimo satisfatório. Os atletas que não conseguem operar de forma perfeita esses conceitos, podem até ser jogadores de futebol, mas não são craques.

O que difere o craque dos jogadores normais? Simples, o craque está sempre um passo à frente. Enquanto os jogadores comuns estão esbaforidos tentando solucionar uma situação, o craque já conseguiu distinguir o final da jogada e o início da outra. Ele já sabe o que fará, de maneira antecipada, enfim, é um visionário espetacular operando no meio de seres humanos normais.

Assim era Pelé. Era o rei porque como os grandes enxadristas, sabia com antecipação os próximos movimentos. Sabia dosar a velocidade, sabia o momento da finta, do ilusionismo, quando o corpo contraria a lei da gravidade e fica onde não poderia estar, movimenta-se em um balé histriônico, onde o outro procura assombrado por um corpo que deveria estar ali mas que passou e partiu há muito.

Pelé é responsável pela construção de uma obra absurda, onde o corpo físico enquanto pode jogar contrariou todas as leis da ciência no que tange à utilização do corpo na prática de esportes. O mais respeitado dos cientistas nunca conseguiria colocar no papel a forma de jogar futebol desenvolvida por Pelé.

Se Isaac Newton tivesse visto Pelé jogar, teria desenvolvido naquela época, drones, carros de Fórmula 1, aviões e submarinos. Criaria tudo isso vendo aquele homem negro correndo pelos gramados dia campos de futebol. Pelé desenvolveu uma Física que não pode ser apresentada em fórmulas porque foi simplesmente impossível.

A dimensão de Pelé se torna evidente quando viajamos pelo mundo. Estive no interior da Índia e a única referência que tinham do Brasil era Pelé. Se Pelé não existisse essas pessoas não conheceriam o Brasil. Assim foi comigo em todos os recantos do mundo por 9nde passei. As pessoas conhecem que existe um lugar no planeta chamado Brasil, porque há um cidadão desse país que é chamado de Pelé.  Então ocorre o fato raro da existência da palavra composta Pelé-Brasil.

Se Newton tivesse conhecido e visto Pelé jogar, teríamos duas alternativas.  Ou o mundo teria sido outro muito mais evoluído ou o rapaz da Vila Belmiro teria levado uma maçã na cabeça.

 

domingo, 18 de dezembro de 2022

OS QUE DECIDEM POR NÓS

O povo negro sempre esteve à mercê da vontade do homem branco, durante os quase 400 anos de escravidão institucional que aconteceu no Brasil. A população negra nunca recebeu por parte do estado brasileiro, qualquer gesto positivo na direção de reparação do crime de lesa humanidade que foi o sequestro no continente africano, a pérfida viagem sob correntes até às terras do Novo Mundo e ao chegar serem explorados e humilhados nas piores condições sub humanas e degradantes até o final da vida.
A captura do futuro escravo em solo africano, era geralmente precedida de uma guerra entre etnias, fomentada pelo homem branco, que lhes fornecia quinquilharias, dinheiro, armas, pólvora e rum. Combinação explosiva que convulsionou a paz na África Subsahariana e abasteceu o tráfico negreiro por mais de três séculos. Dados empíricos mostram que durante esse período saía um navio todos os dias trazendo acorrentados em seus porões entre 300 e 500 cativos, isso durante mais de 350 anos. O contingente de africanos capturados e escravizados, era composto por homens, mulheres, jovens e crianças.
O tráfico negreiro era o mais lucrativo empreendimento colonial, e através dele foi possível a colonização do Novo Mundo. A empresa colonial exercia o que designou-se chamar de Comércio Triangular, que consistia em trazer os escravos para o Novo Mundo, levar açúcar e pau-brasil para a Europa e de lá armas, pólvora, rum, e equipamentos para o continente africano. Para isso, cometiam as mais hediondas barbáries, com o intuito de preservar o lucrativo negócio.
Para quebrar a auto estima e arrefecer o sentimento de revolta dos cativos, os africanos e africanas aprisionados eram separados enquanto famílias. Os traficantes separavam os membros de cada família capturada, enviando-os para diferentes continentes. Uns vinham para os países da América do Sul, outros para os Estados Unidos e outros para os países caribenhos.
Os estupros das mulheres negras cativas era consentido e até incentivado pelos comandantes das embarcações, que viam com bons olhos a venda de escravas grávidas. Essas mulheres possuíam um enorme valor, pois, em um breve futuro, iriam parir uma criança que seria vendida, gerando bastante valor agregado à transação no mercado negreiro.
Muitos dos cativos se atiravam ao mar, cometendo suicídio, preferindo morrer a vivenciar o terrível futuro que os aguardava. Muitos eram atirados ao mar pela tripulação por motivo de doença, motim ou mesmo para garantir a subsistência do coletivo, quando a embarcação se deparava com longos períodos de calmaria. Nesses casos, a ração e a água que alimentavam o contingente humano no navio, começava a rarear, por conta dos longos períodos estacionados no mar sem vento para impulsionar as velas.
Então eram selecionados por prioridade econômica os que seriam atirados ao mar para garantir que as provisões e alimentos fossem suficientes para todos até a chegada nos portos de destino.
A tripulação utilizava uma comprida e grossa corda marítima, com um enorme peso de ferro na ponta. Atavam então os escolhidos ao martírio, que atados pelos pés eram lançados pela borda da embarcação. Era uma cena horrenda que também servia como exemplo para os mais rebeldes.
A seleção era por prioridade econômica, onde os que não tinham chances de completar a travessia por motivo de doença eram os primeiros selecionados. Depois eram os mais idosos e depois os que ensejavam atos de rebeldia e assim sucessivamente.
O cálculo é que durante esses 350 anos, foram trazidos de África um contingente que órbita entre 10 e 20 milhões de africanos escravizados. Se do que 25% perdeu a vida nas águas do oceano. A quantidade de corpos atirados ao mar foi tão grande que chegou a alterar a rora migratória milenar dos tubarões, que Oi assaram a acompanhar os navios negreiros aguardando o “descarte” de carne humana fresca.
O custo do desenvolvimento das colônias do Novo Mundo para o povo negro será sempre impagável. Cada negro que circule por esses territórios, traz a visível marca da tragédia humana em sua ancestralidade.
As dores físicas não são mais sentidas, foram se desvanecendo nas brumas do tempo. Porém, o sentimento de degredado permanece, a sensação de não pertencimento é presente e o prazer de ser amado por seus concidadãos não existe. O negro herdou o pior que a escravidão poderia lhe oferecer, a repulsa, a desconfiança e a invisibilidade. Recebeu como compensação pelo holocausto de seus ancestrais o instituto do racismo, o preconceito, o bloqueio aos sistemas de saúde e educacionais de qualidade, aos empregos bem remunerados, poder morar em locais seguros e ambientalmente salutares. Também lhe foi vedado a isonomia com outras etnias para exercer o poder político que pode transformar realidades. O povo negro não foi convidado para sentar à mesa do banquete democrático e assim poder sentir o doce sabor da democracia e da igualdade na diversidade.
Nossa sociedade é governada através do modelo democrático, onde a maioria dos votantes escolhe seus representantes. Dentro da organização moderna do Estado, são criadas leis e mecanismos de gestão pública, para que a sociedade possa evoluir cada vez mais na direção do conhecimento, dos Direitos Humanos e da paz. O grande óbice que se apresenta nesse avanço civilizatório é a qualidade da maioria das candidaturas aos cargos eletivos em todo o país. A miríade de candidatos apresenta ao eleitor plataformas recheadas de proposições esdrúxulas, demonstrando profundo desconhecimento da coisa pública. Provam que o futuro projetado e previsto dentro da democracia será absolutamente discutível se depender de suas iniciativas canhestras.
A administração pública, destarte o conhecimento de algumas ilhas de excelência dentro do estado, apresenta uma complexidade enorme. A elaboração e aprovação de leis pelo Legislativo, exige um profundo debate que depende do conhecimento da legislação vigente e da mobilidade política das organizações sociais que colaboram com a estruturação da caminhada da sociedade na direção do futuro.
O entendimento da administração da ‘polis’, do funcionamento da máquina do estado, preconizado por Maquiavel, e depois modernizado e estruturado por Montesquieu, prevê a compreensão da respectiva separação dos poderes e a interação com a sociedade civil organizada, que deve ser o ponto de partida para a construção de políticas na gestão dentro de qualquer território.
Um dos mecanismos de observação, mensuração e controle da população é a Estatística. Através dela e de seus resultados, o estado promove as políticas necessárias ao bom funcionamento da sociedade. Através dela podemos traçar panoramas, estabelecer movimentos de pesos e contrapesos e elaborar políticas que possibilitem a harmonia social e a execução da biopolítica. Michel Foucault consagrou que a biopolítica elabora e controla as políticas voltadas aos cidadãos e cidadãs que têm suas vidas compreendidas dentro de um determinado território. A leitura e análise dos indicadores gerados pela Estatística permitem intervenções no sentido da correção de assimetrias sociais e econômicas que possam atingir aquela população.
Os principais óbices encontrados pela maioria dos parlamentares quando chegam ao poder é o absoluto desconhecimento do funcionamento do estado, do império da lei, da independência entre os poderes e o ato de legislar na abrangência dos limites territoriais estabelecidos pela Constituição, sem ferir legislações na condição de leis infraconstitucionais. A diversidade dos movimentos sociais pode e deve participar da vida do município, porém, a apreensão das técnicas de manipulação da Estatística e a consequente construção de indicadores podem servir de subsídio para a elaboração de políticas consistentes, baseadas no método e não somente no senso comum.
A arte de legislar sem a compreensão da realidade torna-se um fatigante ato de enxugar gelo. Por isso, entra legislatura e sai legislatura e a situação permanece sempre a mesma. Administrar um território com sua população, exige conhecimentos teóricos e práticos multidisciplinares, aliados à criatividade e inovação tecnológica. Ao analisarmos as campanhas políticas, observamos que as mesmas usam o velho e batido bordão “Tem que Mudar!”. Certamente nos últimos 30 anos em seus municípios, com raríssimas exceções, aconteceram mudanças estruturais permanentes, que promoveram mudanças significativas na realidade daquela população. Vejam como as velhas elites locais se revezam e se perpetuam na carcomida instituição do poder familiar, onde pouco importa se possuem capacidade de gestão que possa garantir bem estar para a população daquele território. Bem estar eivado pela democracia, assentado sobre o primado dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Ambientais. Voltado portanto para a promoção de trabalho e distribuição de renda. O entendimento principal deve passar por uma profunda reflexão sobre a necessária transformação social, que exige vigorosos investimentos em diversidade, cultura, tecnologia, educação, saúde, meio-ambiente, trabalho e renda e inclusão social. Quando falamos em inclusão é mister frisar a importância da elaboração de políticas voltadas para mulheres, jovens, negros, deficientes e LGBTQ+. Essas políticas não devem ser implementadas como assistência social e sim como fator de desenvolvimento e geração de novos patamares civilizatórios. A miríade de candidaturas no âmbito nacional, traz novas ondas de esperança que espero sejam motivo de júbilo e não de decepção e infortúnio.
No caso da população afrodescendente, a pólis não está preparada para compreender mecanismos históricos de correção, comumente chamados de Ação Afirmativa. Ao nos debruçarmos sobre o conjunto de leis do Brasil voltadas para o segmento, desde a chegada dos primeiros colonizadores até os dias atuais, não se observa uma linha sequer que vise a promoção da população negra enquanto política de reparação histórica. Pelo contrário, parte da etnia caucasiana luta contra a adoção das cotas para negros nas universidades. Estão equivocadas, pois, em nossa primeira constituição, a de 1824, o negro era impossibilitado de estudar e de votar. Assim o estado brasileiro, promoveu mobilidade social para um contingente humano, enquanto o outro permaneceu compulsoriamente estacionado durante centenas de anos, sem poder estabelecer isonomia com outros grupos humanos de outras etnias. Quando um político ocupa a tribuna para ofender o instituto das cotas nas universidades, está demonstrando ignorância histórica e absoluta ausência de compreensão da gestão do estado, pois, as cotas raciais, constam no documento final, no Plano de Ação da Conferência Mundial contra o Racismo das Nações Unidas, levada à cabo em 2001, na cidade de Durban, na África do Sul. Nesta conferência, que foi um marco para as relações raciais no planeta, foram construídas inúmeras pontes que pudessem viabilizar a elaboração de diversas ações viáveis e concretas, que orientassem a caminhada dos países com mais segurança, no que tange as políticas de inclusão e de combate ao racismo.
Ao ser signatário do plano de ação da conferência, cuja Relatoria ficou a cargo da brasileira Edna Roland, os termos assentados no documento final se tornaram compromissos assumidos pelo Brasil. Conforme decisão das Nações Unidas, esses termos tomam força de lei dentro do país após ele ser signatário do Plano de Ação. Por esse motivo jurídico e outros censitários, históricos e humanitários, que o Supremo Tribunal Federal – STF, julgou as cotas raciais para o acesso às universidades constitucionais, para desgosto dos falsos meritocratas.
Apesar de todo o horror que a ancestralidade negra foi submetida para que fosse possível a construção da nação brasileira, a quase totalidade da população não negra não se levanta contra o racismo estrutural que insiste em perpetuar a desigualdade e o preconceito contra o povo negro. Mesmo depois de 120 anos da promulgação da Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no país, ainda podemos assistir cenas cotidianas de racismo e movimentos neonazistas, destilando ódio aos negros. O racismo estrutural também atua através dos aparelhos de repressão de estado, promovendo um verdadeiro genocídio da juventude negra nas comunidades vulneráveis.
Onde estão os que decidem por nós? Não estão em lugar algum, pois os negros, desde 1532 sempre estiveram por sua própria conta. Todas as políticas de bem estar e de promoção sócio econômicas são destinadas aos brancos. Aos negros é destinado desde sempre o quartinho dos fundos das empregadas e os serviços degradantes para os homens. A responsabilidade sobre a precariedade é sempre apontada como falha meritocrática antropológica e não como mecanismo projetado pelo racismo estrutural.
Então aqueles que decidem, que através do voto popular são alçados ao parlamento para legislar para todos, no fundo apenas perpetuam e aprofundam o racismo estrutural e a desigualdade. Muitos por puro desconhecimento da história e outros porque são racistas e se utilizam do instituto da imunidade parlamentar para desfilar seu racismo.
É importante lembrar que a naturalização da precariedade do povo negro também é uma forma de racismo. Quando a polícia mata um jovem negro, matou porque era um bandido, então matou certo, dizem. Mas porquê ele se transformou em um bandido? Quais as politicas que o falecido jovem negro recebeu por parte do estado para que pudesse ao menos ter uma chance de viver uma vida normal? É muito mais cômodo julgar e matar um negro que pensar e desenvolver políticas que lhe garantam segurança desde a vida uterina, onde a violência obstétrica, comum no serviço público de saúde, é o primeiro sinal que a criança negra recebe, do mundo que a aguarda após nascer.
Os que decidem por nós não estão no cotidiano das áreas conflagradas onde vive o povo negro. Estão nas mansões e apartamentos de frente para o mar, no ar condicionado, cercados de serviçais que lhes acenam continuamente com humilhantes rapapés. Em seus ambientes de trabalho, cercam-se de benesses pagas com o dinheiro do povo sofrido, para legislar sempre em favor dos bem nascidos, dos que possuem e controlam o poder. Em seus espaços materiais e espirituais não cabem o sofrimento do povo negro. Desses só lhes interessam os votos, que geralmente são calçados em falsas promessas e abraços constrangedores. Os que decidem por nós negros, não estão nem aí para as nossas agruras, nosso sofrimento. Não estão nem aí para o holocausto dos nossos ancestrais, estão sim, perpetuando o racismo estrutural que nos oprime cada vez mais.

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

AURORA CURSINO DOS SANTOS - A COSMOVISÃO DO CAOS

Aurora Cursino dos Santos, nasceu em 1896 na cidade de São José dos Campos, São Paulo. Deixou um casamento falido para trás e veio para o Rio de Janeiro, onde ingressou na vida noturna e na prostituição. Depois de um período na boemia, deixou a prostituição para trás, fazendo um curso de enfermagem e trabalhando em casas de família como cuidadora e doméstica.
Seu estado mental começou a se agravar e a partir de então passou a frequentar instituições de internação psiquiátrica, onde passou por uma criminosa lobotomia. 
Apesar de todo o sofrimento, nos longos períodos de confinamento, desenvolveu seu talento natural para a pintura. A qualidade de seu talento lhe levou a participou de inúmeras exposições no Brasil e no exterior. Morreu em 1959, deixando mais de duzentas telas que retratam na maioria das vezes o cotidiano da prostituição e a condição de submissão das mulheres. Também deixou uma séria infindável de vaginas e pênis em telas que geralmente não são expostas. Assim como Arthur Bispo do Rosário, passou grande parte da vida em manicômios sem a mínima condição de reabilitação. Seu talento e sua vida de sofrimentos começam a ser resgatados por estudiosos do Brasil e do exterior.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

MARIA FIRMINA DOS REIS - A PRIMEIRA ROMANCISTA DA AMÉRICA LATINA


Maria Firmina dos Reis
O Maranhão está entre os estados mais lindos e importantes do Brasil. Sua história está cravada na formação da nação brasileira. As belezas dessa terra produz uma misteriosa magia que encanta a todos.
No campo da literatura o estado é referência nacional em nomes de destaque na letras. Entre os filhos diletos da literatura maranhense podemos citar Aluísio de Azevedo, Josué Monteli, Graça Aranha, Gonçalves Dias, José Loureiro, Ferreira Goulart, Catulo da Paixão Cearense, Coelho Neto, José Sarney, Artur Azevedo, Salgado Maranhão e as mulheres Laura Rosa, Lucia Santos, Sônia Almeida, Jorgeana Braga, Luiza Cantanhede, Lenita Estrela de Sá e inúmeras outras grandes escritoras.
Há uma escritora porém que merece todas as reverências e homenagens possíveis. É uma mulher negra, uma admirável mulher negra, que ostenta a façanha de ser a primeira romancista da América Latina, tendo escrito e publicado o primeiro romance latino-americano escrito por uma mulher. Maria Firmina dos Reis inaugurou o Romance Abolicionista ainda no período da escravidão. Nascida em 1825, na Ilha de São Luís do Maranhão. Filha de uma preta forra (libertada) chamada Leonor, que aos 25 anos, contrariando o destino até era reservado aos negros e negras da época, estudou e se tornou professora. Maria Firmina publicou seu primeiro romance Úrsula, em 1859, onde denunciava as agruras do cativeiro enquanto expressava seus ideais abolicionistas, baseados em sua experiência ocular e no passado de sua família.
Em um país onde o racismo estrutural não fosse tão forte, como é o caso do Brasil, e que a invisibilidade da população negra não fosse um projeto estabelecido e tolerado pela população, Maria Firmina seria uma celebridade nacional. Contra tudo e contra todos, essa mulher negra, uma heroína do seu tempo, em pleno período da escravidão, escreveu e publicou um romance revolucionário e desafiador para a época, que causa espanto e admiração até os dias atuais.
Maria Firmina sempre foi dedicada aos estudos. Em 1847 aos 22 anos, ingressou no magistério através de concurso para Cadeira do Ensino Primário, no ensino de Primeiras Letras. Abraçou o magistério durante toda a sua vida, comprovando sua lealdade ao ensino ao fundar em Maçaricó uma escola mista gratuita para alunos carentes, uma das primeiras do país. Todos os dias era vista subindo a ladeira que antecedia a chegada a escola em cima de um carro de boi. Talvez tenha sido uma iniciativa pioneira do que hoje são os núcleos populares de estudo para jovens carentes no Brasil. Era conhecida como uma professora calma, de gestos comedidos e por isso era admirada pela população. Toda passeata que era realizada no município de Guimarães, onde residia, parava sob sua janela e aguardava sua benção.
A obra de Maria Firmina dos Reis é objeto de estudo em diversas instituições acadêmicas em todo o país. Além de escritora de diversos livros, participou de inúmeras antologias. Também era compositora, tendo composto um hino em homenagem à Abolição.
Maria Firmina dos Reis nunca se casou e faleceu em 11 de novembro de 1917, aos 95 anos de idade, pobre e cega. Infelizmente a maioria dos documentos de seus arquivos pessoais se perderam nas brumas do tempo, assim como não se tem notícia de nenhuma foto verdadeiramente sua.
Firmina deixou como seu maior legado o amor à literatura e à educação. Apesar de sua luta em prol da mulher, seu busto é o único que representa o gênero feminino na Praça do Pantheon, que homenageia os escritores mais importantes de São Luís do Maranhão.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

CARTÃO VERMELHO PARA A COPA

Estamos assistindo a Copa do Mundo de Futebol 2022 no Catar. O mundo deita os olhos no enclave oriental, onde sua majestade a bola, reinará imponente durante 30 dias.
Meu olhar é curioso e seletivo. Presto muita atenção em detalhes que costumam passar despercebidos para a grande maioria das pessoas. Costumo buscar, por exemplo, comparar os salários dos jogadores. Então cruzo desempenho no gramado com a faixa salarial. Outra curiosidade que tenho é prestar atenção nas torcidas no intuito de identificar pessoas negras quando o jogo não é de nenhum país africano. Parece que nesta edição do evento, dos 32 países participantes somente quatro não possuíam negros em suas equipes.
A torcida do Brasil, por exemplo, era constituída de 99% de brancos, mostrando para o mundo a escancarada desigualdade social. Os negros brasileiros brilham nos gramados mundo afora, mas a plateia que se deleita com suas habilidades não possui negros em sua composição.
Assim como o samba e a capoeira, o futebol não era um esporte cultuado pelas elites. O jogador de futebol era discriminado tanto por ser negro como por ser branco pobre. O esporte não gerava os contratos milionários de hoje em dia. O goleiro Manga contava que saíam do Maracanã depois do jogo e corriam para a feira livre comprar o almoço com o dinheiro do ‘bicho’ que recebiam. Na Copa do Catar pudemos assistir espantados jogadores brasileiros saboreando bifes coberto por ouro que custavam 9 mil reais a unidade. Além de gastarem uma verdadeira fortuna com o jantar, ostentavam relógios avaliados em 3 milhões de reais. Os tempos realmente são outros. Muitos jogadores viajam em suas próprias aeronaves movidas a jato, que atravessam o oceano sem necessitar de abastecimento. Muitos vão para os treinos em seus helicópteros e usufruem as férias em seus iates, que são vistos ancorados em diversos paraísos naturais ao redor do mundo.
Os negros do Catar participaram da copa, mas como operários que vieram de fora para trabalhar na construção dos estádios. Morreram mais de 6 mil trabalhadores na construção dos estádios. Obviamente que a grande maioria dos que os perderam não era de operários brancos.
A copa também mostra algumas curiosidades históricas, como o fato da seleção da Argentina ser a única seleção da América do Sul a não possuir jogadores negros em seu elenco. A explicação repousa em várias narrativas, principalmente que ela indenizou seus ex-escravos que concordaram em ir para o Brasil. Também enviou uma infinidade de escravos para as guerras da época, onde a grande maioria perdeu a vida. Por se considerar a Europa dos trópicos, orgulha-se pelo fato de sua população ser majoritariamente caucasiana.
Um dos fatos que mais prende minha atenção é a torcida dos países africanos. A diferença de felicidade é gritante. Os africanos chegam com seus trajes multicoloridas, cantando, tocando seus instrumentos e dançando felizes. O contraste comportamental é enorme, onde o corpo africano se diferencia dos europeus, americanos e asiáticos, com suas danças exuberantes, seus deuses e seus corpos falantes, que são verdadeiras maravilhas.
Quando a copa terminar o Catar voltará ao normal, com o islamismo cobrindo as mulheres e as expressões efusivas de felicidade controladas. O público LGBTQIA+ sairá de circulação e o consumo de álcool terá sua proibição de volta. Porém, os habitantes locais jamais esquecerão que existem povos felizes e que podem demonstrar essa felicidade. Que existem povos que podem demonstrar afeição por pessoas do mesmo gênero publicamente sem serem castigados, que mulheres podem andar livremente como queiram, até fumando e bebendo sozinha.
A copa do mundo não se resume em atletas milionários correndo atrás de uma bola. Ela serve para unir os povos e principalmente mostrar a diferença cultural entre os mais diversos povos do planeta. Na competição futebolística somente um país sai vencedor, porém, na agregação de valor todos vencem de uma maneira ou de outra. 
Apesar de ser considerado um evento excludente devido ao alto custo cobrado ao público participante, tornando-o exclusivista, a copa do mundo traz em seu bojo um quê de união dos povos, um orgulho patriótico saudável, não ufanista, saudável e verdadeiro.

sábado, 3 de dezembro de 2022

O QUARTO DE EMPREGADA E O ELEVADOR DE SERVIÇO

Essa coisa de quarto de empregada e elevador de serviço dá uma confusão danada e exige mais atenção por parte dos intelectuais. O quarto de empregada é considerado uma excrescência social na sociedade contemporânea brasileira. Eu particularmente não gosto desse tipo de arranjo. Mas como dizia o Garrincha, vcs combinaram com os russos? Os russos no caso são as domésticas, que geralmente vivem nas periferias distantes e gastam até três horas dentro dos transportes coletivos abarrotados e caros. Essas trabalhadoras chegam em casa por volta das 22h para acordarem às 5h e chegar de volta ao trabalho às 8h. Quem aguenta cumprir uma rotina dessas por mais de 30 dias? Nos Centros das grandes cidades brasileiras existem comunidades organizadas que dormem sob as marquises para não ter que fazer o vai e vem diário periferia x centro/zona sul x periferia que consome 6h diariamente das pessoas que necessitam cumprir essas jornadas. Muitas dessas trabalhadoras fazem a opção de "morar" no quartinho de empregada para ter mais "qualidade de vida". Preferem a singularidade do quartinho com banheiro dentro do apartamento dos patrões, onde possuem uma tv, um rádio e uma caminha de solteiro, a se despencarem pelas ruas escuras e perigosas nas noites e madrugadas das periferias. Soma-se a isso o cansaço extremo de ter que viajar por longas horas em transportes coletivos lotados e sem o menor conforto e regularidade. Várias preferem o quartinho pq economizam saúde, dinheiro e não correm riscos. 
Os patrões por outro lado aproveitam a precarização da situação laboral e transformam a jornada de trabalho em um processo laboral continuo, onde a trabalhadora fica responsável pela guarda das crianças para os pais poderem cumprir vida social e até viajar além de utilizá-la quando recebem convidados para seus convescotes noturnos. É uma troca onde um lado utiliza o quartinho como moeda de troca. Usa o quartinho, usa chuveiro elétrico, janta a comida dos patrões, não paga água nem luz para morar no quartinho, que geralmente pertence a um imóvel muito bem localizado, onde a trabalhadora pode sair à noite e dar uma volta no bairro chique, totalmente diferente das perigosas periferias. Há uma hipocrisia por parte dos patrões que chamam essas trabalhadoras de "quase da família". Muitas dessas famílias levam as trabalhadoras para as casas de praia ou de montanha para atenderem a família nos feriados e período de férias escolares. Muitas trabalhadoras gostam de viver assim, outras não. Penso que há que despertar o lugar de fala dessas trabalhadoras e fortalecer a ideia de sindicalização no sindicato da categoria. A lura de classes se faz no dia a dia, na rotina onde as relações sociais acontecem . Os porteiros também têm seus quartinhos. O deles e pior pq geralmente são contíguos ã casa de máquinas dos elevadores, onde não há sol nem qualquer tipo de ventilação, mas pouco se fala disso.
Quanto ao uso do elevador de serviço, existem diversos olhares. O principal é a motivação da segregação que na maioria das vezes não se sustenta muito diante de uma análise mais aprofundada. O elevador de serviço atende a diversas atividades, a mudança é uma delas. Uma mudança em um apartamento de três quartos leva praticamente o dia inteiro. Os elevadores de serviço geralmente vão até a garagem dos veículos e por esse motivo os proprietários geralmente os utilizam pois ali desembarcam de seus carros. São elevadores que transportam entulho de obras, máquinas, ferramentas grandes e recebem entregas do comércio ininterruptamente. Serve para discriminar os trabalhadores? Servem sim, mas também atendem a outras necessidades. 
O debate ficaria bem interessante se focalizassemos também a discussão no porquê daquela mulher negra ser a empregada e a branca a patroa. Que sociedade é essa que gera essas assimetrias sociais tão gritantes? De onde vieram os negros e os brancos? Como vieram ou foram trazidos e com quais propósitos? Por que os negros são pobres? Onde vivem? O que você pensa do racismo?

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

O RAPPER ESTADUNIDENSE KANIE WEST JUNTA A SUÁSTICA COM A CRUZ DE DAVI EM SUA CAMPANHA PRESIDENCIAL

Noam Chomsky diz algo parecido como "que em comunicação quando se quer esconder uma coisa se cria outra coisa". Agora a bola da vez é o negro que gosta do nazismo. Ele talvez nem saiba o que está pregando, pois, as origens do nazismo, nada tem a ver com África e escravidão. O mais perto que a Alemanha passou da África foi a ocupação de partes daquele continente por Von Rommel e a Conferência de Berlim, de triste memória. O nazismo nasce do partido de Hitler, o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
O recrudescimento do nazismo acontece com o ocaso da República de Weimar que deu fim a monarquia alemã em 1919 e terminou em 1933 após a morte do presidente e herói de guerra Von Hindenburg, culminando com a chegada do então Chanceler Afolf Hitler ao poder total. O resultado foi o desastre da Segunda Guerra Mundial com 60 milhões de mortos, sendo que 6 milhões nos campos de extermínio nazista.
Por que o Rapper Kanie West, um negro, utiliza o principal símbolo nazista junto c a estrela de Davi em sua campanha? Vou procurar saber. Infelizmente o genocídio africano da escravidão, do tráfico transatlântico de seres humanos e da colonização forçada daquele continente nunca tenha tido um símbolo. O povo judeu com toda a razão, luta diuturnamente para que o doloroso holocausto judeu nunca seja esquecido. E os africanos que perderam 100 milhões de vidas em todos os eventos citados acima? Somente o Rei Leopoldo da Bélgica é responsável pelo gên*cídi* de 10 milhões de congoleses, sendo que o tráfico transatlântico e a escravidão são responsáveis por estimados 10 milhões de vida e a colonização impôs um massacre que por baixo ceifou 60 milhões de vidas.
Qual a marca desse holocausto? Nenhuma. O racismo não permitiu ao menos um símbolo que representasse uma referência respeitosa pela perda de 100 milhões de vidas, ou seja, a perda de vidas de duas guerras mundiais somadas. Então o político negro junta os principais símbolos dos nazistas e dos judeus como uma mensagem política emblemática e enigmática.
Antes do cancelamento, alguém ouviu o que o cidadão negro tem a dizer sobre isso? É uma situação bizarra e surreal que merece explicação. Situações como esta servem como motivo de apedrejamento imediato dos que não gostem de negros. Não estão apedrejando o negro nonsense e sim todos os negros. No meu entender ele, o rapper, deveria explicar o sacrilégio (se é que tem explicação) que cometeu, para que suas teses fossem ouvidas e a partir daí então combatidas.
No meu entender não deveria entrar na seara alheia sem ser convidado. Certamente nazistas e judeus não colocam em suas agendas o combate ao racismo contra negros como prioridades. 
Aqui no Brasil pude assistir a uma jaboticaba política detestável, quando o então candidato Jair Bolsonaro falando no Clube Hebraica, para judeus, no Rio de Janeiro, fez várias piadas racistas contra o povo negro, tendo a plateia de judeus desabado em risos de cumplicidade. Parecia um grupo de dinossauros rindo de outro grupo de dinossauros, enquanto o meteoro se aproximava.
Não é o cancelamento no Twitter que impedirá a disseminação do nazismo ou do totalitarismo na sociedade. A proliferação se dá pelo apoio que Elon Musk acaba de oferecer a Donald Trump em seu império digital.
Voltando a Noam Chomsky, cancelaram o negro no Twitter que está sendo devidamente apedrejado. Enquanto isso acontece, Donald Trump foi silenciosamente reabilitado nessa mesma rede, por seu novo proprietário, o camarada Elon Musk.

terça-feira, 29 de novembro de 2022

O QUE FAZER COM O BRASIL?

O fascismo e o nazismo, dentro de óticas próprias, criam um modelo, uma visão de sociedade extremada, onde, para se atingir a perfeição enquanto sociedade, há que se destruir um mundo, o mundo vigente, coisas do velho Nietzsche.
O totalitarismo precisa desordenar o estado para implementar força à sua doutrina. O primeiro passo é retirar a credibilidade do ordenamento jurídico vigente, alegando pois, segundo suas convicções, que o sistema jurídico está corroído e contaminado pelo comunismo, tutelando comportamentos sociais indignos, que atentam contra a pátria e a família.
O ideário nazi-fascista necessita da imagem surreal do comunismo para se afirmar como instrumento de defesa da pátria, da família e das instituições. Sem o PT no jogo político brasileiro o nazi-fascismo perde a razão de existir.
A dialética da pátria contra o comunismo permite a construção de uma imagem muito poderosa que é a utilização dos símbolos nacionais em verdadeiros arroubos positivistas. Hitler e Mussolini utilizaram fartamente este recurso. O projeto nazista de Hitler tomou corpo quando em 1933, após a morte do Presidente Von Hindenburg ele que já era o Chanceler, assume a totalidade dos poderes e consegue dar fim à República de Weimar, oficialmente chamada de República Alemã. A partir de então construiu o Terceiro Reich que implantou o projeto extremista e totalitário de poder na Alemanha, que desaguou na Segunda Guerra Mundial, que todos conhecemos por seus milhões de mortos em combate e crueldades inimagináveis com populações civis, como o holocausto do povo judeu de triste memória.
Mas como Hitler conseguiu tamanha façanha que consistiu em construir um estado eivado pela violência e pela tirania a partir de um povo ordeiro e disciplinado.
A Alemanha saiu destroçada da Primeira Guerra Mundial. A Conferência de Versalhes impingiu duros golpes na então frágil economia alemã. Reparações aos países vencedores e perda de territórios, levaram a República de Weimar ao caos. Em 1919 foi sufocada uma rebelião socialista ué entre seus líderes estava Rosa de Luxemburgo. Com a quebra da bolsa em 1929 nos Estados Unidos a situação se agravou mais ainda. A Alemanha entra na década de 30 com uma taxa de desprego de 45%. A situação caótica se tornou um campo fértil para que Hitler utilizasse o discurso patriótico do orgulho alemão e ao mesmo tempo convocava a população a combater a ameaça comunista. Utilizando a disseminação de notícias falsas (fake news) em grande escala, Hitler aproveitou a morte do Presidente Hindenburg, herói de guerra e assume o controle total da nação.
A partir de então outra Alemanha ressurge para espanto do mundo. O projeto de expansão do nazismo torna-se irrefreável, construindo uma máquina de guerra poderosíssima e através do positivismo convocando o povo para a reconstrução da glória alemã perdida desde a Primeira Grande Guerra.
A doutrina do totalitarismo deixou como legado a metodologia a ser utilizada em projetos semelhantes que são o desmonte das instituições democráticas, o descrédito do parlamento e do Judiciário, disseminação de notícias falsas, pregação contra a ameaça comunista e a produção de grandes eventos com exaltação à pátria. Mussolini produzia grandes motoristas para demonstrar poder e popularidade.
A situação do Brasil é deveras preocupante. Toda a metodologia para a implantação do nazi-fascismo foi utilizada com sucesso. O candidato que o projeto apresentou venceu as eleições e assumiu o poder. Durante seu mandato não fez nada que justificasse sua reeleição, trabalhando contra o processo de imunização da população durante a grave pandemia que assolou o mundo. Por sua omissão e leniência o Brasil perdeu mais de 600 mil habitantes.
Ao tentar se reeleger, o presidente recebeu com surpresa a resposta das urnas, que elegeu seu principal desafeto que saiu do cárcere para vencer as eleições. A partir desse momento o país mergulhou na mais profunda escuridão que poderia acometê-lo. O presidente não aceitou o resultado das urnas, convocou as forças armadas para verificar a apuração dos votos, recolheu-se em um mutismo inexplicável e deixou o país mergulhar no caos.
A situação atual é bastante preocupante. Milhares de brasileiros e brasileiras adeptos do presidente derrotado se recusam a deixar as ruas, fecham estradas e acampam defronte aos quartéis pedindo intervenção militar e a retomada do poder. Tudo isso com a mais descarada leniência por parte dos aparelhos de repressão de estado como polícias e forças armadas.
Se a CUT e o MST estivessem fechando rodovias caso houvesse tido uma derrota de Lula, vc acha que o comportamento dos aparelhos de repressão do estado estariam operando com a mesma leniência de agora? Está é uma das faces mais visíveis do facismo no controle do poder estatal.
Enquanto Bolsonaro estiver sentado na cadeira presidencial essas assimetrias jurídicas continuarão ocorrendo. O maior temor que os democratas devem ter e em relação ao tempo necessário para desmontar toda a capilarização fascista que ocupa espaços centrais dentro do estado brasileiro. Talvez sejam necessárias algumas dezenas de anos para por fim, se é que será possível, ao fascismo de estado.

sábado, 12 de novembro de 2022

NUNCA PERDERAM UM JOGO JOGANDO JUNTOS

Começou o debate sobre torcer ou não para a seleção brasileira, antecipadamente denominada bolsominion.
Torci muito para a seleção brasileira qdo era jovem. Faz parte da vida das pessoas em todos os países. Os iranianos são loucos pela seleção de futebol deles, assim como os sauditas, afegãos e senegaleses . Os EUA torciam era o nariz, pois nunca foram bons em esportes onde não utilizam as mãos, agora já se renderam ao soccer, principalmente ao feminino.
América do Sul e África são os grandes celeiros de craques que abastecem o mundo do futebol, apesar de surgir de tempos em tempos na Europa um Cristiano Ronaldo aqui e um Haaland ali. 
Não gosto muito da idéia de Deus na seleção e muito menos a tal família Scolari, família Dunga etc. Nossos craques, em sua grande maioria, saíram do gueto para a fortuna sem passar pelos bancos escolares. Vivem em ambientes suntuosos, cercados por empresários inescrupulosos e gente interesseira. Não entendem bulhufas de política ou economia, muito menos de democracia. A vida deles é jogar bola, ganhar dinheiro, casar com loiras e comprar carrões, mais que isso é impossível exigir deles.
 Como esquecer o Dadá Maravilha dizendo que a problemática só poderia ser resolvida pela "solucionática" ou um que não lembro agora, dizendo: "eu fingi que fui e acabei fondo"! E ainda dirigentes folclóricos como Vicente Matheus, que presidente do Corinthians que chamava os jogadores da Bélgica de "belgicanos". Garrincha quis bater no goleiro Manga da seleção, pois quando ligou o rádio que comprou do goleiro ainda no Chile, constatou que o rádio não falava português! Esse é o futebol que com todas as suas assimetrias ainda é um mosaico que nos encanta. 
Não sei se encontraremos novamente um Dr. Sócrates que criou a inacreditável 'Democracia Corintiana' ou um Afonsinho que se recusava a raspar a barba quando demandado pelo treinador, ou até mesmo um genial e imarcável Tostão (todos médicos). Fui muito feliz e sofri com a seleção quando jovem e quero que meus filhos também sejam felizes com ela. Não consigo abraçar o egoísmo de ter sido feliz e em princípio negar esse direito às crianças que são contagiadas na escola, no condomínio, na escolinha de futebol e por álbuns de figurinhas. Não tenho o direito de impor um "silêncio obsequioso" dentro de casa durante a copa do mundo, até porque não posso e nem conseguiria.
É sempre bom lembrar que a CBF é uma entidade privada e dirigida por presidentes de federações de futebol de todo o Brasil. Dirigentes que convenhamos não valem o que o gato enterra. Os últimos três presidentes foram afastados por corrupção. Um deles vive em Andorra, país com o qual o Brasil não possui tratado de extradição, o outro encontra-se em prisão domiciliar em Nova Iorque e o outro impedido de sair do Brasil. Para quem tenha alguma formação política fica o debate de como definir o povão que sai às 4 da manhã para pegar um trem lotado na periferia, amar a copa do mundo. Pois é, fico com a explicação que esse é o momento de lazer e prazer de juntar a familia, acender a churrasqueira, colocar a cerva no freezer e torcer por uma vitória do Brasil para todos dormirem felizes. Talvez seja o único momento em que ele/ela participem de alguma maneira de um assunto contagiante denominado geopolítica, onde o Brasil tem chance de sair vencedor, humilhar os gringos. Fui aluno do Jornalista comunista João Saldanha, técnico da seleção de 70 nas eliminatórias. Saldanha teve peito para falar com o ditador Garrastazu Médici que se o general escolhia seu ministério ele escolheria os jogadores de sua seleção e recusou convocar Dario por indicação do ditador. Foi defenestrado por isso da seleção e passou o escrete de 70 para o Zagalo ser imortalizado como o técnico tricampeão.u de um tempo que o povo ouvia os jogos da seleção c os ouvidos grudados no rádio onde pontificavam Waldir Amaral, Mario Vianna e Jorge Cury, entre outros, que narravam com ufanismo as humilhações que Pelé e Garrincha impunham aos altivos europeus. Garrincha fazia o Maracanã inteiro vir abaixo com gargalhadas ao desmoralizar seus marcadores com dribles desconcertantes. Eram tempos que depois do jogo os atletas recebiam o "bicho" e iam para a feira livre garantir o almoço de domingo. Os tempos mudaram, os jogadores de hoje são cercados por assessores de estilo, de imprensa, de contratos, usam brincos de diamantes e cobrem o corpo de tatuagens. Se sofrem uma falta rolam como crianças pelo gramado. Nem brigar brigam de verdade, ficam com as testas coladas umas nas outras, com olhares ameaçadores, se xingando, mas nem uma voadora estilo Romário rola, ficam se esfregando tipo "quem cuspir primeiro ganha". A metade do futebol deles ficou pelo caminho por conta dessas demandas estranhas.
Como se diz na roça, em terra de sapo de cócoras com eles. Vou assistir, me perdoem.

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

FORA DA LINHA

Está mais que na hora do futuro Governo Lula debater seriamente com a sociedade e com o parlamento um projeto de expansão da ridícula malha ferroviária brasileira.
Se traçarmos uma comparação entre as malhas ferroviárias de Brasil, China, Índia e Estados Unidos, constataremos que estamos muito aquém do mínimo necessário para nós desenvolvermos de maneira adequada na novíssima conjuntura global.
Dados da União Internacional de Vias Ferroviárias é a instituição que acompanha a situação das ferrovias no mundo. malha ferroviária brasileira possui 28 mil quilômetros de linhas. A da Argentina, que territorialmente é um território anão perto do Brasil, possui 38 mil quilômetros. A Índia possui exatamente o dobro da malha ferroviária brasileira com seus 65 mil quilômetros de ferrovias e a gigante China possui uma malha ferroviária com 130 mil quilômetros quase cinco vezes maior que a do Brasil. Os Estados Unidos está chegando a 300 mil quilômetros de malha ferroviária, simplesmente 10 vezes maior que a nossa, sendo que neste momento acelera o projeto do trem de alta velocidade ou trem-bala, com 30 mil quilômetros de linhas. Os países que mais utilizam o transporte ferroviário como meio de locomoção de seres humanos são Estados Unidos e Rússia.
O que esses países possuem em comum? Desenvolvimento acelerado e transportes de baixo custo e baixo impacto ambiental com a emissão de carbono perto do zero, enquanto que as frotas de caminhão são verdadeiras pragas ambientais e possuem uma péssima relação do custo por quilômetro.
É inexplicável a leniência dos governos que passam pelo Palácio do Planalto e não tomam a decisão de implantar um parque ferroviário moderno e eficiente. Não é possível que um país com 8 mil quilômetros de litoral não possua um trem de alta velocidade que percorra o país de norte a sul pelo litoral com ramais se interligando com as capitais.
O transporte de carga em um país de dimensões continentais como o nosso não pode ficar à mercê do transporte rodoviário que é antieconômico, perigoso, ambientalmente condenável e servindo de trunfo nas negociações com o governo. No Brasil bastam os caminhoneiros cruzarem os braços por uma semana para o desabastecimento de alimentos começar a gerar crises aqui e acolá.
A chantagem que os caminhoneiros submetem ao governo federal só terá fim com o investimento pesado em ferrovias que poderão solucionar nosso problema crônico de logística, enquanto que ao mesmo tempo livra a administração pública das ameaças das mega frotas de caminhões, que realmente controlam o transporte no país. Aquela imagem romântica do caminhoneiro desbravando as estradas do país, como um quixote contemporâneo é pura fantasia. Hoje os veículos são propriedades das grandes frotas que se uniram na Confederação Nacional dos Transportes – CNT. Cerca de 82% dos caminhões que trafegam em estradas brasileiras são propriedade das grandes frotas e somente 18% são profissionais autônomos, donos dos próprios veículos.
O Brasil segue sua sina de continuar sendo gerido por esses gigolôs da economia nacional, que travam qualquer possibilidade de mudança na matriz logística de deslocamento de pessoas e cargas. Ao agir dessa maneira, estão impedindo o país de ser desenvolvido e isso é crime de mesa pátria.
Vamos torcer e cobrar ao novo governo que se inicia em 2023 para que elabore um estudo sério sobre a possibilidade de ampliação da nossa combalida malha ferroviária.

O TESTE DA DEMOCRACIA BRASILEIRA

Estamos assistindo no Brasil a um festival de situações surreais. Após o encerramento do certame eleitoral de 2022, a população elegeu o Presidente da República que assumirá a partir de Janeiro de 2023 a faixa presidencial.
Como o Brasil é o país dos absurdos políticos, há uma massa de pessoas inconformadas com o resultado da eleição e se negam a aceitá-lo. Para isso estão promovendo inúmeros bloqueios nas estradas do país.
Estamos assistindo ao surgimento do novo movimento fascista brasileiro, travestido pela denominação de bolsonarismo. É um conjunto de ideologias onde a derrota eleitoral não faz parte do ideário. Não interessa se o pleito foi acompanhado por observadores internacionais e seu resultado referendado por todas as instituições nacionais e internacionais.
Após a proclamação do resultado, os principais lideres mundiais ligaram para o presidente eleito desejando sucesso e oferecendo possibilidades de parcerias nos mais diversos setores.
O primeiro sinal positivo com a eleição de Lula foi o anúncio pela Noruega do Fundo da Amazônia que estava congelado desde a eleição de Jair Bolsonaro, que abriu aquele bioma à exploração indiscriminada de madeireiros e garimpeiros.
Os eleitores da candidatura derrotada não têm compreensão que em um ambiente democrático há alternância de poder. O novo governo que está sendo montado tomará posse em janeiro e a vida no país vai seguir em frente, como determina a lei.
A democracia prevê alternância de poder e as sucessivas eleições tem o poder de fortalecer cada vez mais o processo democrático. O inimaginável é assistir a massa que defende o fascismo, enrustido em nacionalismo cristão, gerando manifestações que pedem a intervenção militar e o impedimento da posse do novo presidente eleito, respeitando o resultado da eleição.
Os militares que estão no comando não vão embarcar na loucura coletiva que tomou conta da cidadela bolsonarista. As pessoas se ajoelham e choram envolvidas na bandeira nacional como em êxtase, em um transe às vezes até assustador.
A solidez das instituições brasileiras não permite qualquer tipo de aventura golpista em relação ao resultado das eleições. O reconhecimento do resultado das eleições brasileira de 2022 pelos EUA, China, Rússia, França e Inglaterra, não permite espaço para aventuras de repúblicas bananeiras
Todo esse imbróglio foi um belíssimo teste para a solidez da democracia brasileira. Apesar da leniência do governo em relação ao tumulto causado pelas manifestações, o Brasil juntamente com suas instituições sairão mais fortalecidos para bem da democracia.

terça-feira, 1 de novembro de 2022

ENFIM A DIREITA BRASILEIRA


Uma data e um acontecimento digno de reflexão. Hoje no primeiro dia do mês de novembro do ano de 2022, foi lançada oficialmente e de maneira orgânica, pelo Presidente da República, a direita militante no Brasil. O discurso de Bolsonaro que de acordo com o protocolo deveria reconhecer a derrota e desejar boa sorte ao presidente eleito,  vinculou os 58 milhões de votos que recebeu ao surgimento de uma nova ordem militante, e ainda não doutrinária, que surgiu com toda força no país. O Brasil nunca mais será o mesmo.
Ainda não é uma doutrina. É apenas um lampejo de ideologia, que contém o conteúdo necessário para de tornar uma doutrina: imanência divina, patriotismo exacerbado e culto à família. A partir de então surgirão os intelectuais que desenvolverão a almejada doutrina.
Uma doutrina necessita de organização metodológica, disciplina e formação intelectual, através de teses científicas e ideário, onde o pensamento conservador será o motor principal das obras elencadas. Toda essa construção irá desaguar em uma organização partidária orgânica e em milhares de organizações da sociedade civil que aglutinarão a militância de base em todos os municípios do Brasil.
Esses milhões de invisíveis se tornarão concretos como lideranças locais da direita, de onde surgirão os vereadores, prefeitos, deputados e senadores do futuro. Ainda bem que Bolsonaro em sua tosca intelectualidade, não tentou ou nao conseguiu erigir uma doutrina. Tentou um partido político o Aliança Pelo Brasil, mas não logrou êxito devido a ausência de organicidade. Elegeu vários parlamentares pela força do governo e surfando na onda antipetista que persiste, e não por qualquer tipo de doutrina. Parece que a derrota doída fez Bolsonaro descer do pedestal de onde governava, fazendo-o entender que precisa parar com as fanfarronices para fazer esta laboriosa construção.
Bolsonaro dará um grande salto em sua carreira política pois, para realizar esta construção terá que abandonar sua faceta miliciana, canalha e arrogante.
Resta saber se aquela massa de cabelos grisalhos com camisetas verde e amarela terão vontade e disciplina militante para participar da construção do ideário conservador.

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A VITÓRIA DE LULA NO REINO DE NÁRNIA

A eleição presidencial de 2022 pode ser tranquilamente chamada de “a eleição do fim do mundo”. Nunca antes na história desse país houve uma eleição tão eletrizante, tão indefinida até o último minuto como esta.
Eleito com uma margem apertada de voto, o presidente Lula terá um imenso trabalho político a fazer pela frente. A tarefa de colocar o país nos trilhos, de volta a democracia, passará pelos seguintes óbices: Congresso Nacional; Comunidade Evangélica; Agronegócio; Centrão; Forças Armadas; Polícias e o empresariado nacional.
Lula é bom de conversa, sempre foi. Vai ter que convencer esses setores que lhe são hostis, que seu governo será de conciliação nacional. Quando se fala em conciliação nacional obviamente que há um aceno na direção desses setores.
O país está dividido e devastado. Dividido por conta da politicagem excludente de um governo Bolsonaro combalido por suas políticas equivocadas, que levaram o país à bancarrota. Ao mesmo tempo dividido por força da política de guerrilha do governo, que utilizando métodos de comunicação inspirados no departamento de propaganda do Terceiro Reich de Hitler, que para destruir a Republica6de Weimar e implantar o poder totalitário na Alemanha, assustava a população com a ameaça comunista, enquanto que estimulava o nacionalismo alemão, com a utilização exacerbada do positivismo com viés antidemocrático e beligerante.
Bolsonaro utilizou aqui as mesmas estratégias de Goebbels, o ministro da propaganda de Hitler, que criava notícias falsas que eram reproduzidas para a população através de tablóides, cartazes, rádios e todas as formas de comunicação possíveis. Eram as atuais fake news, usadas largamente pelo sistema de comunicação do governo Bolsonaro.
A principal fake news que causou enorme repulsa pelo candidato petista foi a disseminação da informação que Lula era um presidiário condenado em três instâncias e solto pelo STF para tirar o governo de Bolsonaro e entregá-lo a grupo de ladrões.
Em nenhum momento, a campanha Bolsonaro esclareceu a população que Lula teve seus processos extintos, devido à parcialidade do juiz Sérgio Moro, que foi declarado parcial pelo plenário do STF, extinguindo assim seus processos e suas condenações que não deveriam nem mesmo ter existido. Quando Lula foi condenado a 9 anos de prisão por Sérgio Moro e teve a pena aumentada para 12 anos pela segunda instância, possuía 35% das intenções de voto e Bolsonaro apenas 16,%.
Sergio Moro retirou Lula da disputa presidencial, tecnicamente já vencida por Lula, recebendo como contrapartida de Bolsonaro eleito o Ministério da Justiça. Sergio Moro vazou para o Jornal Nacional uma confissão falsa de José Palloci, então ex ministro de Lula, confissão que caiu como uma bomba nas hostes petistas, gerando repulsa em todos os setores da população. Ao entregar o documento da falsa confissão ao Jornal Nacional, Sérgio Moto deixou definitivamente duas digitais no golpe que estava em curso. As bases bolsonaristas utilizaram a informação à exaustão, e ainda usam até os dias de hoje, mesmo sabendo da decretação de parcialidade do Juiz Sérgio Moro pelo STF.
NÁRNIA
A ministra Damares Silva fez uma denúncia em horário eleitoral de que no Amapá estavam extraindo dentes de bebês com a finalidade de facilitar a prática de sexo oral com os bebês. Além de ser inverossímil e repugnante, a mente doentia dessa mulher a fez propagar a mentira por meses a fio.
Dando prosseguimento ao processo de alucinação coletiva, dentro do escopo do que nomearam como “ideologia de gênero”. Passaram a disseminar a ideia hedionda de que os banheiros no Brasil não seriam mais divididos e que inclusive nas escolas os gêneros masculinos e femininos utilizariam conjuntamente a mesma dependência sanitária.
A maior aberração política porém foi terem investido na apartação do povo brasileiro. No ataque sistemático à democracia, desrespeitando as instituições, principalmente o Judiciário.
O ataque sistemático ao bioma amazônico foi de uma agressividade avassaladora, causando a elevação criminosa do desmatamento, do garimpo ilegal e do assassinato de defensores da natureza.
O mundo de Nárnia que Bolsonaro criou não se sustentou diante do furor popular democrático que despertou para barrar o avanço do fascismo e de um governo pautado pelo totalitarismo e pela violência.
A aprovação do projeto que flexibilizou a aquisição de armas de fogo pela população foi a gota d’água para a detonação da violência armada no país, com ênfase para o surto psicótico de Roberto Jefferson atacando a Polícia Federal e a Deputada Carla Zambelli correndo pelas ruas de São Paulo de arma em punho intimidando cidadãos. O assassinato do dirigente petista no Sul do país por um fanático bolsonarista foi o sinal de que se esse governo fosse reeleito, certamente fomentaria uma guerra civil no país.
Nunca um governo na história do Brasil utilizou tanto, descaradamente, despudoradamente a máquina pública na tentativa de reeleger o Presidente da República. A própria Polícia Rodoviária Federal tentou através de centenas de operações no nordeste que o povo fosse impedido de votar. Foi um crime perpetrado pelo próprio estado brasileiro às escancarado, visando impedir o sagrado direito do voto por parte da população.
A grande tarefa de Lula será desmontar o reino de Nárnia e reconstruir o Brasil real, democrático, laico e cidadão. Que os ares democráticos que bafejam a grande e expressiva vitória de Lula carreguem para bem longe os ares plúmbeos e soturnos do totalitarismo e do fascismo.
Uma belíssima vitória da democracia brasileira

domingo, 30 de outubro de 2022

A CADELA DO FASCISMO E O VOTO DO MEDO

Bertold Brecht disse que a cadela do fascismo está sempre no cio. Quis dizer com isso que a opressão, a intolerância e por conseguinte o totalitarismo, não dormem nunca e estão sempre à espreita, construindo novas possibilidades de adensamento e prospecção de poder.

Está é a primeira eleição que participo onde constato que o medo é o principal ingrediente do certame. O que antes era uma grande festa cívica, transformou-se em um imenso movimento opressor, um big brother maléfico, onde o cidadão ou cidadã que não estiver de acordo c o modelito positivistas, com vestimentas nas mesmas cores da bandeira nacional, exaltando os símbolos pátrios e preferencialmente ouvindo o hino nacional é um potencial inimigo da nação e portanto, dependendo da avaliação do contexto, pode até ser eliminado.

Pela primeira vez vejo as ruas silenciosas. A cadela do fascismo ronda as avenidas. Uma deputada sacando arma de fogo aqui contra  homem negro,  homem atirando granadas e disparando cinquenta tiros de fuzil contra uma guarnição da polícia federal ali e a segurança de um candidato a governador de São Paulo matando um inocente desarmado acolá.

A política governamental de flexibilização da aquisição de armas de fogo transformou o país em  verdadeiro faroeste caboclo. Faroeste de um lado só, pois a imensa maioria da população, que mal consegue comer, nunca irá comprar uma arma de fogo cujos valores são proibitivos aos cidadãos comuns.

O povo pobre agora vive sendo acossado por essa corja doentia que resolveu sair às ruas atirando ao seu Bel prazer em quem considere suspeito ou então por qualquer tipo de altercação.

São tempos sombrios e difusos, onde tememos sair às ruas utilizando uma camiseta com minha preferência política, pois posso ser assassinado. Também não posso me manifestar sobre minha opção pelos direitos humanos ou pelo apoio ao movimento LGBTQIAP+.

É lamentável reconhecer que estamos amedrontados e amedrontadas. A cadela do fascismo nós espreita em cada esquina, em cada gesto e nas mais inimagináveis situações cotidianas. Estamos perdendo o Brasil da alegria, da gozação, da liberdade de credo, da liberdade de manifestação, da liberdade de amar.

Assim Hitler levantou a Alemanha após a República de Weimar, período que encerrou a monarquia e iniciou o período de democracia parlamentarista, entre os anos de 1919 até 1933 quando a propaganda nazista passou a questionar as origens e a eficácia da República Alemã, com o crescimento do movimento socialista. A burguesia do país passou a apoiar as ideias totalitárias no nazismo, fortalecendo Hitler com sua ideologias totalitária e de segregação. A máquina de propaganda nazista passou a explorar a ingenuidade do povo alemão alertando contra a “ameaça comunista” e exaltando o nacionalismo exacerbado, vigiando cotidianamente todos os passos de seus cidadãos. Deu no que deu e o resultado foram milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, com destaque para o  grande holocausto judeu, onde o nazismo ceifou 6 milhões de vidas em seus campos de extermínio.

Qualquer semelhança com o que está acontecendo no Brasil é pura realidade.

 

 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

ATIROU NA POLÍCIA E SAIU ESCOLTADO

ROBERTO JEFERSON FOI TRATADO COMO ESTADISTA DEPOIS DE DISPARAR 50 TIROS DE FUZIL E LANÇAR 3 GRANADAS NA POLICIA FEDERAL FERINDO DOIS AGENTES
A população brasileira assiste embasbacada o novo escândalo, entre tantos outros, que tomou conta do país. Nunca na história desse país a lei foi tão conspurcada como agora.
O evento foi iniciado com o condenado bolsonarista Roberto Jefferson, cumprindo prisão domiciliar, postando um vídeo onde chama a Ministra Carmem Lucia do STF de “pro#titu#a” e “arro#bada”. O Ministro Alexandre de Moraes, ao tomar conhecimento do conteúdo do vídeo, decretou o imediato retorno do bolsonarista ao sistema prisional para cumprir o resto da sentença em sistema fechado. A Polícia Federal recebeu a ordem de cumprimento do mandado de busca e prisão, rumando para o bucólico município de Levy Gasparian na serra fluminense.
Ao chegar a mansão do bolsonarista, o grupo foi recebido a tiros de fuzil e lançamento de granadas por parte de Roberto Jefferson, que gravou todo o acontecimento, como prova de sua “valentia”, segundo ele, “digna de um combatente da “liberdade”.
O ataque tresloucado de Jefferson ao grupo da Polícia Federal resultou em dois policiais feridos, entre eles uma policial mulher de 31 anos e um delegado, além da destruição parcial da viatura por conta dos tiros de fuzil e da detonação das granadas.
Não houve troca de tiros e sim um atentado a vida de uma equipe policial que estava cumprindo seu dever. O nome desse atentado se chama “tentativa de homicídio”.
Quando a polícia usualmente mata um cidadão que atira na equipe policial, o fato é registrado como “resistência à prisão” ou nomenclatura semelhante. No caso do bolsonarista, a equipe policial foi surpreendida pelo terrorista que certamente já estava aguardando a guarnição através do vazamento privilegiado da operação.
Atualmente o Brasil vive de pão e circo no âmbito da política. A equipe da Polícia Federal deve ter sido instruída a não revidar, pois meliante é frequentador assíduo do Palácio do Planalto e participa ativamente das tentativas de desconstrução da institucionalizado brasileira, com foco na Suprema Corte, único órgão de Estado que o atual presidente da república não controla.
O ataque a equipe da Polícia Federal ganhou o noticiário nacional e a partir de então adquiriu os contornos de ópera bufa. Entrincheirado em sua mansão, o bolsonarista armado com mais de 15 fuzis de guerra não teve o mesmo tratamento por parte da polícia que é dedicado aos cidadãos comuns que resistem a prisão.
A Ópera Bufa
O espetáculo midiático do Álamo Brasileiro estava montado. Com a mansão cercada por dezenas de policiais de elite, a invasão certamente seria iminente. Mas qual o quê. O Presidente da República entrou em ação para defender seu cupincha, passando por cima de todos os cânones institucionais, ao determinar que o Ministro da Justiça se deslocasse de Brasília para Levy Gasparian para acompanhar as negociações da rendição do marginal.
Não bastasse o arranhão na institucionalidade, que paralisou a operação da briosa PF, chegam à residência, agora já bunker, do terrorista, o condenado e anistiado pelo presidente Bolsonaro, Alexandre Silveira e o padre de festa junina, que se tornou motivo de pilhéria no último debate televisivo com os candidatos à presidência.
Imobilizada pelo presidente da república, a Polícia Federal com dois dos seus agentes feridos no hospital, rangia os dentes com a passividade com que o grave atentado era tratado. Finalmente, após horas de firulas institucionais e uma pequena procissão destacando a chegada do padre ao vivo e a cores, o celerado Roberto Jefferson decidiu se entregar para que fosse cumprido o mandado de prisão.
Casa Grande e Senzala
Quando a Policia Federal recebe um mandado de busca e apreensão e prisão, revida imediatamente quando atacada. Geralmente as baixas são sempre do lado agressor, pois, como unidade de elite federal, porta o que há de mais moderno no que concerne a equipamentos voltados para o combate a criminalidade.
Mesmo com todo o aparato bélico à sua disposição, a PF foi impedida de revidar ao ataque, apesar de ter tido uma viatura semi destruída e dois policiais feridos no hospital.
As cenas do conversatório entre o negociador da Polícia Federal e o terrorista Roberto Jefferson parecia o clima típico de uma roda de samba com churrasco em vez de um confronto com um marginal que atacou a equipe policial que estava cumprindo sua missão. Na conversa todos participavam de maneira afável, tranquilos, como se nada tivesse acontecido e que nada de mais iria acontecer. O destaque mais negativo da resenha foi o policial federal sorrindo amavelmente para Jefferson, se desculpando pela equipe que foi cumprir o mandado pois os mesmos eram “administrativos” e não operacionais. A senzala quando lida com a casa grande fica tão deslumbrada que troca as bolas ao falar das competências necessárias e operacionais.
Como a operação foi previamente vazada, por agentes policiais ou por gente do STF, certamente bolsonaristas, ou até pelo Palácio do Planalto, foi enviada uma equipe de baixa letalidade, do pessoal administrativo. Tanto foi assim que dois agentes saíram feridos na operação com acionamento de armas por por parte de um idoso acometido de câncer e com nítidos problemas psicossomáticos. Era para acontecer assim, como aconteceu. Não foi enviada a equipe operacional ‘casca grossa’, pois se assim fosse, o bolsonarista estaria no colo do capiroto há tempos.
Roberto Jefferson foi conduzido a Superintendência de Polícia Federal no Centro do Rio como se fosse uma celebridade. Tornou-se mártir nas hostes bolsonaristas, elevado à categoria de mártir da liberdade.
Esse é o Brasil que decidiu escolher o atual presidente da república no esgoto do Congresso Nacional, em vez de um professor da USP, humanista e ex-prefeito da cidade de São Paulo com louvor.

sábado, 22 de outubro de 2022

Bolsonaros e Dinossauros

O projeto colonial e hereditário da Educação no Brasil, privilegia uma pequena casta burguesa, que tem acesso as melhores instituições de ensino que possuímos, (salvando raríssimas exceções), e por esse motivo, até por gravidade, acessa todos os espaços de poder disponíveis no país, deixando para o restante da população fome, pobreza e miséria. Consequentemente, por malandragem e por autopreservação, reproduzem sistematicamente o mesmo ovo da serpente que os gerou, alimentando a desigualdade sócio econômica e a ignorância cívica, que os mantêm felizes e bem providos em seus modos de vida.
Enquanto esse projeto criminoso persistir, nossa nação estará miseravelmente entregue à escroquia dos líderes religiosos, dos políticos corruptos vendilhões das nossas riquezas e de nossa soberania, dos empresários corruptores e golpistas, do judiciário de punhos de renda, do sistema de educação carcomido, excludente e ineficiente, dos militares que somente se preocupam com seus privilégios e para mantê-los assumem posturas golpistas, da universidade pública maltratada por aqueles que não reconhecem a importância dos centros de produção de saber e inteligência, das polícias que só enxergam a perversão e o crime na população negra e, enfim, de um falso positivismo que na verdade é a mais clara demonstração de um fascismo cruel e desumano. A falta de esperanças, sim, de esperanças, transforma boas pessoas em fascistas e as mesmas ao menos o sabem que são. Não entendem que estão impulsionando um meteoro mortal, sendo que também não sabem, que são neodinossauros.

segunda-feira, 17 de outubro de 2022

PROSTITUIÇÃO INFANTIL, CORRUPÇÃO E CANIBALISMO - O VERGONHOSO DEBATE ELEITORAL BRASILEIRO

Os debates da campanha eleitoral realmente estão de lascar. Os candidatos promovendo as mais diversas acusações como pedofilia, corrupção, banheiros unissex, aborto, assassinatos, e pasmem, fechamentos de igrejas e canibalismo.
Pobre Brasil, um país que necessita cumprir uma longa e espinhosa caminhada rumo ao desenvolvimento, quando tem a oportunidade de debater seus temas mais cruciais com a população, promove um show de horrores, onde o pérfido e a sordidez humana servem como pano de fundo para alavancar uma candidatura nitidamente fascista no certame eleitoral.
Sempre me preparo para assistir aos debates ansiando ver e ouvir explanações acerca das estratégias que utilizaremos nos próximos anos, para que o país de torne uma nação desenvolvida ou então menos áspera aos cotidianos de seus cidadãos, principalmente os mais vulneráveis.
Fico interrogando meus botões sobre quando adotaremos o transporte ferroviário de alta performance como matriz de transporte nas viagens em nosso país, torrão de dimensões continentais. É inadmissível que fiquemos reféns da categoria de caminhoneiros e do transporte rodoviário, de alto custo por km e extremamente prejudicial ao meio ambiente. Sonho com um trem bala que percorra todo o litoral brasileiro, do Rio Grande do Sul até o Amapá. A viagem seria espetacular, passando por paragens aprazíveis como Torres, Florianópolis, Ubatuba, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Cabo Frio, Búzios, Vitória, São Mateus, Caravelas, Porto Seguro, Salvador, Recife, Natal, João Pessoa, Fortaleza, São Luís e assim por diante, até chegar no topo do Brasil. Seria uma Transiberiana tropical, ensolarada, a Transbrasileira.
Um projeto como esse seria um grande impulsor no desenvolvimento do turismo e da geração de empregos em todo o país. Poderia ser realizado pela iniciativa privada através de concessões e parcerias em seus diversos trechos.
Nos debates sinto falta de uma proposta séria e concreta para a Educação, como por exemplo, a possível federalização do ensino em todos os segmentos, a construção de Institutos Federais e Universidades Públicas em todo o território nacional, valorização dos profissionais da Educação, além da revisão dos currículos escolares, tanto das escolas civis como das militares.
Não consigo entender porque os candidatos não apresentam propostas para solucionar o problema da saúde pública no país, com a construção de hospitais de referência bem equipados, valorização dos profissional da Saúde e investir na modernização dos currículos dos cursos de formação dos profissionais de saúde, investir pesadamente na atenção primária, conjugado com um programa de saneamento básico universalizado.
Na questão urbana, parece impossível surgir uma proposta que transforme as favelas em bairros modelos, planejados de acordo com a arquitetura inclusiva e amigável, com toda a infraestrutura necessária para que seus moradores pudessem viver com dignidade.
Sinto falta de programas de apoio ao empreendedorismo, ao movimento de Economia Solidária e Economia Criativa, assim como preparação de jovens para o mercado de trabalho através dos Institutos Federais e universidades.
A política voltada para o meio ambiente é uma tragédia a olhos vistos e motivo de vergonha internacional. Um país tropical como o nosso, desperdiça de maneira amadora a oportunidade de se tornar referência em plantas de geração das energias solar e eólica. Apesar de utilizarmos a matriz hidroelétrica que é bastante limpa, seus custos na ponta tornam-se pesados para a população devido aos altos impostos que sustentam uma máquina governamental pesada e ineficiente. A atuação governamental na Amazônia é de chorar, onde o garimpo ilegal, a extração clandestina de madeira e o avanço da pecuária intensiva causam um dano irreparável no bioma, causando indignação internacional.
O país só irá avançar se o esforço na Educação compreender um forte investimento em Ciência e Tecnologia, com produção em massa de patentes e soluções tecnológicas para o nosso desenvolvimento.
Existem várias âncoras que impedem que o Brasil caminhe na direção do desenvolvimento. Essas citadas acima são algumas poucas. Porém, nenhuma delas se tornará factível se o país continuar a despender 50% do nosso PIB com os serviços da dívida, que somam cerca de 2 trilhões de reais por ano. Essa quantia repassada à banca internacional, nos remete a figura do doente transfundindo sangue para o saudável.
Realizar uma auditoria cidadã na dívida externa seria um passo importante para a solução do problema da carência de recursos no orçamento público para os investimentos necessários para retirarmos o país do atoleiro que se encontra há centenas de anos.
Debater o orçamento público é desnudar os desmandos estruturais da nação. A elite brasileira permite tudo, desde que não mexam em seus privilégios e nem alterem a estrutura do capitalismo nacional. Talvez seja por isso que os debates em torno das propostas para a presidência da república fiquem restritos a sexo, crimes, pedofilia e canibalismo. O pão e o circo ficam garantidos enquanto o capital internacional ri da nossa incompetência cafona.

quarta-feira, 12 de outubro de 2022

DINOSSAUROS QUE AMAM O METEORO

O candidato Bolsonaro auferiu uma votação espetacular no primeiro turno das eleições de 2022. A decantada vitória de Lula no primeiro turno não aconteceu, jogando uma ducha de água fria na militância petista.
Bolsonaro venceu Lula no Sudeste, região onde se concentra a massa do operariado nacional, além de compreender as áreas de grande vulnerabilidade urbana com as maiores áreas de favela da América Latina.
Bolsonaro disse na TV que seus filhos foram muito bem educados, por este motivo jamais se casariam com uma mulher negra. Mesmo assim a população negra votou em Bolsonaro.
Em seu governo o salário mínimo não teve aumento real. Mesmo assim os trabalhadores votaram em Bolsonaro.
Bolsonaro não construiu uma universidade pública ou Instituto Federal sequer. Mesmo assim professores e estudantes votaram nele
Bolsonaro disse que mulheres deveriam receber salários menores que os dos homens e que sua única filha foi uma “fraquejada” que teve na cama com sua mulher. Disse ainda para uma congressista que não a estuprava porque ela era feia demais. Mesmo assim recebeu votos em profusão das mulheres.
Bolsonaro casou quatro vezes tendo quatro filhos com mulheres diferentes, além de dizer que utilizava o imóvel funcional de deputado para “comer gente”. Mesmo assim recebeu uma expressiva votação por defender a família.
Em reunião ministerial gravada em vídeo, seu principal ministro afirmou que a granada tinha sido colocada no bolso do funcionalismo público sem que o mesmo percebesse. E aí estão os servidores públicos do Executivo sem qualquer tipo de correção em seus salários há mais de quatro anos. Mesmo assim os servidores públicos votaram em Bolsonaro.
Bolsonaro se comportou de maneira ineficiente e desrespeitosa durante a pandemia da Covid19, postura essa que causou a perda de 700 mil vidas de brasileiros. Mas muitos dos que se salvaram da tragédia votaram em Bolsonaro.
Poderia elencar aqui dezenas de motivos para não se votar em Bolsonaro e descobrir que muitas das pessoas que mais foram afetadas por esses motivos também votaram em Bolsonaro.
Enfim, há um voto inexplicável e misterioso em Bolsonaro. Parece a estranha Síndrome de Estocolmo, onde o sequestrado se sente ligado ao sequestrador. Os cientistas políticos certamente se debruçarão sobre os indicadores desta eleição para procurar entender porque parte dos dinossauros escolheram o meteoro.

sábado, 8 de outubro de 2022

A DITADURA ESTÁ CHEGANDO

A ausência proposital de politização da sociedade por parte das instituições está levando o país para o fundo de um abismo bastante escuro e assustador.

A população brasileira é conservadora, como a maioria dos povos onde o cristianismo é a representação religiosa predominante. Aqui falo de cristianismo e não de catolicismo.

O Brasil está correndo grande risco institucional por parte de políticos da extrema-direita que pretendem assumir o controle político do Supremo Tribunal Federal – STF. De acordo com a constituição federal, a suprema corte pode sofrer sanções por parte do Senado da República. Os senadores podem junto com o Congresso Nacional, alterar as regras de acesso e tempo de mandato dos juízes da suprema corte, por exemplo.

O governo Bolsonaro constituiu nas últimas eleições a almejada maioria no Senado da República. Com a nova configuração o governo pode alterar as regras do jogo, aumentando o número de ministros do STF de 11 para 15 magistrados, podendo assim comandar o país de maneira autocrática, sonho supremo do presidente Bolsonaro.

Caso vença o próximo certame eleitoral, Bolsonaro poderá indicar mais dois ministros que se aposentarão pela cláusula de idade que são Rosa Weber e Lewandowski, ambos em 2023. Bolsonaro já possui dois votos garantidos no Supremo por conta das indicações de Kassio Nunes Marques e André Mendonça, o terrivelmente evangélico. Com as duas aposentadorias de 2023, caso eleito, indicará mais dois ministros, que totalizarão quatro votos em um plenário de 11 votos. Com a ampliação para 15 ministros, Bolsonaro passará a ter oito ministros em 15, ou seja, a sonhada maioria do Supremo.

Bolsonaro controla com folga a Procuradoria Geral da República – PGR, que vergonhosamente, através do seu Procurador Geral Augusto Aras, atua mais como Advogacia Geral da União – AGU, que defende o governo, do que como Ministério Público, que como missão precípua, deveria defender os interesses da população. O Procurador Geral ambiciona uma das futuras vagas que serão abertas no STF e por esse motivo trabalha incansavelmente para atender aos interesses de Jair Bolsonaro, deixando a sociedade à mercê dos planos políticos do atual presidente e sua ‘entourage' de extrema direita.

Bolsonaro aliou-se ao Centrão, grupo político parlamentar fisiológico, criado durante os trabalhos da Constituinte de 1988, com o intuito de negociar politicamente as demandas apresentadas ao Congresso Nacional. Bolsonaro se tornou refém desse grupo ao correr o risco de sofrer impeachment durante a pandemia de COVID-19. Com os votos do Centrão ele se livrou da ameaça, mas caiu definitivamente nos braços gulosos do grupo que em sua saciedade infinita pariu a excrescência política denominada Orçamento Secreto, que talvez lhe garanta a reeleição através da compra de votos da base eleitoral do Centrão.

Resumindo, Bolsonaro que controla o Congresso Nacional, a PGR e as Forças Armadas, agora caminha para controlar o STF, última barreira que possibilitará a super concentração de poderes com a consequente instalação do estado de exceção no país, que significará a perda de direitos e o fim da democracia.

O Brasil está correndo grave risco de perda da institucionalidade democrática. Enquanto o povo digladia-se entre acusações de banheiros unissex de um lado e rachadinhas do outro, o golpe do autoritarismo caminha silenciosamente de acordo com seu planejamento.

A adesão à candidatura de Lula de nomes como Fernando Henrique, Aloysio Ferreira, José Serra, Pérsio Árida, Pedro Makan, Helena Landau, Simone Tebet, Ciro Gomes, o CEO da Natura e parte do PIB nacional, não significa rendição ao projeto petista e sim um ato desesperado de salvação nacional, de salvação da democracia. São os divergentes se unindo para combater os antagônicos.

Não sabemos se haverá tempo de salvar o país do obscurantismo. Porém, fica a lição de que o povo necessita de informação política, de pensar corretamente sobre os destinos da nação, de compreender a necessidade da laicidade do Estado.

Que no próximo dia 30 os eleitores brasileiros sejam iluminados pelos deuses da sabedoria e depositem nas urnas os votos da esperança e do amor.